31 de dezembro de 2006

Ano Novo e isso


Josh Ritter - Girl in the war

Maria Pernilla deseja... não, exige que o ano que já por aí está prontinho para entrar em cena seja feito de amanheceres que cantam e tocam viola (com ou sem corda). Estes votos estendem-se ao comprido a todos os membros postantes - sejam eles uma-vez-por-outra ou intempestivos -, aos comentadores - os compulsivos e os ocasionais -, não esquecendo aqueles que, não comentando, nos agraciam com a sua espreitadela (you like to watch, don`t you?).

Aliás, consultei hoje mesmo o Pernilláculo (o oráculo da Pernilla), e estou em condições de desejar-vos uma sucessão de bons anos até 2019. Depois dessa data voltaremos a falar.

Para dois mil e sete, o meu desejo aqui confessado é de poder contar com a verdadeira Maria Pernilla nas até agora exclusivamente masculinas fileiras de... Maria Pernilla. Ela já deu o primeiro passo: foi a autora deste post, mas ainda está renitente em expôr-se perante tão vasta e atenta plateia. Encorajemo-la a dar esse passo! Para tal, podemos desde já assinar uma petição para esse fim. Basta clicar em http://www.petitiononline.com/pernilla.html
Eu já assinei! Contribuam para esta causa!

Bons anos, sempre a pernillar!

29 de dezembro de 2006

Oito, aos Vinte e Nove do Doze de Dois Mil e Seis

Oito
era o teu número
Indivizível por três
esse número tão perfeito

Noves fora
tudo é possível
de equacionar
Matemática dos sentidos

Treze
o primo entre pares
Subtrair a louvaminhação
supersticiosa

Sessenta e Nove
extremos que se tocam
Multiplicar afectos
e carícias

Cem
Secular existência
de comemorações
na soma das memórias

Mil
Transportar os anseios
na penumbra
das divisões sociais

Números!
Comemorações!
Hoje, nada pode ser
igual a ontem.

27 de dezembro de 2006

Sem Título (Óleo sobre Tela 36x48cm)

Inferno da minha alma sou,
perspicaz morrer de novo.

Quero nascer para a morte,
para na vida ser
um espectro nauseabundo
e interminável.

Natural, Sem Reservas!

Novas Babilónias.
Suadas e irreverentes
mentes conspurcadas

O ócio dos desejos
O capital anseio de ternura

Paisagens de alucinar!
Quero naufragar nas
pateiras mais inóspitas
nos socalcos vivos
fedendo a uva,
quero ser um paúl
na tua vida
uma zona húmida,
preservada

As reservas naturais
do teu corpo, as
opíparas artérias
do teu ventre
sublime,
resgatado
na maresia inquieta
do meu vagar

Profundas convalescenças
do sentir, a febril insónia
dos movimentos

Pureza, aridez do calcorrear
das paisagens

Nunca me perco!
Sou um experimentado
viajante de montes e vales,
sou o cavaleiro do após Eclipse,
o ciclista do dharma, até Parma,
sem Karma nem virtude

Só a Solitude, no Solstício
de Inverno!

23 de dezembro de 2006

Sem dó nem piedade!

Postagens de natal.
Portagens nas SCUT para o ano que vem!
2007 sem natal mas com Lá Féria!
Vou de férias prá Jamaica!
A balalaica para o rio que corre devagar.
Sem Rui nem rios a navegar, desoriento-me
nas vagas que se desperdiçam na boçalidade.
Incultas mentes que sonham com a próxima
corrida na cidade!
Presidentes ausentes da população, da cultura,
da vivência ancestral.
É o Natal, dirão alguns conformados!
O natal, sem hospital, mas com a capital
lembrança dos afectos dissimulados.
Não quero viver numa terra com esta gentalha!
Uma maralha de personas sem amor pela fantasia,
sem alegria, apenas com a filosofia do ganho, do
próximo negócio.
O ócio da casualidade. Falta verdade ao Porto,
ao Portugal insosso e decrépito, ao abundante
ditame do negócio, do dinheiro, da arrogância.
Primeiro a minha posição, que se foda a oposição!
Sem cultura, mas com muita sultura para
tresandar de cheiro nauseabundo e banal.
É o meu Porto de Portugal.
E Chamam a isto Natal?
Não posso ficar indiferente a este modo de estar,
não posso calar nesta época, a insidiosa mente
e quedar-me para sempre!
Essa Entente finalmente!
A luta vai começar!
A poesia acabou de se soltar!
Divulgar o que nos limita, o que
cerceia a nossa liberdade!
A Saudade de um mundo melhor!
Melhores dias virão...
Neste deserto de acção!

19 de dezembro de 2006

Tesão de Escrever

Até que enfim que esta latrina se tornou irremediavelmente anti-natalícia, anti-propícia aos dislates consumitas, anti-prepúciana, anti-Centro Comercial de Belém, anti-Centro Cultural da Dolce Vita. A Doce vida, que nos transforma em seres diabéticos, em seres cariados, e o médico é quem lucra, as farmácias, as lojas de produtos naturais. Produtos naturais? Nada mais falacioso. Quem faz um filho, é com o falo. Com gosto!Com sabor, com textura aveludada, com aroma de essência de melão verde e sarapintado de couve de Bruxelas. A Europa ainda manda! Sem Europa não somos nada. Sem Renas, sem rendas para pagar vamos dormir no passeio público. públicas virtudes num desolado edifício privado. Privatize-se o natal! Contratualize-se a diminuição das despesas correntes com as prendas, as prendicas, as prendocas, as bombocas.Boas bocas para dilacerar o astuto e vil metal, a vil nota no esgoto do escroto. Palavras conspurcadas, palavras acetilénicas, os furanos da sorte, a libidinosa morte. As tretas das tetas rijas e imberbes, as tetas sedentas de um abraço, os domus municipalis, os orçamentos rejeitados, os conluios desbravados. O Situacionismo estástico, o bota de elástico. Plástico na névoa artificial. Pistas de gelo na manhã diabólica. A tarde é dos santos! E a noite, é dos loucos. Dos bêbedos, dos friorentos, dos sardentos, dos sargaços, dos abraços.Foda-se para esta vivência, para o excesso de vidência! nesta época apetece-me ser o mal natal, apetece-me ser o mais ignóbil dos espectros rastejantes, o camaleão com sede, o veado com fome!Foda-se e mais foda-se, obscenizar por aí, surrealizar por aqui, erotizar por acolá. Cá e lá são fartas as farturas fritas. Foda-se esta factura que temos de pagar. apetece-me o além-mar, apetece-me afogar. apetece-me reivindicar. apetece-me um rei, sem roque, sem a música do passado, apetece-me o xadrez mundial, apetece-me a fria guerra dos sentidos, a luta entre o bolo rei e o bolo Inglês. Apetece-me o doce! preciso de comer, preciso de mamar nas tetas grossas e abundantes, quero a glucose, o sabor agradável para o meu cérebro, quero a diabetes de dia, quero os sorvetes de noite. quero a serotonina activada no meu frágil cérebro, quero a teobromina, a fenilalanina, todos os 20 aminoácidos essenciais a que tenho direito. Já que todos os outros direitos eu perdi-os, desperdicei-os, lancei-os ao vento.Quero o carmo e a trindade, a prostituta da saudade, a velha e desdentada greta garbosa.Quero suicidar a festarola, a rola, a parola e indigente maneira de me ver ao espelho! Quero ser velho! Quero o absinto para ver se sinto novamente! Quero a piedade, a mortadela e o vinagre. Pimenta da Caiena, Cocaína e Hiena. Quero as editoras a editarem-me, a sufocarem-me de temor. Estou farto de humor! Estou farto de horror. Estou farto de escritores sem dó nem piedade, sem verdade! Quero matar e morrer! Quero matar as vendilhonas do templo, as "sei lá" porque escrevo, as Tamaro, os crimes do padre amaro, ai...se não me agarram eu não paro!Pega ladrão, fazes comichão ao mundo, fazes as fezes com um cheiro nauseabundo.Cantigas do cagalhão, putas que querem caralhão, vidas que querem um abanão!!!!!FODA-SE!!!!!!
Tesão de Escrever!

18 de dezembro de 2006

domus e as tetas

"O louco é aquele que perdeu tudo,
excepto a razão".


AS TETAS DA ALIENAÇÃO
[Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]
testemunha ocular da miséria mental que é mistificar a tristeza banal de viver a juntar tanta coisa vital para a vida vulgar parecer divinal e com isso ocultar a pobreza real de um gesticular reduzido a sinal não consigo calar a origem deste mal que nos anda a atacar a todos por igual tudo assenta no consumo e produção são as tetas desta nossa alienação trabalhar ou morrer é-nos dado escolher o trabalho é direito transmutado em dever não se pode morrer já lá diz o preceito e se formos a ver não há nada a escolher para sobreviver o trabalho é foral não morrer consumindo não se chama viver o consumo é o aval para se ir produzindo e com seu acrescer fecha o ciclo infernal tudo assenta no consumo e produção são as tetas desta nossa alienação são as tetas o consumo e a produção são as tetas da nossa alienação

Esta é a letra de um dos temas de "Há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável", lançado pelos Mão Morta em 1998. Para esse trabalho, o primeiro depois do seminal (e sublime!) "Müller no Hotel Heissischer Hof", a banda inspirou-se nos movimentos anarquista e situacionista.

A despropósito, podem ler ou reler "A Sociedade do Espectáculo", que aqui postei há cerca de um ano. Aliás, podem lê-lo quantas vezes quiserem - mas uma vez será suficiente.

Quase tão inevitável como o pagamento do IRS em Março ou Abril, o calendário traz-nos, já bem embrulhadinho em papel reciclado, o Natal em Dezembro. Aliás, especula-se por aí que, a partir do próximo ano, o Ministério da Solidariedadezinha publicará no seu sítio oficial a lista dos portugueses que não se deixem enlevar pelo espírito natalício. Como diziam os "Felizes da Fé", cai o karma e a Trindade.

É nesta época natalícia que se enxota a malícia e se torna mais evidente a "unificação feliz da sociedade pelo consumo" de que fala Guy Débord. E é contra este paradigma ("paradigma" é um daqueles termos que explica o que não se consegue explicar bem - fiz-me explicar?) que odeusdamaquina se insurge. Contra a adulteração do nosso modo de vida, amarrado ao consumismo e ao fogo-fátuo da "Sociedade do Espectáculo".

Natal rima também com centro comercial. Os centros comerciais são, tal como os aeroportos, as grandes cadeias de hotéis ou os casinos, aquilo que amistosamente se apelida de "não-lugares".

Um não-lugar é um espaço desprovido de elementos que o diferenciem dos demais, demasiado artificializado. Os grandes aeroportos internacionais são quase tão idênticos como as lojas franchisadas: lembram-se da personagem que Edward Norton interpretou em Fight Club - Clube de Combate? Por passar o tempo a viajar pelos aeroportos da América do Norte e por diferentes fusos horários - é caso para dizer que ficava confuso horário - a voos tantos já não sabia onde estava, que dia era; e vejam o que acabou por fazer...

Os centros comerciais procuram recriar indoor as praças e os jardins que vão escasseando nas urbes. E se estes se tornam não-lugares, também as pessoas tendem a tornar-se... não-pessoas, através dos comportamentos, postura, linguagem que utilizam - tanto os vendedores como os potenciais clientes. Quando o empregado de balcão da loja de comida rápida nos diz "Obrigado" poderá muito bem estar a pensar: "Vá, agora desocupa-me o balcão, que está gente à espera". Economizam-se as palavras e a cortesia. Observado de longe, o movimento dos centros comerciais assemelha-se a um formigueiro: os gestos são repetitivos, maquinais.

Acaba por ser engraçado, é como observar os passageiros do metropolitano. Funny in a kinky way. Afinal, todas as pessoas andam por ali a satisfazer os seus desejos / necessidades de consumo. E nestas alturas, com esses espaços atafulhados de gente, é interessante observar-lhes as expressões, desde o sorriso - mais ou menos franco - ao mau humor mal disfarçado, do desprendimento de quem anda por ali simplesmente a passear à inexpressividade de quem já entrou em piloto automático; "Se não te calas levas um par de estalos!", a paciência já não mora ali. Tudo electronicamente vigiado, os agentes de segurança são extensões das câmaras de vigilância.

Nos centros comerciais encontram-se três tipos de pessoas:

  • as que não passam sem uma visita regular, para fazer compras, passear ou simplesmente conviver - "aqui sou tão feliz!";
  • as que abominam os centros comerciais e adoptam a nobre causa do comércio tradicional - "ah, nada como um sorriso genuíno, a disponibilidade e a sinceridade do atendimento personalizado... bem, mas olha-me só aquela loira na caixa quatro, é tão impessoalmente... boa!"
  • as pessoas pretensiosas como eu - "isto é o máximo, enquanto faço as compras tenho a oportunidade de andar pelo meio das pessoas a observá-las, parece um laboratório de Sociologia ao vivo! Fuck, aquele #gadget# é muito mais barato aqui que no retail park lá da terra!"

Colemos as pontas soltas deste texto, se tal for ainda possível. Este post é como um novelo com várias pontas, e cada um que pegue na que mais lhe aprouver. Escrevo em itálico para compensar a declinação magnética da Terra.

Citação: "A contestação da abundância capitalista é apenas aparente, mais uma daquelas acções que se executam apenas para estar de acordo com o padrão imposto por uma sociedade. O consumo turva a vista da maioria dos seres humanos que deambulam pela sociedade do espectáculo." Fim de citação.

Quem citei? Nem mais nem menos que a personagem blogosférica previamente conhecida como Mata Hari que, como lhe competia, andava a espiar os meus escritos e comentou "A Sociedade do Espectáculo". Pois é, Mata. Mas que fazer? Respondem os Mão Morta em "Vamos fugir": "... a única fuga é a loucura". Ou, à falta dela, a ironia (com ou sem pretensiosismo).

Ainda em "Há já muito tempo...", a convidada Natália Casanova, dos extintos "Diva" cantava em loop: "O comércio tradicional deseja-lhe um feliz Natal!" Por isso, vivam o Natal, a Natália, o nitrolusal e a natalidade!

Broas, Frestas e Boas Festas!

15 de dezembro de 2006

Porque estão mudas as sinapses nervosas?

Foda-se!
Ninguém escreve aqui?
Está tudo a hibernar?
Porque será que nestas alturas nos esquecemos do essencial?
Nestas épocas, verão, natal, páscoa, será que a nossa memória para,
os nossos sentimentos congelam, a nossa acção falece?
Foda-se!
Pensem mais na vida que levamos do que a vida que ambicionamos!
É por estarmos sempre a antecipar o futuro, à pressa, que não vivemos
plenamente o dia-a-dia.
Ao contrário do que todos dizem, o natal é só um dia!
Ainda bem que não é todos os dias!
Seria uma seca e ninguém faria nada! A televisão seria uma merda
o ano inteiro (já o é, mas há oásis de conhecimento), os telemóveis
inundados com mensagens plenas de frases feitas e humanismo
hipócrita, acho que só o comércio, o turismo, o petróleo iriam gostar de
natal todos os dias!
Ou seja, enquanto estiver aqui, vou-me bater pelo não-conformismo,
vou-me debater contra os natais da nossa vida, vou ser do contra,
porque tenho o direito à indignação da diferença!
"Contra o natal, marchar, marchar!"

"Sou livre, contra esta sociedade organizada e vestida
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação" - Álvaro de Campos

12 de dezembro de 2006

Lucidez na Acidez?

Quem tem a coragem para escrever aqui?
Depois da ressaca dos festejos, é hora de voltar ao trabalho,
ao frio e arrepiante mundo das palavras inóspitas, solitárias.
Do afirmar aqui e agora os males do mundo.

Este é o reino do podre, do nauseabundo, da sub-cave,
das intempéries da alma! Fétido hálito dos transeuntes,
olhos enviesados, carcomidas vozes de raiva.
Sonolenta e conspurcada vivência, dias eléctricos,
luminosidade aparente, massas a consumir, a omitir
um ano inteiro de frustrações acumuladas, de ódios ao volante.
Um ano inteiro de estradas perdidas para o vale da morte, humanos
que não se olham, não se tocam, tudo aparência!

Fatal natal com o desejo animal da festa, da embriaguez
dos sentidos, da anulação da vida. Seres que andam, correm nas
ruas, nos hipermercados, nos centros culturais da nossa vida comercial
e popular. Nas estradas são os loucos ao volante, pela estrada fora,
a toda a brida, avançar, sem olhar, sem dialogar.
Sorrisos imediatos, inebriantes.

Prefiro o fel das minhas solas de sapato rotas, o azedume do mar,
as dunas desfeitas na maré, o ocaso salino, o odor a castanheiro velho.
Quero o trapo sujo, o bêbedo que mete conversa, a quem lhe pago um copo,
porque não quero contribuir para vícios alheios, só pago a quem gosta de beber!

Quero a noite escura, não quero néons nem presépios, nem pais natal à varanda,
nem bolo-rei, nem coisas que me fazem engordar e morrer cedo.
Prefiro morrer com uma ardósia na mão, escrever os mandamentos da
educação do cidadão, reeducar-me a mim próprio, aprender com os meus erros.
Quero a gruta no meio da serra, tal como Sebastião da Gama, insigne poeta da
Arrábida e de Setúbal, que se fechava no seu eremitério.
Quero um Luís Pacheco que me faça soluçar, chorar, sentir a terra a tremer-me
debaixo dos pés, um Cesariny que encontrei uma noite no Bairro Alto, naquele bar
esconso, decadente, adúltero e velho, com fados, guitarradas e muitos cigarros.

Quero ficar sozinho, não quero as mensagens dos telemóveis, os cartões de boas festas,
os presentes. Prefiro os ausentes, os meus mortos, as minhas despedidas, aqueles que me deixaram para trás, ou quem eu deixei, aqueles de quem me desencontrei, aqueles a quem nunca pedi perdão! Quero sentir a dor, quero pagar pelas minhas faltas, pelos meus pecados,
sentir todo o inferno nos meus olhos!
Não sou digno de confiança, não sou digno de amor, sou digno da mais putativa solidão e amargura. O Natal é para quem se porta bem! Eu quero apenas recordar os passados, as memórias, os sonhos! Tudo o que criei, tudo o que fiz de bom, mas também aquilo em que errei.
Quero ser uma persona com lastro de passado, nesta época em que só se pensa no presente, no momento, no clímax, e depois... tudo se desvanece, tudo se esfuma. Prometemos que mudamos no ano novo, mas passada a tesão, voltamos a ser quem éramos, enganamo-nos a nós mesmos, engalfinhamo-nos nas teias deste presente que nos ausenta da vida, que nos faz perder o norte, o sul e todos os rumos do desconhecido.
Arriscamos pouco, só pisamos solo conhecido, palpável e macio. Nada de grandes revoluções, convulsões. Nada de pensar em dor, morte, negritude.
A nossa vida tem de ser vermelha, encarnada, amarela, branca, pura e católica. Temos de nos ajoelhar para sentir o frio nas pernas. Fora isso, temos os nossos ares condicionados, os nossos passos vigiados, a nossa comida microondicionada, o nosso amor regulado em ciclos de 28 dias, bem certinho como um relógio Suíço. Tudo é insonorizado, calculado, regulado. Queremos conforto e eficiência. Queremos ciência e Desporto. Mas não andamos a pé, não fazemos exercício físico, somos obesos e ainda queremos mais. Consumir, Consumir para destruir! Nesta época não quero nada disso, não quero correr atrás do prejuízo, do pré-juízo, do juízo prévio. Não quero prever nada, não quero antecipar nada.
Nada de nada, nem dinheiro, nem presente, nem futuro!
Vou-me encontrar com o passado, provando o fel, nas minhas solas de sapato velhas e rotas!

4 de dezembro de 2006

Palavra puxa palavra puxa acção!

A mais secreta inocência
O mais sereno olhar

Faúlhas na memória
Buracos nas tuas solas

Precipícios sem fim
Deserto telúrico

Uma para o caminho
no trajecto mais íngreme

Parcas palavras no desafio feroz da consciência, ultimatos devastadores, iniquidade e tresvario. Farto do Individualismo, do diz que disse, dos anormais que soltam palavras ao vento, que julgam que tudo sabem, que são potentes e omnipresentes, mas que se ausentam do colectivo. Mamarrachos humanos, competidores de si mesmos, esgares cínicos, gestos sardónicos, portes altivos, foda-se para os inveterados vertebrados sem miolos de gente honesta!
Partir os particípios, os passados, os usados, os dados como nados adquiridos!
Circunvalações metamorfósicas, a cultura do não-pensar, a Ocidentalar praia dos abjectos contrafactores de sistemas, capitalismos exacerbados na ignara vida quotidiana. Uma cultura caseira e televisiva com a idade da infância a inundar-nos em novelas, programazecos para rir e chorar por mais e melhor não existir na nossa vida! Benfazejo inverno do nosso descontentamento, em que estupidificamos defronte dos écrans da nossa narcísica vontade.
Estiolamos as memórias, não inscrevemos em nós um passado de emoções, queremos uma sociedade translúcida e gordurenta, que não desaparece mesmo com o calor! Uma incrustada cultura do presente, do efémero social, do nivelar abaixo da linha de água o saber, de sermos governados rumo a uma descida de divisão do conhecimento, do espírito crítico, do sonho, da criação por tentativa e erro. Erramos, mas não queremos que os outros saibam disso! Somos bonitos, fortes, saudáveis e lavadinhos por fora. Branco mais branco não há! Névoa branca, Sebastiânico nevoeiro que nos turge os sentidos. Esperamos e desesperamos por aquilo que não temos nem há! Precisamos de memória de elefante, precisamos de inscrever em nós o passado, carregar o fardo do exílio, do direito à diferença!

Encontrar-me
aqui e agora

Ser o mais silencioso
possível

num mundo de ruídos
e silvos a mais

A paz, a janela aberta
para levar com a chuva

Sair para viver!
Deixar de sobre viver!

3 de dezembro de 2006

Parabéns!

Desculpem a Insónia Criativa, mas tudo isto porque são dias de trabalho intensíssimo em que me encontro, que me puxa sempre para um eterno retorno às coisas boas da vida, e a melhor delas é simplesmente... Viver!
Depois, viver com amigos, ter muita vontade de estar com eles, abraçá-los, escutá-los, respeitá-los. E os desconhecidos? Aqueles que encontramos em qualquer esquina da rua, com um Adufe na mão, quem sabe? (Esta é directa para uma pessoa - FF - Fast Forward de Energia, de Intensidade, de Inteligência); aqueles que se desencontram de nós e que depois se reencontram. As viagens, as paisagens deste país e das fronteiras (tão abertas quanto próximas) à nossa espera. São virtudes do olhar, espertezas do coração, sim, porque o Coração é esperto, sempre em vista o mínimo denominador comum, o poupar energia, o durar mais tempo. É uma entropia mínima, um sistema parassimpático de emoções que nos manda abrandar.
Mas porquê não explodir? Não se deixar levar pela Simpatia efervescente do sistema Simpático, que nos acelera a entropia, os sentidos, as palavras, as acções?
O que importa é viver, sonhar, sentir, cheirar, olhar. Gordon Craig, um Encenador e Teórico do Teatro, afirmou que "O Olhar é o mais intelectual dos sentidos", por isso o teatro deve ser olhar, observar uma vida diante de nós. Já o cheiro, julgo que o cheiro é aquele que mais se entranha no nosso inconsciente. Quantas vezes não cheiramos algo que nos recorda a infância, algum momento especial do passado, uma pessoa, uma rua, uma praia?
Falo-vos de sentidos? Farei sentido com prosa tão sentida?
Peço-vos: Viajem, viajem com os sentidos!
Aprendamos a sonhar, a regressar à Infância do nosso contentamento!
Aos meus amigos, inimigos, conhecidos, desconhecidos:
- Escrever para vós é uma forma de vos amar, de vos ouvir, de lembrar-me de vós todos!
De não esquecer o passado e, no presente deixar esta singela mensagem e agradecer a existência e persistência (da memória) dos blogues para ficar impresso, inscrito em nós (como diria José Gil) este eterno afecto, esta intemporal amizade, este aniversário virtualmente real para escrevermo-nos, estreitarmos os laços, as pernillas, as Marias & as Outras e quem vai com elas, em suma, pelo Sonho é que vamos!
Parabéns!

O meu contributo para o Aniversário - Inédito, não postulado, mas postado como comentário, em tempos idos de pré-entrada neste insigne blogue!

É uma daquelas estórias que nos faz pensar! Como a linha que nos separa entre a loucura e a genialidade, a segurança e o vaguear na rua, o abandono.Por vezes somos tentados a olhar para nós como seres perfeitos, acabados, formatados. Mas enfim, somos aquela massa moldável, que se transmuta ao sabor dos elementos da natureza, da vida, da sociedade. A nossa mente é falível! Logo, o ser humano é falível, capaz das maiores atrocidades, como das maiores acções humanistas, solidárias. É pena que não sejamos sempre assim!Já agora vos deixo uma proposta de leitura:- Leiam o grande Luís Pacheco, que é poeta, romancista, tradutor, satírico, erótico, mordaz, inconformado, à margem de todos os lobbies culturais. Hoje já tem perto de 80 anos, vive só, num lar em Lisboa. Esteve em Setúbal há poucos anos. Luís Pacheco foi o fundador de uma editora (de nome "Contraponto"), alimentou muitos escritores, deu-lhes trabalho. Anos depois, foi abandonado por todos, ficou só, na rua. Só a câmara de Setúbal o apoiou na altura. Leiam o "Diários Remendados", que se encontra nas livrarias. Um diário íntimo dos seus tempos de editor e escritor contra o sistema. Mas ele tem obras muito mais geniais. Não me recordo de mais títulos, mas vale a pena ir à procura, perguntar pela obra de Luís Pacheco. Um grande respeito a este senhor, bem-haja!
(comentário em jeito de Direito de Resposta a Língua Morta no Post "Arnaldo, O Comando")
À Guisa de Exemplo, este blogue deveria ter a Coluna do Provador! Quem melhor que uma língua para ser Provadora?! Viva ou Morta, não importa. Tal féretra figura será necessária!

10 Janeiro, 2006 13:58

Profundo Sono de Sonho

Vi-te!
Na névoa do meu poema.

O abraço da vitória,
do aniversário perdido
na insolência dos dias

Revi-te
na imensa calma
do teu olhar de ternura
feita paixão

Soçobrei
perante tamanha
inteligência do teu corpo

Adormeci
Na clareza da tua ausência!

2 de dezembro de 2006

Pernilla aniversilla

Olá. O meu nome é Língua Morta e você não me conhece de posts como A Quinta, Arnaldo, o comando, I am a potato now ou o igualmente deprimente Língua Cantada. Mas não faz mal.

A sério. O importante é haver harmonia. Ou, à falta dela, concórdia. Agora, passo a falar-vos em nome de todos os bloggers de "Maria Pernilla".

Estamos em condições de anunciar-vos que, precisamente um ano depois do arranque de "Maria Pernilla", os objectivos iniciais desta iniciativa de vincado carácter solidário foram largamente superados, graças a todo os esforços por nós e por vós envidados. Queiram atentar nesta foto, da autoria de zetavares (a quem agradecemos desde já) :



Lembram-se destes três cavalos? Eles estavam votados a uma desumana servidão, quando pertenciam ao Circo Bush: aí eram maltratados, seviciados e psicologicamente humilhados. Só para terem um exemplo, apenas sabiam uns rudimentos da língua portuguesa quando nos tornámos, perante a lei, seus tutores.

Desde aí, num caminho que - não o negamos - teve o seu quê de árduo, conseguimos que estes cavalos recuperassem a sua auto-estima e sentido de pertença à sociedade. Depois, ensinámo-los a ler, escrever, patinar e falar três idiomas: português, inglês e o dialecto da patinagem artística. Finalmente - relembro-vos que todo este processo completa hoje precisamente um ano -, facultámos-lhes um emprego, tornando-os assim cidadãos de pleno direito: actualmente, ministram Oficinas de Movimento e Workshops de Dança Contemporânea. Assim mesmo, com maiúsculas.

Congratulamo-nos em anunciar que estes equídeos estão entre os finalistas nomeados para o Prémio Surya Bonaly deste ano, na categoria "Já sou bom, em breve serei o melhor". À guisa de agradecimento, os cavalos realizaram esta performance, intitulada "Sincronização Celebração", que o zetavares gentilmente registou para a posteridade.

Por tudo isto, resta-me agradecer (voltando a falar em nome próprio) a todos os bloggers de "Maria Pernilla" e aos comentadores deste sítio, já que este feito resulta dos nossos posts e de todos os vossos comentários. Faça uma boa acção por dia: comente no "Maria Pernilla". Apraz-nos comunicar-vos que a nossa labuta foi já alvo de elogios proferidos pel` O Bom Selvagem (entidade certificada pelo Instituto da Qualidade Blogosférica com o número 5638-tc) e pelo Bruno (idem, número 2153-mrt). O Bom Selvagem escreveu: "... esses bloggers loucos do Maria Pernilla..."; já o Bruno afirmou, de olhos marejados, que "Este blogue é a parte esquecida de Deus".


Despedimo-nos por hoje com alguma amizade e com a garantia de que continuaremos a trilhar este caminho; hoje estamos aqui, amanhã quem sabe? E lembrem-se: "Comentar no Maria Pernilla é praticar o bem". O nosso bem-haja a todos vós. Gratos.

1 de dezembro de 2006

Carta a Língua Morta (ou Mao Zedong)


Nova Lisboa, 13 de Outubro de 2006



Caro Mao Zedong

Espero que ao receberes esta carta te encontres bem de saúde já que a saúde deste país anda a ser maltratada pelos senhores do regime.
Soube que tinhas sido colocado em São Tomé e Príncipe. Isso é muito longe ou dá para ir e vir todos os dias? Isto agora com as estradas que temos é uma maravilha. Temos de agradecer ao senhor de Boliqueime. Se decidires ficar aí podes arrendar um quarto numa cave de uma Miss Pity qualquer. Também fui informado pela Stasi que andas envolvido em altos projectos. Sei que a parada gay que organizaste em Tel-Aviv para rabis e padres presbiterianos correu muito bem. O sucesso foi tal que foste contactado pelo Vaticano para organizar o desfile do papa em Ankara. Também me chegou aos ouvidos que estavas a pensar preparar uma Revolução Cultural na ilha de Príncipe para quebrar o marasmo e a rotina diária. Se correr bem podes depois fazer um scale-up para a ilha de São Tomé ou quiçá alargar a toda a Micronésia e Polinésia francesas. Fica a sugestão.
É verdade. Vi o Adolf na zona da restauração do Fórum a comer cornichons em conserva e a falar sozinho num dialecto da Alsácia –Lorena. Perguntou por ti. Disse-me que nunca mais te viu depois daquela cena sado-maso que vocês tiveram. Pediu-me que te dissesse que afinal a verdade não estava na Der –Spiegel como ele desconfiava mas estava no pneu suplente de Trabant azul com um bandeira da DDR orgulhosamente colocada no tablier… O recado está entregue.
Também vi um cão em Pripiat com três pernas.

Pára com isso porque os raptores de crianças andam aí.


PS: Notícia de última hora. O Estado Português da Índia foi invadido pelo Exército da União Indiana. Morte a Nehru. Viva o Estado Novo.


Atenciosamente,


Vladivostok

Corpo, Som, Movimento? (ou O Bar & A Sede)

Corrupios, inolvidável
ausência dos afectos
a ladaínha ensimesmada
na oculta margem
da alegria

Frenéticas canções
no deambular das marés
o ocaso inone
sem deus nem pátria

Dormi na secura
do teu circunspecto
olhar

E a dança, louca
melancolia numa
luz feérica

A causalidade
reverberada na
infame memória
dos sentidos

Perfume cálido,
louca abstracção
nas insignes
tempestades do olhar

Leituras ao desvario
inocência resplandecente.
Na aura crepuscular
o sentido dos percursos

Movimentos perfeitos
na perpétua constelação
do teu corpo.