17 de julho de 2007

Fatias de Cá Teatro - Tomar

Descendo ainda mais no Mapa, aportamos ao Ribatejo (distrito de Santarém) e à bela cidade de Tomar, com o seu Convento de Cristo impondo-se sobre a paisagem. Esta é uma companhia sui generis, porque realiza um teatro de rua em locais históricos ou de uma beleza natural incomparável. Por isso vos falei do Convento Cisterciense de Tomar, mas também o Castelo de Belver, o de Almourol (no meio do Tejo), entre outros locais da região. Grupo curioso porque tem a sede em Tomar, mas espraia-se por outros núcleos de criação no Distrito (em Vila Nova da Barquinha, Constância e Chamusca) e pelo país, nomeadamente em Lisboa (Castelo de São Jorge e outros) e Coimbra (Quinta das Lágrimas, Jardim da Sereia, Ruínas de Conímbriga, em Condeixa-a-Nova).
Outra curiosidade reside no facto de terem elencos diversos e numerosos, constituídos por Profisssionais e Amadores. Fazem reconstituições históricas (o que não é igual a dizer-se que fazem "Feiras Medievais") e outros textos de grande monta, com textos longos ou com muitas necessidades técnicas (luz, som, adereços, figurinos).
Um grupo criado em 1979, que explora outra ideia engraçada, como começar os espectáculos a horas inusitadas (como às 21:47 ou 22:11), que andam perto da 50ª produção e que nesta época do ano têm sempre muitos espectáculos em cartaz. A ver, numa região bonita, rodeada pelo Tejo, com locais lindíssimos para poder visitar e como cereja no topo, um espectáculo de alto valor performativo. A conhecer melhor o Grupo Fatias de Cá! (o nome curioso vem do doce típico da cidade Nabantina que são as "Fatias de Tomar". Quando lá for, prove-as!
Site do grupo: http://www.fatiasdeca.com/ (na foto: espectáculo "A Tempestade", de Shakespeare)

16 de julho de 2007

A Sífilis

O Concílio! Reunidos na Sala do decoro
Os cardeais anunciaram o amor.
Um frugal repasto de corpos nus
e orgias incomensuráveis.
O Papa, pai de muitos filhos
de seu nome Alexandre VI,
teve imensas amantes.

A sífilis aparece de imediato!
Isto na era do Senhor de 1495.
A culpa é dos homens com seu
desregramento espiritual e carnal!

Rodrigo Bórgia, de seu verdadeiro nome
vociferava contra os males do mundo,
numa Roma plena de satisfação cardinalícia.
Lá, ninguém passava as fomes do mundo e do corpo.

Alma bendita, amor de Deus, benditas sois vós mulheres
no leito nupcial e voluptuoso. Festins dionisíacos, orlados
a ouro, vinho e esperma. A carne é fraca e faz mal ao coração!

É bom recordar os tempos da imorredoira paixão dos homens.
As batinas, os véus, são apenas ritos de passagem, para o sexo
puro e duro, um sexo clerical, logo, nobre e cheio de verdade,
de espírito, de riqueza da alma.

Neste Concílio, apareceu a deslumbrante Salomé,
que espalhou a doença a todos os homens, dos ricos aos pobres,
dos efebos aos gerontes, dos Reis ao Clero.
Bendita Salomé, vítima de todas as violações e sangue derramado.
Vós fostes a virgem suprema, amada intrusa do hemisfério solar!

15 de julho de 2007

1982-

O Francisco Amaral assinalou os 25 anos que hoje passam sobre o lançamento de Big Science, de Laurie Anderson.

Aqui fica o estilhaço: O Superman.

14 de julho de 2007

Z-Jay põe, Maria Pernilla dispõe.

13 de julho de 2007

Bach - Cantata BWV 140

Instado a carregar em ombros
o peso de um mundo à deriva
soçobro na imensidão dos campos
onde a solidão se faz sisuda
e a doença, uma frenética
e venérea fonte
que adormece os meus sentidos.

Morro na lassidão dos dias de suor
acabrunhado na derrota dos sentimentos
Das cinzas se fez carne de espectros
e da saudade um mar de angústias
Deslizo na vertigem do mal
Sou a derrota em pessoa,
virgem-suicida da paixão

10 de julho de 2007

Teatro da Rainha - Caldas da Rainha

Hoje falo-vos do Teatro da Rainha, companhia que faz um sério trabalho na definição de um teatro de repertório, virado para a contemporaneidade dramatúrgica, numa pesquisa do trabalho do actor, que conta com Fernando Mora Ramos como director artístico e encenador, um mestre do teatro, com muitos anos de experiência e inteligência criativa. Além deles, a cenografia com José Carlos Faria, outro excelente profissional com muitos anos de experiência e reconhecido em todo o lado, e todo um elenco de actores com muita experiência misturados com alguns mais novos, que decerto estarão a aprender muito, rodeados destes grandes nomes.
Importante a fixação desta companhia, num distrito pobre em termos de teatro profissional. Como é possível que numa capital de distrito com esta importância, nunca se tenha afirmado uma companhia? Existe apenas uma, o grupo "O Nariz - Teatro de Grupo", que ainda fez alguma coisa em Leiria nos anos 90 e inícios de 2000, mas que não se chegou a afirmar profissionalmente, pela falta de subsídios e de um programa continuado e de qualidade para que pudesse ter dado o salto.
Resta-nos assim o Teatro da Rainha, nesta cidade moderna, com uma importante escola de arte e design, que tem fixado uma população jovem com interesse pela cultura e por realizar muitas actividades pela região.
Como adenda, poderei falar de um projecto sedeado na Nazaré, com a presença de Cândido Ferreira (um antigo actor d' O Bando), que pretende revitalizar um teatro antigo agora recuperado, para fazer um trabalho profissional e contínuo. Desejo boa sorte a este projecto. Portugal e as regiões fora dos grandes centros precisam e têm falta de teatro de qualidade.
O site do Teatro da Rainha é: www.teatro-da-rainha.com
Boas visitas. Bom teatro! ( na foto: Espectáculo "A Estação Inexistente")

7 de julho de 2007

Pátria Ruminadora

Preâmbulo de um planeta
esfera oxidada de um navio
altas chamas num maremoto fugaz
miopia da maiêutica Socrática
tormentos na indizível pátria agrilhoada

Fugir do Ocidente, imergir
nos fiordes secretos do teu sexo
perene vida a refulgir afectos

Sou o mais extasiado corpo
prestes a sucumbir, o verão
estiola-me a paciência, derrete-me
a saudade de um país azul
um nevoeiro paira nos meus olhos

Fumos com muitos fogos fátuos
por eliminar, inconsequentes
romarias da efabulação

Lugar-luar vago e triste
pútrida sensação de dejá-vu
ausência do silêncio, fraca
apetência para a serenidade
e as horas certas do rigor

Pêndulo crescente e desconexo
vazio-oco intemporal num mar salgado
de dúvidas e ruminações sobre tudo e nada

Devolvo o sargaço ao mar
na ondulação occipital e cristalina
os braços da partilha ficaram longe
E o futuro é um casco velho
ancorado na ferrugem dos sonhos

5 de julho de 2007

ESTE - Estação Teatral da Beira Interior

Já ía descer mais por este mapa teatral, quando me lembro desta nova Companhia, sedeada no Fundão, distrito de Castelo Branco. Com alguns elementos vindos do Teatro das Beiras, da Covilhã, é um projecto que se afirma pela sua novidade, bem como por ter elementos de Lisboa, ligados à Casa da Comédia (Nuno Pinto Custódio), que praticam a Técnica da Máscara, ligada à Commedia dell'Arte. Nuno Pinto Custódio é o Director Artístico, além de Encenador de alguns espectáculos. Conheço muito bem o Nuno, fiz um Workshop com ele de Técnica da Máscara e só posso dizer que é dos melhores, juntamente com Filipe Crawford e André Gago, outros exímios actores e formadores que dominam esta técnica, bem difícil, na realidade.
Portanto, é uma jovem formação, num Concelho que aposta forte na Cultura. É um bom exemplo de como as coisas podem funcionar numa localidade interior, com todos os problemas de isolamento, desertificação de gentes e empresas, mas no Fundão são as gentes locais que amam e apostam forte na região, a chamada Cova da Beira, para a impulsionarem para o futuro. Um futuro com conhecimento, educação, inovação e cultura.
O site da companhia é: http://www.esteteatro.home.sapo.pt/
Boas visitas e até para a semana, onde desceremos para o Distrito de Leiria, mais propriamente para as Caldas da Rainha, com Fernando Mora Ramos e o seu Teatro da Rainha.

3 de julho de 2007

Com Título

Sinestesia, aprendi ontem
o passado não se escreve na mão
Homeostasia, aprenderei um dia
será o futuro em equilíbrio
sem guerras, mortos e fome

Fobia, estou a aprender agora
são traços intermitentes de
pulsões e medos que eu sinto em ti
As fogueiras, sem vaidades
são chamas loucas do amor

Quintessência do teu rumo
olor fresco, matinal,
virginal cheiro a dor e parto
Maçãs verdes, na aventura
de um sereno e secreto adeus.

Mutações genéticas,
freios paranormais
uma película leve e transparente
de uma saudade lacrimosa,
putrefacta e tacanha

Produzir afectos, ligações
no desconhecido, realidades
cruzadas e misteriosas.
Amar a periferia do teu rosto.
De borco quedar-se na calçada.

2 de julho de 2007

. final

Chegou a hora de saída. Por nada ter a acrescentar a este blogue, saio. (E também por isto e por aquilo.)

Ficam por aqui o deus ex-machina e o vladivostok (este último apesar de se encontrar bastante ocupado a preparar a destruição do mundo), que se encarregarão dos destinos do "Maria Pernilla".
Resta-me agradecer a 72 pessoas (ou serão 27?), que por um ou outro motivo cruzaram o nosso caminho. A essas 72 pessoas (ou vinte e sete), o meu obrigado. Sincero.

Deixo-vos com duas-em-uma para o caminho. "The Distance", do projecto DNTEL.


E uma remistura de "The Distance" pelos Metronomy (myspace)

"Adeuzes e a gente vê-se!"