31 de outubro de 2007

Ela mais uma vez

Parem os relógios!

foto Paulete Matos
Depois de doze apresentações em Lisboa - Teatro Mundial, Ela Uma Vez regressa ao Novo Ciclo ACERT - Tondela, onde teve estreia nacional (em Junho). Será nos dias 9 e 10 de Novembro - Sábado, dia 10, às 21.30 para o público em geral. A interpretação é de Cláudia Andrade, a partir de textos de autoras portuguesas e brasileiras. Quem viu recomenda!
Consulte aqui a ficha técnica, sinopse, etc e tal.
E veja aqui a galeria de fotos do espectáculo.
Mais informações no sítio da ACERT

29 de outubro de 2007

Um Ecléctico Chamado Desejo

Primeira inconsequência: o teu olhar!
Num sorriso circunspecto, amacias a sofreguidão das horas
Ternuras num copo de leite ao fim da tarde dos pés plúmbeos.
Irascíveis artérias do teu sangue infectado de dor.

Segunda inconsequência: garatujar ruídos!
Numa fala dispersa, contar as datas do desaforo dos sentidos
Partir a loiça de encontro aos teus pés de porcelana.
Cálidos sudários em suores tiritando frios aromas.

Sem consequência de maior: soltar a fímbria do mar!
Bordejar a salsa e canela o rumo dos afectos
Enformar o doce conventual da tua inteligência.
Rigoroso passado tocado pela mão da criação.

Total consequência: morder o silêncio das paixões!
Ensimesmar na aparência dos heróis, deuses salvíficos
Lavar a roupa suja e sacudir o pó das dúvidas.
Restos de criaturas a pontuarem a afável boca.

Inconsequência do olhar:
- Por onde andarão os dias e as noites sem ti?
Em que sufrágio me forçaste a não vê-los?
Último reduto das visões transparentes.

- Em que margens da alegria, em que praças alcandoradas
transpuseste o estigma dos teus receios infundados?
Primeiro anel das emoções subliminares.

- No tédio dos balanços efectivos, que modorra
te ocupou nos verdes anos da saudade?
Medievo palácio dos amores enlutados.

Diz-me inconsequência do olhar:
- Por onde andarão os dias e as noites sem ti?

24 de outubro de 2007

Merda de artista

«Com raras e honrosas excepções [...], encaro essas instalações "artísticas" pós-modernistas que costumam ser exibidas em Bienais e mostras de arte como tremendos embustes, invariavelmente justificados pelos criadores com discursos herméticos e rebuscados falando de liberdade criativa e rompimento de paradigmas. Pois bem: o que há de vanguardista em amarrar um cachorro doente à parede de uma galeria de arte e deixá-lo morrer de fome em nome da, hmm, "arte"?

Por intermédio de minha amiga Ane Aguirre , tomei conhecimento da história de Guillermo Vargas Habacuc , um costarriquenho que, conforme descreve a escritora Rosa Montero num artigo para o jornal El Pais, "afirma ser um artista". Em agosto deste ano, Habacuc criou uma instalação intitulada "Exposición N° 1", numa mostra realizada na Galeria Códice, localizada em Manágua, capital da Nicarágua. Ao som do hino sandinista tocado ao contrário, os visitantes deparavam-se, na entrada da exposição, com uma frase na parede ("eres lo que lees") cujas letras eram formadas por comida de cachorro. Logo adiante, os visitantes eram surpreendidos pela secção mais polémica da instalação de Habacuc: um cachorro enfermo, que teria sido capturado nas ruas de Manágua, preso num canto da galeria. Segundo o "artista", a obra representava uma homenagem a Natividad Canda, um nicaraguense morto recentemente devido a um ataque feito por dois cães rottweiler. Justificou, desta maneira, a captura de um cachorro indefeso e doente, que se chamava Natividad. Que não recebeu nenhum auxílio veterinário, não foi alimentado e, apesar dos pedidos de vários frequentadores da exposição para que fosse desamarrado, permaneceu amarrado até ao dia seguinte à inauguração da instalação, quando morreu de fome diante dos olhares dos espectadores.

Diante da polémica que certamente desejava causar, Guillermo Vargas Habacuc afirmou: "O importante para mim era constatar a hipocrisia alheia. Um animal torna-se foco de atenção quando o ponho num local onde pessoas esperam ver arte, mas não quando está no meio da rua morto de fome". E rematou: "O cachorro está mais vivo do que nunca porque continuam a falar dele". Habacuc é um dos artistas seleccionados para participar da edição de 2008 da Bienal Centroamericana nas Honduras. Porém, circula uma petição online solicitando que a indicação de Guillermo Vargas para a Bienal seja revista.»

Por Alexandre Inagaki
(adaptado para Português Europeu)

23 de outubro de 2007

Musical Composição dos Afectos

Harmónicos em surdina. Um dó sustenido na maior parte do dia.
No estertor da madrugada, um mi bemol na menor área de conflito.
Minimalismo do teu porte altivo e a bruma leve da melopeia infinita.
Nas ondas sonoras de uma acústica mordaz, a estética sobreleva-se
na sala imensa. Pautas a tua imaginação em claves de sol a ouro tisnadas.

Nas linhas do teu desejo, inventas colcheias de prazer com mínimas atrevidas.
Solto a voz numa espécie de récita secular, o solfejo da escrita improvisada, notas
ao desvario dos silentes corpos pousados ao luar. A técnica de execução do teu olhar
é penetrante, cordas tensas e um arco frenético, interminável. No fim da criação,
há uma entrega à melómana atmosfera, de uma loquaz matéria de felicidade.

É oficial

22 de outubro de 2007

Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu!Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu! Eu!

20 de outubro de 2007

Poética Esparsa

Hoje conheci-te. Prendeste o teu cabelo ao meu e amámo-nos subtilmente.
Com o carinho que emanas dos teus gestos, lanças odores que lembram o mar,
febril canto de um distante rumor. Afogámo-nos na utopia breve de um sonho,
passos em híbridos vagares, película aderente das paixões. Comemorei a plácida
aridez das minhas rugas em bebedeiras sem fim. De ti, pouco mais soube, apenas
que ainda hoje és marulhar de águas na mais perfeita enseada da minha esparsa vida.

19 de outubro de 2007

Breve Encontro

Falta-me o tempo das acácias para morrer. Delirar no espasmo, só,
abatido no momento perpétuo da tua mão. Nas fímbrias do mar,
músicas da tempestade e inércia ao acordar no teu olhar. Passeias
pela fresca água da fonte dos desejos, esbracejas o sol na tua vida.

Perco-me de ti nas ruelas do vagaroso pranto em que me encontro,
pórticos sem glória e um desalinhado encanto de te encontrar.
Na harmoniosa sombra da idílica viagem, há odores semióticos,
narcísicas plantações de pés desnudos e alvos. Há um brilho no
teu cabelo de prata e sangue que me atemoriza a paixão. A dor
de te não ter é maior que a sede no deserto. Na feérica espuma
dos dias, a voraz e lenta melancolia abrasiva do particípio passado,
pétalas e estiletes de razão no breve encontro dos nossos corpos.

15 de outubro de 2007

Pelas Sombras do Bosque

Prossigo a caminhada lenta do vagar irrespirável
Mente desperta no infinito molto lento e a vácuo
timbrado. Maçãs do rosto como punhais, silêncio
num olhar de volúpia. Partidos os tentáculos dos
dias inquietos. Veias delirantes na medusa afável
do teu estilhaço. No afã da subida, as pernas roçam
o insofismável odor da perfídia. Relembramos as
horas de angústia no engomar das paixões, roupa
lavada no desalinho das marés. Meia página de dor
vertida no café da manhã, energia que precisavas
para o anestesiar dos sentidos. Pétalas e limbos,
amaciar nas folhas do teu caderno a paixão fugaz,
espasmos e narcóticos no teu lábio leporino, caem
da tua mão os últimos barbitúricos do deserto,
tisanas do inferno na tua delicodoce mão de ferro.
Mal te deste conta da morte dos espectros e o luar
anunciava o teu hibernar dolente em suspiros sem
fim. Crédulos da tua solidão, os animais do bosque,
entre abetos e sequóias regozijavam-se da branda
e invernal tempestade do teu angustiado sexo. Em
surdina, desaparecendo no nevoeiro, pintaram a
paisagem de pranto e silvos agudos, dando vivas
a esse estertor inerte na luminar casa do pecado.

14 de outubro de 2007

E agora calemo-nos.

Radiohead, Videotape [letra]

13 de outubro de 2007

Citação

«No contexto de todos os conflitos "históricos", as razões individuais ou colectivas de cada um dos militantes dos dois blocos submetem-se e são instrumentalizadas pelos projectos de grupos de poder opostos e, pelos mesmos, levadas ao paroxismo através da propaganda. Desta maneira, os sentimentos originais dos dois povos que se defrontam são manipulados, enfraquecidos, e assim atirados para o fundo da cena dos acontecimentos onde, em primeiro plano, se tornam cada dia mais evidentes os fins e os propósitos dos dois poderes em conflito.
Assim, a cena, gangrenada pela guerra, está pronta para ser pisada sem possibilidade nenhuma de oposição, tratamento ou cura. Tudo o que podia pertencer a um autêntico sentimento dos povos (amor pela sua história, as suas tradições, a sua terra) é substituído pela política, pela economia e pelo armamento. Que agora observam, do alto do seu incontestado domínio, o desenrolar dos acontecimentos. O caminho da "história".»

Antonio Tarantino

12 de outubro de 2007

Pobreza Zero

Entusiasmadas, entrámos na camioneta. Munidas de algumas garrafas de espumante – que o Champagne sai caro e estudantes contentam-se com pouco –, lá fomos até ao Algarve a rir e a fazer planos. Era a viragem do milénio e não receávamos o juízo final. Eu decidi deixar de fumar. A Joana queria ser médica. E a Vera ia encontrar o amor da vida dela. Éramos jovens (ainda o somos, só um bocado menos). Estas eram as resoluções que iam mudar as nossas vidas. Quem sabe o mundo. Ou assim víamos as coisas. Não me lembro bem da passagem de ano. Por essa altura as garrafas já estavam vazias. Lembro-me do final da noite. As três cheias de frio na cama, com novas promessas. No ano seguinte levaríamos um edredão. E seríamos amigas para sempre. Felizmente, outras pessoas faziam resoluções que, estas sim, podiam mudar o mundo. Na Assembleia Geral da ONU de 2000, 189 chefes de Estado e de Governo assinaram a Declaração do Milénio, formulando oito objectivos de desenvolvimento, a alcançar até 2015. A saber: erradicar a pobreza extrema e a fome; alcançar o ensino primário universal; promover a igualdade entre os sexos; reduzir, em dois terços, a mortalidade infantil; reduzir, em três quartos, a mortalidade materna; combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças graves; garantir a sustentabilidade ambiental; criar uma parceria mundial para o desenvolvimento. Passaram-se sete anos e, tal como eu continuo a fumar, os líderes políticos mundiais não cumpriram as suas promessas. A 17 deste mês assinala-se o dia mundial contra a pobreza. É uma boa altura para exercer pressão sobre os nossos governantes. Somos a primeira geração que pode erradicar a pobreza do mundo. Existem meios, tecnologias e desenvolvimento para o fazer. Os Objectivos do Milénio são absolutamente viáveis do ponto de vista técnico e económico. Exigem apenas vontade política por parte dos Estados. E aí reside o busílis da questão. Também só depende da minha vontade deixar de fumar. A Joana já é médica. Acabou o curso este ano. A Vera diz que já encontrou o amor da vida dela. Estão a viver juntos. E continuamos amigas. Se eles cumprirem as promessas deles, eu cumpro a minha. Deixo de fumar. Erradica-se a pobreza e salvam-se os meus pulmões. Já só temos sete anos.
Por Rita Silva Freire, in Jornal de Letras nº 966

11 de outubro de 2007

Silêncio Demasiadamente Ruidoso

Regurgito o silêncio. O mal de estar só. Estou apaixonado pelas nuvens e no entanto,
elas dissipam-se. Corri atrás do teu abraço, estatelei-me ao comprido nessa pressa de ficar.
De joelhos esfolados e cara lavada em sal de lágrimas da demasia do meu coração, apertei-te
no escuro daquela colina. Tão perto e tão longe de ti! Sufoquei a minha mágoa, mas a morte
era já tua. Deambulei pelo riacho, meti a cabeça dentro de água para resfriar afectos, mas só
te via a ti, essa lívida face de estrondo em demanda circular. Arrastei-me pela névoa dentro,
só o frio fazia companhia aos meus ossos, só eles tinham vida e acção. Tudo o resto era mar,
ondas de paixão, frenéticos movimentos ondulatórios e um turbilhão de saudades. Quero-te
tanto, amor. Sim, palavra furtiva e incandescente. Rasuras a emoção em milésimos de segundo!
E agora, recalcitro o aparato, a prolixidade de te não ver nem compreender. Merda de vida, merda de pesadelo da paisagem, merda em decúbito dorsal, em mim mesmo derramada na
outonal ideia de querer a felicidade. Estou com o corpo mordido por insectos que me sugam
o sangue, já nada resta neste interior. Nem pranto nem melopeia sentimental. Só carne e espectros. Jazem abandonadas na paisagem restos de ciúme, sucata velha e carcomida de pecado. Já não mora ao lado a sedução primeva. No jardim abandonado, cacos e rostos sibilinos, tranças e soporíferos, poluição em barda. Há orquídeas que se esqueceram de ser selvagens e duendes que cresceram em demasia. Só eu, perdido no teu retrato inconstante, tento amparar a queda dos impérios antiquíssimos. Há horas em que o porvir dilacerado abre fendas na fealdade dos homens, seres em demasia na circunvalação dos desejos. Prata esquálida e reluzente, motociclos em planetas distantes e o dislate da fruição. Perco-me nas rotundas do sonho e embriago a realidade sensível na minha breve fúria demasiado ruidosa.

Teatro ao Largo

Hoje mais uma visita às Companhias Profissionais de Teatro que circulam por este país, fora de Lisboa e Porto. Hoje aportamos a Vila Nova de Milfontes, concelho de Odemira, à sede do Teatro ao Largo, companhia fortemente itinerante e de rua, com espectáculos de cariz cómico e para todo o público. Fundada por Steve Jonhston, um Inglês que se radica no Alentejo com a sua companheira, Pureza Pinto Leite, em 1994, que adapta grandes autores e peças clássicas e dá-lhes um cunho virado para a comédia dell'arte, o teatro de vaudeville, o punch&judy inglês (robertos sempre à cacetada). Conhecida em todo o país pelas viagens sempre constantes, o Teatro ao Largo mantém a sua estrutura nestas personalidades e na utilização de um palco móvel (uma carroça) com cortina por detrás (ao contrário dos teatros de sala), e um teatro que se monta em qualquer praça ou sítio exterior e depois desmonta-se, com luzes, som e bancadas para o público. Um teatro que nos faz rir e pensar, que tem uma energia sempre infinita, uma interação com o público muito forte, onde o improviso, o cão que ladra, o bêbedo que se mete com os actores está sempre presente. Teatro ao vivo, sem rede e com a dose certa de imponderabilidade. Para saber mais, onde efectuam os espectáculos, têm de consultar o site http://www.teatroaolargo.com/
Bom Teatro!

10 de outubro de 2007

Poema Celular

Diacrónico. Estado supressor e inacabado da benevolência.
Cardos por picar na abrasão dos teus braços sincréticos.
Paródia ao amanhecer numa filigrana simples e opiácea.
Momento atómico e nuclear Cromossoma do teu Citosol.
No Citoplasma da memória, os Centríolos da vida ligam-se
às Mitocôndrias na fase Cis do teu passado. O futuro é uma
nova etapa, desta feita Trans, com a oxidação daí resultante.
Perigo à espreita no teu Riboflavinaico corpo. Tanta vitamina
desmesurada e perfeita no teu olhar. No Retinol da tua carícia,
uma enzima instala-se no modelo Chave-Fechadura. É a combustão
total e orgiástica da Leucina com o Triptofano. Mas prefiro antes
o Ribossoma, a produzir as suas proteínas e depois o seu ácido,
Mensageiro alado para as células que te enviam o meu poema.

9 de outubro de 2007

Trocar a Rádio pela TV?

Só para relembrar: Alma Nostra, hoje e sempre às Terças, a partir das 23 horas e 10 minutos, mais coisa menos coisa, na Antena1. Na noite, uma conversa intimista com o psicanalista Carlos Amaral Dias e o jornalista Carlos Magno. Para ouvir e sonhar por mais!

8 de outubro de 2007

A Traço Grosso

Chegaste! De um modo estranho acariciaste o rosto esquálido do teu gato.
Na demanda das imagens, riscos desconexos no desvario melífluo da caminhada.
O porte do teu cavalo era serradura para os meus olhos. Passeaste-te na tarde
dolente das carícias animais. Rastos e suores frios de uma tarde taciturna. Só tu
me podias salvar do desassossego das palavras, dos ritmos nauseabundos da cidade.

E agora o nada, um vazio intemporal e uma hedionda carantonha que te sorri. Perdes-te
no acumular de papéis e contributos fáceis da memória. Preferes rasgar o sorriso de outrora
e ancorar um barco velho no teu porto de abrigo. Encantas o horto na madrugada da suave
música nos meus ouvidos infames. Protesto com um esgar de dor, retribuo-te com a violência
física que mereces, um whisky na tua mão e ato-te com os cordões dos meus rotos sapatos.

Partiste! De uma maneira formal e apressada fizeste as malas da solidão.
Já não era o abraço que pretendia, era o desenho a traço grosso dos teus lábios.
A lua afagou os meus cabelos e a areia da praia foi só um predicado para o poema
carente das dores minimais. Da manhã fria daquele lúgubre lugar, um desafio. Era eu
que tinha de resolver a equação perniciosa e demorada do teu singular atrevimento.

4 de outubro de 2007

Teatro O Bando - Palmela

Hoje falo-vos do Teatro "O Bando", companhia das mais estimulantes em termos criativos, original, com um cunho muito forte de sensibilidade, carinho e uma relação com o espaço (e com a terra) bastante intensa. Nascido a 15 de Outubro de 1974, vai comemorar dentro de dias o seu 33º aniversário. Inicialmente nasceu de um grupo de amigos que decidiram formar um colectivo forte, com preocupações pedagógicas, sociais e políticas. Começaram apenas como uma Companhia de Teatro para a Infância e Juventude, com uma preocupação de itinerância bastante forte. Um dos pontos altos do grupo surgiu ainda nos anos 70, quando realizam uma digressão por Trás-os-Montes, onde fazem animação cultural com as populações das aldeias locais. Além disso, com as associações culturais e grupos de teatro locais, fazem uma troca de conhecimentos e de partilha de saberes que deixou uma marca profunda em ambos. João Brites, um dos fundadores e actualmente director artístico e encenador realça esse facto para o crescimento d'O Bando. Após muitos espectáculos e digressões, passam a realizar espectáculos também para o público adulto, num esforço de pesquisar novos rumos e dramaturgias. Importante marca d'O Bando são as máquinas de cena, objectos feitos propositadamente para os espectáculos, desde pequenas a grandes dimensões. Além disso, os textos para cena são adaptados de romances, contos, novelas, com uma linguagem muito particular. O Bando gosta de actuar em locais não convencionais, como jardins públicos, autocarros, comboios, em castelos, em barragens. Por isso, a mudança, desde 1998 para o espaço da Quinta de Vale de Barris, em Palmela, no meio do campo, das oliveiras, da encosta da Serra, dos animais e do frio do inverno (aquecido à lareira).
Um espaço que tem permitido aproveitar os diversos hectares e paisagem envolvente para os espectáculos, onde podemos também vislumbrar as máquinas de cena, espalhadas pela quinta.
Além de João Brites, grande mentor e entusiasta, sempre com um sorriso nos lábios e uma afabilidade que nos põe à vontade, é toda uma equipa notável, predisposta a ajudar, a esclarecer-nos, a sentir-nos em casa e a sentir a energia de pertencer ao Teatro "O Bando".
Uma referência especial para alguns nomes que fizeram o grupo, como a saudosa Natércia Freire (produtora recentemente falecida) que era uma força da natureza, pela coragem, sabedoria, empenhamento. Do grupo de actores, destacam-se pela ligação desde o início (ou quase) os nomes de Raúl Atalaia, Cândido Ferreira, Horácio Manuel, Adelaide João, Paula Só, Antónia Terrinha, Bibi Gomes, Gonçalo Amorim, Nicolas Brites, Fátima Santos.
Quem puder ir a Palmela, conhece não só uma localidade lindíssima (com o seu castelo), mas também uma quinta especial onde se faz um teatro de gente singular. Não deixem por isso de visitar O Bando, já que têm um espectáculo em cena, até dia 21 de Outubro, escrito por Jacinto Lucas Pires para O bando, que tem por título "Os Vivos", às 22:00(de quinta a sábado) e 17:00 (Domingo). Para descobrirem e entrarem no mundo d'O Bando, vão a http://www.obando.pt/ (na foto: espectáculo "Os Vivos")

3 de outubro de 2007

Teatro na Península de Setúbal

Como a nova temporada está a começar, volto novamente ao teatro, após ontem ter falado das Companhias de Cascais e Sintra. Hoje passamos o tejo, pela ponte ou de barco e aportamos a Almada, um Concelho com imensas companhias, graças tudo à importância do Festival de Almada, organizado há mais de 20 anos pela Companhia de Teatro de Almada (ex- Teatro de Campolide, em 1971). Depois de estarem em Lisboa, decidiram-se mudar para a margem sul do tejo, em 1978, com o desejo de uma descentralização teatral numa terra operária e sequiosa de eventos culturais. A CTA, fundada por Joaquim Benite e ainda hoje o seu Director Artístico e Encenador, é uma importante companhia, agora com novas instalações (o belíssimo Teatro Municipal de Almada), que tem desenvolvido um repertório universal, indo do clássico ao contemporâneo, do mais popular ao mais "underground". Vale apena ir a Almada ver o novo espaço de Teatro, um dos mais bem equipados do país e projectado pelos Arquitectos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, em que o 1º colabora regularmente na cenografia dos espectáculos da CTA. Ou seja, houve um cuidado com a acústica e uma construção pensada para fazer teatro com as melhores condições. Mas também vale a pena ver a Companhia, o seu rigor no fazer teatral e em Julho (de 4 a 18) não perder o Festival Internacional de Teatro de Almada, o mais importante festival de teatro em Portugal, não só pelas Companhias que traz (da Argentina, Chile, Brasil, México, Angola, Tunísia, África do Sul, mas também de toda a Europa), mas pela reunião de um grande número de pessoas que vivem e vibram com o teatro. Depois, há encontros com os artistas, encenadores, críticos, técnicos, uma panóplia de eventos associados que se torna imperdível. Consultem o site http://www.cta.pt/ para saberem mais. De referir ainda os nomes de António Assunção (Duarte e Companhia da TV) e Canto e Castro (grande actor de teatro e de muitas séries, filmes e novelas), já falecidos, mas que fizeram parte da CTA.
(na foto: Joaquim Benite)
Descendo um pouco no mapa, chegamos a Setúbal, ao TAS - Teatro de Animação de Setúbal, uma companhia que teve grandes nomes do teatro (e da televisão), infelizmente já falecidos. Falo-vos do Carlos César, grande impulsionador da Companhia, Director e Encenador até à sua morte, mas também de António Assunção (que posteriormente pertenceu ao Teatro de Almada), Carlos Daniel (depois actor do Teatro Nacional). O TAS foi criado em 1975, nascendo para mostrar teatro popular, para a infância e os clássicos à população em geral. O site da Companhia é http://www.tas.pt/ e lá podem encontrar todo o historial. Mais um grupo importante que fez a descentralização num distrito sempre carenciado, com o desemprego, o fecho de fábricas, mas com uma curiosidade cultural que sempre foi ávida. Após o 25 de Abril, Setúbal, Almada, Barreiro, Seixal, Moita, Palmela, foram palco de muita cultura operária, de muita música (lembre-se que José Afonso vivia em Setúbal por esta altura, além de outros artistas), de muitas noites de verão à volta da fogueira (lembro-me na Costa de Caparica e junto às praias), um associativismo em grande escala (Almada, Barreiro, Seixal, Setúbal), que transformaram estas populações com mais sensibilidade para a cultura. Nota-se nestes dois grupos, uma vertente política bastante grande (influências de Brecht), maioritariamente ligados a concelhos pertencentes ao PCP, o que ainda hoje se verifica.
Para amanhã fica o Teatro O Bando, de Palmela, merecendo um destaque isolado, por ser uma companhia diferente, que muito aprecio.

2 de outubro de 2007

Se é de jazz, podem.

Aqui se dá conta, antes que seja depois de amanhã, da 4ª edição do Jazzin`Tondela, o festival de jazz organizado pela ACERT. Neste preciso momento, ou como soi dizer-se as I write, milhares e milhares de dépliants circulam de mão em mão pelo país com tudo o que urge saber sobre o Jazzin`. Não obstante, conheça todo o programa do festival.



E que bom é recordar Matthew Shipp, o pianista que - a solo - abriu a 1ª edição do Jazzin`Tondela, a 9 de Junho de 2004!

Jazz or die!

Teatro nas Linhas de Sintra/Cascais

Tínhamos ficado em Évora, com o CENDREV. Aportamos agora ao litoral, ao Distrito de Lisboa, para destacar quatro companhias, apesar de estarem próximas da capital. A primeira é de Sintra e chama-se Companhia de Teatro Chão de Oliva - Centro de Difusão Cultural, fundada em 1990. Além da Companhia, dirigida por João de Melo Alvim desde o início, existe uma outra estrutura, dedicada às marionetas, com o nome de Marionetas Fio d' Azeite, criada em 1992.
Tem feito um trabalho de grande valor em terras Sintrenses, onde a maioria da população tinha de se deslocar a Lisboa para ver bom teatro. Ganhou público fiel e apresenta regularmente os seus espectáculos, sempre diferentes, na sua sala, a bela Casa de Teatro, intimista. Mais informações, consultem o site http://www.chaodeoliva.com/
A outra Companhia, é bem mais antiga, mais conhecida e divulgada, o que não significa maior qualidade que a anterior. Actuam no Teatro Mirita Casimiro, no Estoril e são o TEC - Teatro Experimental de Cascais, dirigidos por Carlos Avilez, que durante anos acumulou o cargo com o de director do Teatro Nacional Dona Maria II. O TEC nasceu em 1965, sendo por isso das mais antigas companhias independentes no país, só superada pelo TEP - Teatro Experimental do Porto, que é mais antigo, pois foi fundado em 1953, na altura do saudoso António Pedro, o 1º encenador moderno e profissional em Portugal.
O TEC é bastante conhecido, pois a maior parte dos seus actores faz parte de novelas e séries de televisão, bem como filmes nacionais. Por outro lado, já são mais de 40 anos de actividade ininterrupta, sempre com uma escolha criteriosa do repertório, com textos clássicos e contemporâneos, além de grande destaque ao repertório de Gil Vicente e outros dramaturgos, com espectáculos para as escolas e a infância. O TEC já tem uma larga implantação em Cascais, Oeiras e até consegue atrair muito público de Lisboa, devido às personalidades que fazem parte dela, casos de Carlos Avilez (na Direcção e Encenação), Anna Paula (Actriz), João Vasco (Actor e Director Artístico), Teresa Côrte-Real , Fernanda Neves, Santos Manuel, António Marques (Actrizes e Actores), entre outros, com uma enorme experiência profissional, sempre ligados à Companhia de Cascais. Mais informações em http://www.tecascais.org/.
Em Queluz, Concelho de Sintra, existe a Companhia Teatrosfera desde 1995, fundada por profissionais que tinham trabalhado em Companhias da capital, como Paula Sousa, Paulo Oom e Teresa Faria, entre outros. têm um repertório virado para a infância, mas também com textos contemporâneos de índole social e multicultural. mais informações em http://www.teatroesfera.com/.
Em Sintra, ainda uma breve nota para o Teatro TapaFuros, uma Companhia com 17 anos de existência, o site é http://www.tapafuros.com/. Por agora, ocupam as instalções do Cine-teatro DoisEme, que fica no Centro Comercial da Bela Vista (em Mem-Martins), mas fazem regularmente espectáculos na Quinta da Regaleira e noutros locais alternativos do Concelho de Sintra. Rui Mário é o Director e Encenador de muitos espectáculos, bem como Filomena Oliveira. O Repertório baseia-se em textos contemporâneos, muitas vezes com influências da poesia, dos contos, da ficção, que adaptam depois para o teatro singular que realizam. Um obrigado ao Fábio pelas infomações que prestou. Já agora, um abraço ao meu amigo David Martins, amigo da Companhia e que me levou a descobrir o Teatro TapaFuros (sem hífen)! Abraço e bom trabalho!
(Fotos:Logótipo do TEC e Cartaz da peça "Auto da Barca do Inferno" para o Teatroesfera)

1 de outubro de 2007

Guerra dos Fundos

Um homem. Em Guerra. No mato do desejo, o pó e a sede.
Carcomido corpo em desalinho. Pegadas de história. Nos
Juncos da neblina, uma viagem pelo inferno. O Coronel
anuncia o ataque iminente. Destroços e um perigo sempre
à espreita. Correr, deitar-se no chão. Silêncio! O inimigo
pode ser mortal, mas a nossa memória é infinita.

Assinar o acordo. Uma paz podre, despedidas e um lastro
de solidão. Adivinhar o passado, calcorrear os rios da saudade.
Fazer finca-pé ao destino! Acreditar no que há-de vir. Pensar
e ser, comungar o outono da poesia. Saltar, levantar-se do soalho
imaginado e deitar fogo aos pesadelos do presente. A vida agora
faz-se de sonho, num deambular de cinzas pela cidade inteira.