11 de outubro de 2007

Silêncio Demasiadamente Ruidoso

Regurgito o silêncio. O mal de estar só. Estou apaixonado pelas nuvens e no entanto,
elas dissipam-se. Corri atrás do teu abraço, estatelei-me ao comprido nessa pressa de ficar.
De joelhos esfolados e cara lavada em sal de lágrimas da demasia do meu coração, apertei-te
no escuro daquela colina. Tão perto e tão longe de ti! Sufoquei a minha mágoa, mas a morte
era já tua. Deambulei pelo riacho, meti a cabeça dentro de água para resfriar afectos, mas só
te via a ti, essa lívida face de estrondo em demanda circular. Arrastei-me pela névoa dentro,
só o frio fazia companhia aos meus ossos, só eles tinham vida e acção. Tudo o resto era mar,
ondas de paixão, frenéticos movimentos ondulatórios e um turbilhão de saudades. Quero-te
tanto, amor. Sim, palavra furtiva e incandescente. Rasuras a emoção em milésimos de segundo!
E agora, recalcitro o aparato, a prolixidade de te não ver nem compreender. Merda de vida, merda de pesadelo da paisagem, merda em decúbito dorsal, em mim mesmo derramada na
outonal ideia de querer a felicidade. Estou com o corpo mordido por insectos que me sugam
o sangue, já nada resta neste interior. Nem pranto nem melopeia sentimental. Só carne e espectros. Jazem abandonadas na paisagem restos de ciúme, sucata velha e carcomida de pecado. Já não mora ao lado a sedução primeva. No jardim abandonado, cacos e rostos sibilinos, tranças e soporíferos, poluição em barda. Há orquídeas que se esqueceram de ser selvagens e duendes que cresceram em demasia. Só eu, perdido no teu retrato inconstante, tento amparar a queda dos impérios antiquíssimos. Há horas em que o porvir dilacerado abre fendas na fealdade dos homens, seres em demasia na circunvalação dos desejos. Prata esquálida e reluzente, motociclos em planetas distantes e o dislate da fruição. Perco-me nas rotundas do sonho e embriago a realidade sensível na minha breve fúria demasiado ruidosa.

2 Comments:

Blogger Lcego usou da palavra

... Olá...já por cá passate, já sabes do que falo. Sim são dois anos, nem me tinha dado conta...(Orgulhosamente resistente... mas com alguns calhaus no saco.)vou com tempo visitar o teu blog...merece tempo. Beijo L*

11 outubro, 2007 12:22  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

És persistente, com os calhaus no teu saco de memórias. Que bom visitares este blog das hediondas criaturas, a começar por mim!
Beijo oddm*

11 outubro, 2007 18:41  

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