8 de outubro de 2007

A Traço Grosso

Chegaste! De um modo estranho acariciaste o rosto esquálido do teu gato.
Na demanda das imagens, riscos desconexos no desvario melífluo da caminhada.
O porte do teu cavalo era serradura para os meus olhos. Passeaste-te na tarde
dolente das carícias animais. Rastos e suores frios de uma tarde taciturna. Só tu
me podias salvar do desassossego das palavras, dos ritmos nauseabundos da cidade.

E agora o nada, um vazio intemporal e uma hedionda carantonha que te sorri. Perdes-te
no acumular de papéis e contributos fáceis da memória. Preferes rasgar o sorriso de outrora
e ancorar um barco velho no teu porto de abrigo. Encantas o horto na madrugada da suave
música nos meus ouvidos infames. Protesto com um esgar de dor, retribuo-te com a violência
física que mereces, um whisky na tua mão e ato-te com os cordões dos meus rotos sapatos.

Partiste! De uma maneira formal e apressada fizeste as malas da solidão.
Já não era o abraço que pretendia, era o desenho a traço grosso dos teus lábios.
A lua afagou os meus cabelos e a areia da praia foi só um predicado para o poema
carente das dores minimais. Da manhã fria daquele lúgubre lugar, um desafio. Era eu
que tinha de resolver a equação perniciosa e demorada do teu singular atrevimento.

4 Comments:

Anonymous Anónimo usou da palavra

Como já uma vez disse e repito «lindo». Era capaz de me apaixonar! Era muito mais fácil: as palavras são fáceis e são difíceis mas sempre presentes. Fantasia ou reaLIDAde. No entretanto tenhamos uma boa e profícua vida.
afectos

08 outubro, 2007 20:23  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Apaixonar só pelas palavras. Porque o poeta por detrás não corresponde à fantasia que as palavras insinuam. São traços grossos de uma vida ora calma ora agitada, ora mais inspirada ora menos. Quanto a ti, se fores a afectos dos blogues que costumava ler, só te digo: sinto a tua falta! Gosto de te ouvir e ver, saborear essa maneira de ser, que também é singular e que admiro. Quanto à LIDA diária desta fantasia de palavras, apenas digo que me baseio na realidade que vejo, num prisma meu e que não interessa se é o mais correcto ou real. É isso sim, uma vontade que me sai do coração, da boca, de todo um corpo que é sensível e tem um frenesi de pôr logo num local onde possa repousar e ser visto. Sinto-me muito mais à vontade a escrever aqui, na máquina, que no papel, onde por um lado, tudo é mais lento e remoído, triturado, até obter uma forma mais pura. Aqui, agrada-me bastante o lado visceral, impulsivo da escrita sem rasuras, à 1ª vez, sem pensar em perfeccionismos estilísticos ou semânticos, ou de métrica, embora goste de manter uma certa unidade e circularidade no poema, como é exemplo este caso (3x5) e um início e um fim simétricos, opostos, mas que se tocam, explorando contradições, uma ideia de movimento (partida Vs chegada) e outros aspectos.
Já é muita prolixidade! Ou seja, escrevo muito, mas se calhar não consigo transmitir nada daquilo que quero dizer de um modo inteligível. Será?
Mas dize-me:
- Onde andam os teus blogs, ou o que é que estás a preparar? Com uma grande dose de afectos te respondo aqui neste comentário longo. Mas a vida é feita destas profícuas comunicações (como disseste) e dá-me vontade de falar a quem gosta de nós. Não falo no sentido do apaixonar do termo, mas gostar de viver, de descobrir novos passos, novas viagens, novas pessoas. Mesmo sem se ver, há gostos e escritas que são comuns, que nos identificam. És parte desse universo! E que te apaixones sempre pela vida fora!
a_deus

08 outubro, 2007 22:37  
Anonymous Anónimo usou da palavra

Afectivamente neste momento estou mais a escrever para mim do que para os outros. Por isso o meu blogue circula na blogoesfera. Qualquer dia estaciono.
afectos

09 outubro, 2007 10:29  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Efectivamente desejo-te boa aprendizagem e criatividade, amadurecimento pessoal.
Vais um dia chegar ao patamar em que vais querer lançar novas sementes. Bom trabalho.

09 outubro, 2007 13:16  

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