Era do amor. Era do amor que falava quando se erguia na sala minúscula. Defronte para os alunos, o professor explicava de que matéria eram feitos os humanos. Uma espécie de fábula anatómica que começava nos ossos e terminava no toque de saída.
Assim era este professor, alto, magro, de nariz adunco. Com o apontador, explicava detalhadamente os ossos aos seus alunos.
-Aqui fica o Rádio e o outro é...- o Cúbito, respondia Armando, o aluno aplicado.
- Mais abaixo temos aqui o Ilíaco, importante para andarmos, pois articula-se com, diga lá Luís...
- O peróneo?!
-Não meu caro, o Fémur! O FÉMUR! O osso mais comprido do nosso corpo.
Depois sim, temos o peróneo e a Tíbia.
- Sim, são aqueles que os futebolistas mais quebram! retorquiu Tiago, que sonhava com as trivelas do Quaresma ou os sprints e fintas do Ronaldo. -Um dia hei-de ser assim! Um grande jogador de futebol!
E agora, os aparelhos: - Digestivo, Circulatório, Respiratório, Urinário ou Excretor, Reprodutor.
Vamos por ora falar somente destes. Do digestivo já falámos. Lembram-se de qual o órgão responsável pela eliminação de substâncias tóxicas?
- O Rim?! Perguntou Fernando, sem ter pensado muito bem na resposta. Apenas queria participar.
-Não, o rim pertence ao sistema ou aparelho urinário! Quem sabe? Armando?
- Err... Bom...acho que o...Fígado!? disparou a palavra, sem ter muita certeza.
-Muito bem, é mesmo o Fígado, que degrada tudo aquilo que ingerimos de tóxico, desde o Álcool, aos tóxicos da carne, peixe e produtos perigosos para o nosso organismo.
-Passemos ao aparelho circulatório! Qual o órgão vital para a circulação e um dos mais importantes para a sobrevivência?
- O cérebro? Disse André! Risada geral!
- Não! Esse pertence ao Sistema Nervoso! Então? Vá, eu dou mais uma pista: é o órgão do amor, dos sentimentos, da paixão, que nos acelera todo o ritmo cá dentro. As palavras, as acções, a alegria, tudo é mais acelerado.
Silêncio geral. Os meninos a pensar, naqueles 7 anos de vida breve, feliz.
Ninguém soube dar a resposta certa. Uns disseram pulmões, outros nervos, outros músculos, mas nenhum deles sentira ainda essa energia vital.
Nesse dia o professor compreendera que os seus alunos não sabiam ainda o que era o amor!