24 de maio de 2007

Flor do Deserto

Prismas na área adjacente
os ridículos ceptros esfomeados
em festins carnais

Ajaezado em contramão
o horror das pilhas de cadáveres
e um só corpo a balançar

Soluçando na orla do desejo
a criança abriga-se num
telhado de zinco, chapa fria
para a neve em surdina

Numa mão, a iridescente flor aberta
noutra, um pedaço de papel ensanguentado

Tristeza da tortura, conluios vários
a ordem de libertação de Sara,
a menina-condão amarrada
à letra breve, conspurcada.

Sai amanhã às cinco da tarde
pelo seu próprio pé, na bruma do pó
desértico, amordaçada na sua dignidade.
É jovem, bonita, uns olhos que respiram
a dor alojada ao canto da memória.

Só, é entregue ao vazio, a uma vida
desamparada, a percorrer na lama
da inocência uma dura esperança
de um futuro que se faz tarde.

Memórias dos mortos, da guerra,
dos campos de concentração.
Duras palavras, hein?
É a agonia das nossas vidas
em comprometedor silêncio!

3 Comments:

Blogger Afectos usou da palavra

"Duras palavras, hein?" mas excepcionalmente verdadeiras do princípio ao fim.

27 maio, 2007 16:38  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Ah! E isto não tem nada a ver com o deserto da Margem Sul, zona de onde sou natural.
Porque os Camelos também se abatem, chega de Mário Lino.
Um nome tão bonito (Mário), ser assim desperdiçado em tão imbecil cabeça!
Vê-se mesmo que nunca foi passear para a Serra da Arrábida, para Palmela, Sesimbra, para ver uma natureza luxuriante e nada seca!
Deserto de ideias, é a cabeça deste ministro! É que a malta da Margem Sul já está farta de ser gozada e ser tratada como lixo tóxico, refinaria, fábrica de adubo, siderugia, estaleiro naval, incineradora, cimenteira, petrolífera, central térmica, etc, etc, etc. Temos orgulho do que somos, mesmo sendo pobres e mal tratados!

29 maio, 2007 19:21  
Blogger Aladdin Sane usou da palavra

Pois entre desertos e Otas, chernes, Botas, vinho verde e potas, a tua verve está cada vez mais refinada e acutilante. Temos poetapirómano a debitar poesia-fogo-sem-artifício, qual rajada de metralha-a-dor.


(Pois bom trabalho aí com o texto do Sr. Pintas.)

30 maio, 2007 00:47  

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