29 de dezembro de 2009

E no entanto

E no entanto, ando.
Corro pelo mundo nas asas da noite.
Apenas um sufrágio universal aconchega
as rotas da perenidade. Perdi-me nos
solstícios de inverno e só o teu sorriso
pode resgatar as nuvens do desvario.

E no entanto, persigo.
Mudo todas as tabuletas da exegese.
Acomodo o meu olhar às tuas fotos
do sublime. Entre a misantropia e o
Oceano, um ror de maresia. Um botão
dourado a rebentar de impaciência e dor.

E no entanto, és tu.
Mulher-poema em fruto-proibido à beira-mar.
Um copo entre os lábios entre a salsugem do desejo.
Persignar-me perante a indecisão das horas
e finalmente, dar corda ao relógio das madrugadas.
Chegar finalmente à enseada do teu corpo.

25 de dezembro de 2009

6.0 na Escala de um Sismo

Um Sismo, um tremor que a terra treme.
Um terramoto bem sentido.
Do Algarve ao Minho.
Dia 17 de Dezembro, pelas 1 hora, 37 minutos e 47 segundos.
Por aí. Entre os 5.7 do pH da pele e os 6.1 dos mais alarmistas.
Ou dos mais Epicentristas, como nós, aqui no Algarve!
Senti-o. Pela primeira vez. A casa a abanar, as chaves a tilintar.
A adrenalina no ar. 10 segundos de puro prazer.
E depois, as réplicas. A calma, o sono. Os comentários do dia seguinte.
Já está! Neste natal, para que eu recorde.
O meu primeiro sismo para poder escrever e registar!

22 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt. XI (Sion, Lausanne, Genève)

Fig 1- Château de Valère
Esta foi a última viagem! De Sion até ao aeroporto de Genève, que me trouxe de novo a Lisboa.
Pelo meio, uma paisagem fantástica do Lago Lemán (o maior da Suíça). Mas comecemos pelo início, a cidade de Sion, capital do grande cantão de Valais. Sion situa-se num planalto, na margem norte do rio Ródano e no sopé de duas colinas, cada qual com o seu castelo medieval. Um é o Château de Tourbillon, uma fortaleza elevada com altas torres quadradas. Foi construído no Séc. XIII, como residência do Bispo Bonifácio de Challant. Foi destruído por um incêndio em 1788 e reconstruído de novo. Possui ainda uma capela medieval. Em frente, na outra colina, encontra-se o Château de Valère, que hoje alberga o Museu Cantonal de História. Foi construído no Séc. XII e originalmente era uma igreja fortificada, a Notre-Dame-de-Valère. No interior, além da beleza dos capitéis românicos, possui um órgão, de 1390, o mais antigo do mundo ainda em funcionamento. O museu alberga obras da região, relativas à sua história e valeu a pena a visita. É um local lindíssimo, que fica perto do centro histórico da cidade, tendo apenas que se subir os últimos 500 metros até ao alto da colina. Mas vale a pena o esforço.
Fig. 2 - Château de Tourbillon ao fundo
Sion foi fundada no Séc. I, com o nome de Sedunum, e os dois castelos são vestígios do poderoso bispado que governou o Cantão de Valais durante séculos. Durante a Idade Média, Sion foi um importante centro produtor de vinho e fruta, pelos quais o fértil vale do Ródano é ainda hoje conhecido. Os excelentes vinhos de Sion, são ainda hoje muito apreciados, sendo a principal região vinícola do país. Além das ruas do centro histórico com os seus edifícios góticos e rensacentistas, pode ver-se o Museu Cantonal das Belas-Artes, com artistas da região, o Museu Cantonal de Arqueologia, que possui achados da presença Romana, mas também dos Gregos e Etruscos. O edifício do Hôtel de Ville (a Câmara Municipal), é um edifício branco, com uma torre de relógio muito bela, encimado por uma cúpula e torre-lanterna. No interior, possui inscrições romanas na parede. Uma delas diz 377, a mais antiga do género, na Suíça. Este edifício data de 1665, com belas portas em talha de madeira e a visitar, sempre que possível. Além destes edifícios, a Catedral de Nôtre-Dame du Glarier é de visita obrigatória, pois é do Séc. XII, com posterior reconstrução no Séc. XV, entre o campanário românico e elementos tardo-góticos. Por fim, visitar a Torre das Bruxas (Tour des Sorciers), com o seu telhado cónico, que é a parte remanescente das muralhas medievais de Sion. Hoje alberga um espaço de exposições temporárias. Sion tem muito que ver, também com os seus dois teatros: o Thêatre de la Valère, especializado em teatro mais clássico e um centro de acolhimento de produções teatrais do país inteiro e o Petit Thêatre, um pequeno teatro independente, com produções próprias, de cariz mais contemporâneo. Sion tem muito que ver, no que à história diz respeito.
Fig. 3- Sion - Hôtel de Ville

Já Lausanne é uma cidade enorme, cheia de gente, com Universidade (1540), com o Lago Léman em frente, com o Museu Olímpico (já que a sede do Comité Olímpico Internacional se situa aqui), a catedral de Nôtre-Dame, as igrejas e o Bel-Air Métropole, o primeiro arranha-céus a ser construído na Suíça. Hoje alberga o Thêatre Métropole, um dos pólos culturais mais importantes do país.
Lausanne foi fundada pelos romanos, no Séc. IV, junto ao lago e depois, com os Séculos, a cidade foi-se alargando para a colina, sempre a subir, por razões de espaço, mas também de segurança. Lausanne repousa sobre três colinas que se erguem em socalcos desde as margens do Lago Léman. O centro da cidade é a praça St- François. Depois, a zona comercial, a Rue du Bourg. Mais a norte, fica a zona antiga (vieille ville), dominada pela grande Catedral (Séc. XIII). A visitar, as igrejas, os Palácios (como o Palais de Rumine, onde funcionam o Museu de Belas-Artes, mas também o de Arqueologia e História), o Chatêau de St-Maire (1397), antiga residência dos bispos de Lausanne, hoje a sede da administração do Cantão de Vaud. Andar junto ao lago, na povoação costeira de Ouchy, é muito belo, onde depois vibrei com o excelente Museu Olímpico.(http://www.olympic.org/) A visitar, sempre! Também nesta zona, fica a Fondation de l'Hermitage, dedicada às artes visuais de origem francófona. Fica num belíssimo parque e vale a pensa visitar.
Fig.4 - Catedral de Lausanne
Como Lausanne tem muito que ver, mas também é algo confuso, com trânsito principalmente, resolvi deixar para outra vez uma visita mais profunda e parti rumo a Genève, destino final desta jorna, a fim de apanhar o avião no aeroporto internacional que me conduziria de novo a casa.
Genève é, tal como Lausanne, uma belíssima cidade, rodeada pelo enorme lago Léman, que separa a Suíça da França. De população essencialmente francófona, é um importante centro de negócios, com uma aura vanguardista e cosmopolita. É a sede europeia da Nações Unidas e da Cruz Vermelha Internacional. Genève está ligada, desde a sua fundação ao Império Romano, mas no Séc. XVI, apoiou a reforma, seguindo as ideias de Calvino. É conhecida como a Roma Protestante, sendo aqui um grande bastião, pois sempre albergou e atraiu refugiados reformistas vindos de toda a Europa. Foi anexada à França entre 1798 e 1813, juntando-se nesse ano à Confederação Helvética. Genève é hoje a capital mundial da diplomacia e sede de mais de 200 organizações internacionais. 
Genève é atravessada pelo rio Ródano, que segue o seu curso para França. É dividida pela água: na margem Sul, fica a cidade velha, a cidade universitária e o bairro dos artistas (Carouge); na margem Norte, fica a zona comercial e turística, com hotéis internacionais, além da Cidade Internacional, sede das organizações. 
Em ambas, existem inúmeras zonas verdes. Na zona do porto, em La Rade, encontramos a famosa fonte no meio do lago, o Jet d'Eau.
Fig. 5 - Palais des Nations, Genève (1930)

Fig 6- Vista geral de Genève e Jet d' Eau
 Além destas atracções , deve-se visitar a cidade antiga, com a Catedral de St-Pierre, a Île Rousseau (deve o nome a Jean-Jacques Rouseeau, esse filósofo do Iluminismo, que nasceu nesta cidade), o Hôtel de Ville (a Câmara Municipal, onde foi assinada a Convenção de Genebra, em 1864), as Maisons (como a Tavel, de 1334), as praças (como a Bourg-de-Four, onde se realizava o mercado na Idade Média) cheias de fontes, esplanadas e lojas. O Parc des Bastions, com um impressionante e gigantesco monumento, pois possui as figuras dos principais nomes da reforma, incluindo Calvino. Também existe uma Catedral Ortodoxa Russa, o Museu de Arte e História. Para terminar, visitar o Museu Internacional da Cruz  Vermelha, um comovente museu, que nos leva a repensar nas vidas e nos direitos humanos. Foi um banqueiro de Genebra quem criou a Organização em 1863, de seu nome Henri Dunant (1828-1910). De visita obrigatória! (www.micr.org). Por fim, o Palácio das Nações, criado em 1936, como sede da Liga das Nações (1920), tendo como fim preservar a paz no mundo e as relações internacionais, depois da Grande Guerra. Em 1946, depois do fim da Liga das Nações, tornou-se sede europeia da ONU. Pessoas de todo o mundo trabalham aqui e a sede é considerada território internacional. Visitar Genève é andar por uma cidade cosmopolita e onde se encontram pessoas de todas as culturas e línguas. Um verdadeiro pote cultural imenso, aliado a uma beleza natural ímpar. Agora, fiquem com as imagens deste percurso final. Até já, e boas viagens!

20 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt. X (Glacier Express-St. Moritz a Zermatt)

Depois de St. Moritz, tomei o comboio turístico que passa por entre os Alpes, numa viagem que demorou 8 horas, sempre a subir e a descer devagar. Nas montanhas, estes comboios possuem a chamada via de cremalheira, que permite além da maior segurança e aderência aos carris, permitir que as subidas não se tornem tão penosas. Uma viagem turísitca por excelência, que vai desde os Alpes Réticos, passa pela região do Ticino, que faz fronteira com Itália (e onde se fala Italiano), passa por um conjunto de túneis e desfiladeiros - as passagens de S. Gotardo, e o conjunto das três passagens (Grimsel, Furka e Susten). A passagem de São Gotardo faz a ligação entre o Norte da Itália e o centro da Suíça (Lucerna e Zurique). Ergue-se a 2108 metros de altitude e esta passagem existe desde o séc. XIII, quando foi construída uma ponte sobre a ravina. Existe hoje o museu nacional de S. Gotardo, que assinala a construção desta passagem ao longo da história, bem como os costumes locais e a fauna e flora existente. Divide os cantões de Ticino (a Sul), com Uri (a Norte). A Capital do cantão de Uri é Altdorf, uma cidade mais a norte. As outras passagens, dividem também cantões. A Passagem de Grimsel separa o cantão de Berna (a Norte), com o de Valais (a Oeste), por onde vai seguir a linha de comboio. A passagem de Furka separa os cantões de Uri (a Norte) e o de Valais (a Oeste), passamos também dos Alpes Berneses (a Leste), para os Alpes Peninos (a Oeste). Por fim, a passagem de Susten separa os cantões de Uri (a Leste) e o de Berna (a Oeste). Todas estas passagens situam-se a mais de 2200 metros de altitude. Estamos quase no centro do país, numa região onde vários cantões se encontram. Depois de umas horas, passamos por entre estas passagens, sempre a grande altitude, no meio da alta montanha. Depois de um dia de céu limpo, dá-se um fenómeno impressionante. A caminho de Andermatt, já na descida, o céu fica rapidamente coberto de nuvens, que por fim, acabam por se transformar num nevoeiro intenso, em pleno verão. A alta montanha tem destas coisas! Andermatt é basicamente uma estância turística, em que as pistas de neve são a atracção principal. As caminhadas também. Como estava muito frio e humidade, segui rapidamente para Oeste, para entrarmos finalmente no cantão de Valais, destino final da minha viagem, mais concretamente em Sion, a capital do Cantão. De referir que não fui desta vez ao cantão do Ticino, onde a vida é muito diferente da maior parte da Suíça. Aqui fala-se italiano e as pessoas tem hábitos claramente mais latinos. Já tinha visitado noutra ocasião, mas refiro apenas as cidades principais, que devem ser visitadas: Bellinzona (a capital do cantão, com 18 000 habitantes), Locarno (uma bela cidade junto ao lago Maggiore, com 15 000 habitantes) e Lugano (a sul de Locarno e junto ao lago Lugano, com 26 000 habitantes). Todas possuem uma arquitectura de estilo italiano, bastante turísticas, cheias de glamour, com os lagos onde se pode tomar banho. São cidades muito mais amenas que o resto da Suíça, com clima mediterrânico. Muitos famosos passeiam-se por aqui, como George Clooney, que possui aqui uma mansão.
Deixando a vida social, ficamo-nos por agora com este apontamento breve ao Ticino, que a nossa viagem ainda vai a meio. Depois de Andermatt, o comboio vais descendo até altitudes mais baixas, sempre em paisagens rurais, junto aos rios Reno (na fase inicial) e Ródano (depois de Andermatt), com os chalets de madeira, as montanhas, os prados, o imenso verde. Ao fim de algum tempo, chegamos finalmente a Brig, uma cidade do cantão de Valais, com casas em pedra. É banhada pelo Ródano, e possui algumas pontes (daí o seu nome em alemão), mas o seu ex-líbris vai para as três torres quadradas do palácio Stockalper (um rico mercador que construiu um grande palácio renascentista e barroco, de 1658), lindíssimas e grandiosas, com cúpulas vermelhas a embelezar ainda mais a cidade. Brig tem 10 000 habitantes.
O comboio segue então para a viagem final de Brig (passando por Visp), até Zermatt. Zermatt é uma estância turística, valorizada porque fica defronte da montanha mais famosa da Suíça (e talvez da Europa), o Matterhorn (ou Monte Cervino, na parte italiana). O Matterhorn é a montanha mais representada em postais, em produtos Suíços, em especial o chocolate "Toblerone", conhecido por todos. O Matterhorn situa-se a 4478 metros de altitude! Separa a Suíça da Itália e é uma montanha difícil de se escalar, pois o seu pico é muito aguçado. Muitos alpinistas já faleceram ao tentar vencer este cume. Zermatt é optimo para os turistas menos afoitos no alpinismo, pois as vistas e as fotos a partir dali são soberbas! Zermatt é uma das capitais do Ski, quase o ano inteiro. Pode visitar-se o Museu Alpino, que retrata todas as façanhas e as tragédias em torno do Matterhorn, com ênfase para o feito de Edward Whiymper, o primeiro a escalar a montanha, em 1865. De Zermatt pode-se apanhar uma via ferroviária de cremalheira e um teleférico que se aproxima do Matterhorn. E aqui termina a viagem no famoso Glacier Express, que atravessa a Suíça de Leste a Oeste, sempre entre as montanhas e os glaciares. De Zermatt voltei para Visp e aí tomei o comboio expresso até Sion, em pouco mais de 30 minutos. Cheguei cansado mas feliz a casa, na zona oeste de Sion, já bem de noite, onde os familiares me aguardavam ansiosamente pelos relatos das aventuras desta grande viagem!
Fig 1- O Pico Bernina (2330 m), por onde passa o Glacier Express
Fig 2- Uma das pontes emblemáticas desta linha turística
Fig 3- A passagem de São Gotardo, perto de Andermatt
Fig 4- A pequena cidade de Andermatt rodeada de montanhas
Fig 5- A cidade de Brig, com as torres do palácio Stockalper
Fig 6- A vila de Zermatt com o Matterhorn ao fundo (o fim de linha do Glacier Express)
Fig 7 - A linha de cremalheira de Gornergrat, entre Zermatt e o pico Matterhorn

18 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça pt. IX (Chur, Davos, Saint-Moritz)

Depois do Liechtenstein, regressei à Suíça e às linhas de Comboio. Chegando a esta região oriental, estamos no maior cantão do país, Graubünden (Grisões), que é o mais fabuloso do país. Pela paisagem, pelos chalets de madeira, pelo turismo de montanha, pelas linhas de comboio mais espectaculares (Bernina Express e Glacier Express) e pitorescas do país, com linhas a cerca de 3000 metros de altitude. É aqui que também passei pela vila de Heidi, esse ícone da literatura infantil, que passou ao cinema nestas encostas de Maienfeld, mais concretamente ao lugar de Oberrofels, onde se pode visitar a casa da Heidi. Ao longo do caminho, as paisagens são de cortar a respiração, tamanha é a beleza que nem sei descrever. Os rios ao longo da linha e das pequenas aldeias e lugarejos, as montanhas com neve o ano inteiro, os prados, a paz e a natureza intacta absorvem-nos de tal maneira, que não apetece sair desta região. É neste cantão, numa zona entre a Áustria (a Leste) e a Itália (a Sul), que encontramos o Parque Nacional Suíço, o único com esta denominação. Merece uma visita demorada, este Parque preservado desde 1914, com uma área de 172 km2. Tem uma fauna e flora raras, por isso o cuidado extremo na sua preservação. A melhor maneira de visitar o Parque é pelos trilhos todos sinalizados, a pé ou de bicicleta. O ideal são dois dias para se ver com atenção. Estamos numa região predominantemente rural. Mas também estive em zonas mais urbanas e habitadas, como a Capital deste cantão de Graubünden. Essa cidade é Chur, que é bastante antiga. Desde o séc. I a.C. que os Romanos aqui habitavam. Depois tornou-se sede de bispado, no séc. V e manteve essa importância ao longo dos tempos. Com a reforma, passou a ser governada por mercadores abastados e ainda hoje ostenta essa riqueza. Chur tem 35 000 habitantes. Destacam-se a Catedral Românico-Gótica, de 1151, o ex-líbris da cidade, demonstrando a importância religiosa. A padroeira é Sta Maria Himmelfahrt.
Outros monumentos a destacar: mais igrejas (St. Luzius e St. Martin), a primeira surgida de uma cripta do séc. VIII e a segunda um monumento tardo-gótico, concluído em 1491. O Bischöflicher Hof, a residência dos Bispos, fundado no séc. VI, no antigo local de um forte romano, hoje estrutura palaciana, remodelada no séc. XIX. A visitar, a Obere Gasse, a rua comercial e elegante da cidade, que termina no Obertor, a porta gótica de entrada na cidade, às margens do rio Plessur. O Museu Rético (Rätisches Museum), assim denominado porque as montanhas da região são os chamados Alpes Réticos e este museu retrata a vida de Chur e desta região, desde a pré-história à actualidade. Ainda os Museus de Belas-Artes e o Museu da Natureza. Para terminar, destacam-se a Rathaus (Câmara Municipal), do séc. XV, de linhas góticas e as praças com os seus edifícios mais emblemáticos. São elas a Postplatz e a Regierungplatz, com os edifícios do governo cantonal e a Graues Haus (Casa Cinzenta).
Vale a pena passar um dia em Chur. Segui viagem, mais para sudeste e cheguei a Davos, importante pelas pistas de Ski, como centro turístico e hoje mais conhecida porque é lá que se realiza o Fórum Económico Mundial, sempre em Janeiro, com as maiores potências económicas mundiais. Davos possui uma ligação forte com o escritor Thomas Mann, pois ele viveu e escreveu lá "A Montanha Mágica". Também o pintor Kirchner por ali viveu, desde 1917. Hoje existe um museu com o seu nome, pintor maior do expressionismo. Davos é a capital do snowboard e possui mais de 300 km de pistas na neve. Klosters é uma população mesmo ao lado de Davos, conhecida também por ser uma estância de neve. Em Klosters temos uma Igreja, a de St. Jakob, conhecida pelos vitrais de Giacometti. Nesta região, de destacar as localidades de Arosa e Bad Ragaz. A última, além de estância de neve, também é uma estância termal, das melhores do país. Todas estas vilas têm uma população nunca superior a 10 000 habitantes, o que atesta a sua qualidade de vida.
Mais conhecida e populosa é a grande estância turística de Saint Moritz. Muito conhecida pelo turismo de inverno, pelos Jogos Olímpicos de inverno, pelas celebridades que ali passam as férias de inverno ou que habitam regularmente na cidade. A paisagem é deslumbrante, com os alpes em volta, o lago e o Moritzersee. Além do ski, do snowboard, das pistas de tobogan, da prática do curling, ainda temos as caminhadas e trilhos no verão. Também é uma zona termal, com muitos aquistas a frequentarem estas águas curativas e os seus fabulosos hotéis seculares. Tem dois museus: o Giovanni-Segantini Museum (um pintor simbolista) e o Museum Engiadinais (o Museu da região do vale de Engadine), que retrata essas paisagens e os hábitos da região, além da história das termas. Todo este vale de Engadine, que vai até à fronteira com a Áustria, a Leste, tem locais e vilas paradisíacas, a visitar, sem pressas.
Foi nesta região, a 2600 metros de altitude, que ouvi falar pela primeira vez o Romanche, a 4ª língua oficial da Suíça, só falada nesta região, por uma minoria (cerca de 1% da população da Suíça). o Romanche vem de uma matriz latina, visto estarmos perto da fronteira com o Norte de Itália. Curiosamente, ou talvez não, muito do que ouvi era perceptível e consegui compreender a maior parte da conversa, falada entre ferroviários da zona de Col Bernina(Passagem de Bernina).
Muito mais haveria a escrever, mas o ideal é ver as imagens e viajar até esta linda região!
Fig. 1-A catedral de Chur
Fig. 2-A Catedral de Chur e os Alpes ao fundo

Fig. 3-Casas Pintadas nas ruas de Chur
Fig. 4-Um Glaciar no Parque Nacional Suíço
Fig. 5-Vista de Davos com a neve
Fig. 6-Os Alpes Réticos e a linha de comboio turística
Fig. 7-Saint Moritz encantadora e o seu lago
Fig. 8-Saint Moritz à noite coberta de neve

15 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt VIII (St. Gallen e Liechtenstein)

Segui viagem junto ao lago Constança, na zona leste do país, já na fronteira com a Áustria. Cheguei a Saint Gallen, uma cidade capital do cantão homónimo e com 70 000 habitantes. As suas origens remontam ao ano de 612, quando um monge Irlandês, de nome S. Gall, montou um eremitério no local. Em 747 foi erigida uma abadia Beneditina. No Séc. IX construiu-se uma biblioteca, o que fez da cidade um importante centro cultural e educacional. Durante a idade média tornou-se um centro importante na produção de linho. Ainda hoje, a catedral de St. Gallen é o ex-líbris da cidade e da região. Ainda hoje, o artesanato e os bordados são importantes na vida comercial da cidade, além da indústria e do turismo. Na minha visita pedestre, destaco o centro histórico, com os belos edifícios pintados, as janelas de sacada e as armações dos telhados em madeira. Casas muito coloridas, como em Schaffhausen. Vi muitos concertos na rua, o comércio e o turismo a fervilhar. Sem trânsito, sem confusões. Faz-se aqui uma excelente cerveja, a Schuttengarten. Junto à abadia, uma zona verde muito aprazível onde jovens repousavam, outros liam à sombra da lindíssima e enorme catedral.
A visitar, o Textilmuseum (Museu dos Têxteis), a Marktplatz com os edifícios dos Séc. XVII e XVIII, o Bohl, um terreiro à saída da Marktplatz, com a Waaghaus (Casa de Pesagens) do Séc. XVI, onde se realizam concertos e exposições. Também a ver o Natur-und Kunstmuseum, um edifício do Séc. XIX, que é Museu de História Natural e ainda um Museu Histórico da região de St. Gallen. Junto à abadia, a Biblioteca é digna de uma visita demorada, uma obra prima do barroco (1758). Possui 150 000 livros e muitas raridades, desde manuscritos Irlandeses datados do Séc. VIII e IX.
Descendo um pouco no mapa, cheguei a Buchs, uma pequena vila, importante centro fronteiriço, pois foi a partir desta vila que tomei o autocarro rumo ao Principado do Liechtenstein, o 4º mais pequeno Estado da Europa (o mais pequeno é o Vaticano e o segundo é São Marino, ambos em Itália e o terceiro o Mónaco, em França). Só por via rodoviária ou pedestre se entra no Liechtenstein, pois lá não existem linhas ferroviárias, aéreas ou marítimas. A Capital é Vaduz, com cerca de 10 000 habitantes. No principado inteiro, existem 35 000 habitantes. É um estado independente, com Parlamento, com correios próprios (os selos do Liechtenstein são muito procurados pelos coleccionadores, pois são uma raridade), autocarros únicos (os amarelos) e muitos museus e edifícios culturais. No entanto, está intimamente ligado à Suíça, utilizando a mesma moeda (Franco Suíço) e a mesma rede telefónica. Destacam-se a residência oficial dos Príncipes, numa colina defronte de Vaduz, num castelo-fortaleza românico-gótico do Séc. XIII, o Schloss Vaduz. Os museus mais importantes são: Kunstmuseum Liechtenstein (Museu de Belas-Artes), o Liechtensteinisches Landes Museum (Museu do Estado do Liechtenstein), Museu do Ski, Museu Nacional de Arte, Museu do Correio, Teatro Nacional (onde teatro e música se podem ouvir). Fora da Capital, as montanhas e o Ski são as actividades mais importantes. Outras cidades importantes no Principado são: Balzers, Planken, Triesen, Schaan e Malbun. Uma experiência única, que quis reforçar, ao ficar uma noite a dormir num Principado. Para isso, escolhi a bela Pousada de Juventude, à saída de Vaduz e a entrar em Schaan.
Fig. 1 - A Abadia Beneditina de St. Gallen (ano de 747) e vista da cidade
Fig. 2 - A Marktplatz, praça central da zona histórica
Fig. 3 - A Waaghaus, na zona de Bohl

Fig. 4 - O Schloss Vaduz, residência oficial dos Príncipes do Liechtenstein
Fig. 5 - O Parlamento do Liechtenstein, em Vaduz (com 25 deputados)

Fig. 6 - O Liechtensteinisches Landes Museum (Museu do Liechtenstein), em Vaduz
Bandeira do Principado do Liechtenstein

12 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt. VII (Winterthur e Schaffhausen)

Segui viagem nos comboios, desta feita até à fronteira sul com a Alemanha, numa zona que ainda desconhecia. Depois de Zürich, Winterthur é a segunda maior cidade do cantão. É um florescente centro industrial, com a banca, os seguros, as farmacêuticas e os têxteis. É uma cidade aprazível com as ruas arborizadas e amplos espaços verdes. Com algumas casas interessantes, janelas de sacada e as paredes pintadas. Algumas casas senhoriais e outras das corporações da idade média. Possui um Museu Oskar Reinhart, um importante coleccionador de arte nascido na cidade, com um acervo valiosíssimo, reunindo obras de El Greco, Grünewald, Goya, Ferdinand Hodler, Giacometti, entre outros. Além disso, a ver o centro histórico, as casas, as igrejas góticas(a Stadtkirche), a Rathaus neoclássica (Câmara Municipal), a Kunsthalle Winterthur (uma antiga Casa de pesagens, a Waaghaus) que é um espaço de exposições de arte moderna, o Kunstmuseum (o museu de Belas-Artes), o Fotomuseum (Museu de Fotografia), um esplêndido museu, e um dos mais importantes na Suíça, a Stadhaus (a sala de concertos e teatro), um edifício lindíssimo neo-renascentista, datado de 1865 e arquitectado por Gottfried Semper, o mesmo que fez a Ópera de Dresden, na Alemanha. Para concluir este passeio pela cidade, de 87 000 habitantes, uma visita à Marktgasse, a zona mais comercial e unicamente pedonal, com os seus edifícios históricos e as fontes. Um dos mais emblemáticos edifícios é a Zur Geduld (a Casa da Paciência), que data de 1717.
Fig. 1 - Uma casa típica de Winterthur e do Sul da Alemanha
Fig. 2 - A Stadthaus de Winterthur
Fig. 3 - A Stadtkir
che de Winterthur
Parti rumo a Schaffhausen, uma cidade mais pequena, com 35 000 habitantes e sede do cantão com o mesmo nome. Situa-se a norte do Rio Reno, 4 km acima das Rheinfall (as cascatas) e faz fronteira com a Alemanha. Uma cidade muito bonita, com fortes influências germânicas nos seus edifícios e no ritmo de vida da cidade fronteiriça. O centro possui edifícios barrocos de invejável riqueza. Todos os edifícios são pintados, muitas janelas de sacada pertencentes às guildas (ou corporações) dos pedreiros, dos artesãos, dos mercadores. Pouca confusão nas ruas, com um centro muito bem preservado. Logo à saída da cidade temos o belo Lago Constança (Bodensee), com as casas de verão, os chalés com armação de madeira. Do lago Constança podem dar-se magníficos passeios nos barcos locais e avista-se a Áustria.
Devido à importância como centro comercial na idade média, possui edifícios de todas as épocas artísticas, desde góticos, renascentistas, barrocos, rococó, neoclássicos. O Munot, uma torre de menagem circular na colina leste da cidade, foi erigido no Séc. XVI, durante a instabilidade causada pela reforma. A ver também a Zeughaus (o Antigo Arsenal da cidade), em estilo renascentista, a Haus zum Ritter (a Casa do Cavaleiro) com elaborados frescos também renascentistas, a Schmiedstube (a Corporação dos Ferreiros), que ostenta um magnífico portal barroco, a Munster zu Allerheiligen (a Catedral da cidade, em estilo românico), que data do séc. XI e que era uma antiga abadia Beneditina. Nas diversas praças, com destaque para a Fronwagplatz, pode-se percorrer a pé e apreciar a riqueza e antiguidade dos edifícios, as fontes do Séc. XVI (a do Rei Mouro e a do Mercenário Mouro). Era aqui que se realizavam os mercados medievais que atraíam as populações vizinhas. Para terminar, a Rathaus, de 1412 e em estilo renascentista, com um belo salão de assembleias ricamente decorado. A visitar, sem dúvida!

Fig. 4 - O Munot, em Schaffhausen (onde se avista a cidade)
Fig. 5 - A Fronwagplatz, com a fonte do Rei Mouro
Fig. 6 - A Haus zum Ritten (a Casa do Cavaleiro), com os seus belíssimos frescos de 1568.



10 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt. VI (Zug e Zürich)

Continuando a viagem, visitei o cantão mais pequeno da Suíça, mas também um dos mais ricos. Situa-se na margem do Zugersee, tem uma vida pacata com apenas 25 000 habitantes. Tem dos impostos mais baixos na Suíça, o que faz dele, o cantão, bastante próspero, abrigando muitas multinacionais. Possui ainda as antigas muralhas a envolverem a cidade. De destacar a Kolinplatz, com a estátua-fonte respectiva a Kolin (um cavaleiro da guarda Suíça) , a Rathaus (Câmara Municipal) e a Igreja de St. Oswald, do séc. XV, a destacar-se no pequeno centro de Zug. ALém disso, alguns edifícios de realce, como o edifício gótico com um salão de assembleias coberto em painéis de talha. O Antigo castelo abriga o Museu in der Burg, um museu da História local. É uma cidade-cantão pequena, mas que merece uma visita.

Fig 1 - torre do relógio, Zug
Fig. 2 -Kollinplatz, Zug

Segui rapidamente para Zürich, a grande cidade financeira, que muitos consideram como capital da Suíça. Isto porque é um centro enorme, com uma população bastante assinalável (400 000 habitantes), onde estão os bancos, a bolsa de valores, as seguradoras e as mais importantes multinacionais. É um centro de comércio, de turismo. Apesar de tudo, não é das cidades mais bonitas da Suíça. Possui, no entanto, uma oferta cultural das melhores cidades europeias. Situa-se nas margens do Zurichsee, onde o rio Limmat se desvia para norte. Desde o tempo dos romanos que existe, sob o nome de Turicum, que veio a dar Zurique. Desde 1351 que faz parte da Confederação Helvética. Na idade média, o comércio da seda, do couro, lã e linho, fazem dela uma cidade próspera e agradável para se viver. Zurique foi depois controlada pelas corporações, mas acabou por ficar na obscuridade nos Séc. XVII e XVIII. Ressurge no Séc. XIX, graças à industrialização crescente. Hoje é o centro da alta finança europeia e o maior mercado de ouro do mundo. Da minha visita a pé nas margens do rio Limmat, destaco muitas lojas de comércio, muita gente, muitos carros. Uma cidade grande. As casas eram todas enormes, modernas, ao mesmo tempo com edifícios barrocos, neo-clássicos, neo-renascentistas. Um dos locais que queria muito visitar e consegui era o famoso Cabaret Voltaire, sede do Dadaísmo, onde nomes como Hans Arp, Picabia, Tristan Tzara foram os criadores deste movimento. Zurique era assim uma cidade central na criação artística, isto em 1916, durante a 1ª guerra mundial. Sendo uma cidade neutra, muitos artistas refugiaram-se aqui. O Cabaret Voltaire é uma pequena sala, num edifício hoje de tons rosa, num rés-do-chão de uma rua no centro histórico. Foi um encontro com a história e com este movimento Dada, que muito prazer me deu. Continuando, alguns edifícios merecem uma visita demorada, como as catedrais e igrejas, mas também a gare central de Zurique, uma estação enorme em estilo neo-renascentista (1871). Destaco depois os Museus e Teatros, em especial o Museu Nacional da Terra Suíça (Schweizeriches Landesmuseum). Um edifício enorme, onde temos de passar uma tarde inteira para se ver com calma. Contam a história deste país desde a pré-história à actualidade. Muito bem documentado, aprende-se muito sobre a Suíça. Instalado num edifício histórico e antigo, foi lá que vi a bandeira original Suíça, bastante antiga e gasta pelo tempo, que existe desde a fundação da Confederação, nos prados de Rütli, em 1291. Para não ser muito maçudo na informação, destaco o Museu do Design, o Museu Migros de Arte Contemporânea, e a Kunsthaus. Nas igrejas, a Agustinekirche, em estilo gótico primitivo, a St. Peters Kirche com a sua torre com relógio tipicamente suíço, o edifício da corporação dos comerciantes do vinho, a Zunfthaus zur Meisen, um edifício tardo-barroco. A Fraümunster, onde vi uns maravilhosos vitrais coloridos e belos de Chagall. É uma igreja em estilo românico, conhecida como a "Catedral das Mulheres", porque eram as abadessas que aqui viviam originalmente. A Wasserkirche (a Igreja na água), pois encontra-se às margens do Limmat, o Grossmünster com as suas altas torres gémeas, que se avistam logo à entrada da cidade. É uma basílica enorme, criada dizem, nos tempos de Carlos Magno. É de estilo românico-gótico e o início da sua construção dá-se por volta de 1100. Os vitrais são da autoria de um grande escultor suíço: Augusto Giacometti (1932). A Rathaus, a câmara Municipal construída sobre estacas no rio Limmat, também é de destacar. Data de 1694. Na Limmatquai, a rua que circunda o rio, existem os mais belos edifícios, como a Rathaus, mas também das corporações de mercadores, ferreiros, sapateiros, etc. Têm todas janelas de sacada, as armações dos telhados em madeira, as flores no alpendre e são um portento para a vista. Destacam-se a Haus zum Rüden (séc. XVII) e a Haus zum Saffran (1720). Nos teatros, a Opernhaus, a casa da ópera, de estilo neo-barroco. Também a Schauspielhaus, a sala de teatro principal, onde o mais moderno teatro se faz, vindo de toda a Europa. O tonhalle é um grande edifício barroco onde se ouve música clássica. Além disto ainda temos os jardins, onde o mais famoso é o Zürichhorn Park, onde se podem ver esculturas de artistas consagrados. No interior, abriga a Casa de Corbusier, um museu de artes gráficas, desenhado por esse grande arquitecto. Também existe um curioso museu que fala sobre a história do café na Europa. É o Johann Jakobs Museum. Um local esplêndido de visita demorada, toda esta enorme área verde. À saída de Zurique, temos o Zurichsee, onde podemos tomar um dos muitos cruzeiros pelo lago, em viagens lindíssimas, não só à volta da cidade, mas por este imenso lago de 40 km. Pela cultura, pelo comércio e turismo, pela descoberta, vale a pena vir a Zürich! Boas imagens!
Fig. 3-Zurique (vista geral sobre o Rio Limmat)
Fig. 4 -O Cabaret Voltaire (Dada desde 1916)
Fig. 5 -Vitral de Chagall, na Fraumünster
Fig. 6 -A Haus zum Rüden na famosa Rua Limmatquai

5 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt. V (Luzern)


Em Luzern, parece que tive uma imagem do paraíso! Pela beleza imparável da cidade e das suas gentes, pela enorme quantidade de bicicletas paradas em torno da estação do comboio, mas principlamente, a beleza da cidade, do lago e das pontes seculares de madeira. Uma cidade jovem. As praças com todas as casas pintadas, que lhe dão um colorido especial e agradável, em suma, uma cidade activa. Nesses dias havia uma prova de ciclismo e todos andavam por ali, com bandas a tocar, artistas a tocar instrumentos (a linda harpista da ponte é já uma imagem de marca), artistas de rua a fazer performances. Uma cidade onde senti que são rigorosos com o seu património, com as suas ruas impecáveis, senti que o nacionalismo aqui era maior. Dão muito valor ao seu cantão, e sentem orgulho pelas coisas que possuem. Principalmente pelas duas pontes em madeira sobre o rio Reuss (onde encontra depois o lago Luzern). A Kapellbrücke, que posssui a Torre da Água (Wasserturm), é um portento da arquitectura medieval (séc XIV). Esta ponte serviu de muralha à cidade nessa época e a torre octogonal serviu de farol, prisão e casa do tesouro. A ponte possui painéis pintados com cenas da história da cidade e de S. Leodegar e S. Maurício, padroeiros da cidade. É a mais antiga ponte em madeira da Europa, sendo o símbolo da cidade por excelência. Foi atingida por um incêndio em 1993, mas foi rapidamente restaurada.
A Spreuerbrücke é a outra ponte em madeira sobre o rio, um pouco mais a montante do rio (mais para Oeste). Foi construida no séc. XV, sendo a mais recente das duas. Incorpora uma pequena capela no meio do rio e tem cenas pintadas por Kaspar Meglingen, em que Cristo enfrenta a morte e vence-a. Na margem Sul, vemos a Nadelwerk, um dispositivo do Séc. XIX, que permitia controlar a corrente do rio, muitas vezes fortíssima. Além destes monumentos, por si só únicos, Luzern tem ainda para ver a KKL - Centro de Cultura e Congressos de Luzern, onde se realizam feiras, congressos e eventos como ópera. Por baixo, alberga o Museu de Belas-Artes.
Este edifício tem uma linha moderníssima, pois foi construído em 1998, pelo arquitecto Jean Nouvel. Além das Igrejas, com destaque para a igreja Jesuita de S. Francisco Xavier, com as cúpulas bolbosas em estilo Barroco e a Hofkirche, em estilo Rensacentista. Fora isso, temos o bonito Museu Picasso, onde dois coleccionadores suíços reúnem uma colecção impressionante de obras originais do mestre, principalmente do seu período tardio. É de ver também o Bourbaki Panorama, um edifício circular, onde se podem ver imagens em panorama 360º, onde se vêm imagens do general Bourbaki, oficial Francês, durante a sua passagem pela Suíça, na conquista de territórios durante a guerra Franco-Prussiana (1870). Tem 112 metros de comprimento e 10 de altura e com uma lindíssima cúpula de vidro e ferro forjado. Existe ainda um jardim impressionante, o Gletschergarten, onde foram descobertos algares numa rocha enorme, em 1872. Algares são buracos que se formam na rocha, devido à acção da água e da erosão da própria rocha, que passa por uma fenda de um glaciar. O Jardim do Glaciar, assim é o seu nome actual, é hoje um espaço de estudo e respeito ambiental. É digno de se visitar, pois estes algares não são habitualmente vistos. Podem-se ver fósseis, além de uma casa de madeira secular, bem preservada. Mais adiante, outro monumento impressionante, o Löwendenkmal ou Monumento ao Leão, simboliza a defesa da Guarda Suíça ao Rei Luís XVI, em 10 de Agosto de 1792, aquando do ataque pelos revolucionários ao Palácio das Tulherias, em Paris. Os guardas que foram capturados pelos rebeldes, foram depois guilhotinados. O Monumento mostra o leão deitado, moribundo, esculpido na enorme rocha, sobre um lago de água. Uma imagem deveras dramática, fazendo recordar o heroísmo da guarda Suíça, mas também o seu triste final. Data de 1821 e foi esculpido pelo artista Dinamarquês Bertel Thorwaldsen. Também a visitar, o Richard Wagner Museu. Tal nome deve-se à presença regular do Compositor Alemão em Lucerna. Era lá que Wagner se inspirava para algumas das suas obras, como "O Crepúsculo dos Deuses" e finalizou o terceiro acto de "Tristão e Isolda". Uma bela casa-museu a visitar, sem dúvida. Ainda em Luzern, situa-se o Museu Suíço dos Transportes, com destaque para os Comboios, como não podia deixar de ser (no país com mais linhas ferroviárias do mundo). A visitar, sempre!
Quanto às ruas, é de realçar a zona velha, com a sua Weinmarkt, a Praça Velha. Podemos ver as fontes góticas, os edifícios lindíssimos, com janelas de sacada, portais ornamentados e fachadas ricamente pintadas. A Kapellplatz e a Sternenplatz também são outras zonas a visitar, onde a agitação das gentes se mistura com a luminosidade dos edifícios, muitos deles pertencentes a antigas corporações, como a dos vinhateiros, a dos ferreiros, a dos mercadores.
Lucerna é digna de uma visita demorada! Uma das cidades mais bonitas e mais importantes da Suíça. Voltarei lá, concerteza! Agora, algumas imagens que representam essa beleza.

Fig. 1 - Kapellbrücke
Fig. 2 - Spreuerbrücke
Fig. 3 - Weinmarkt (Praça central)
Fig. 4 - Sternenplatz (Outra Praça)
Fig. 5 - Uma Casa típica de Luzern (arquitectura Alemã)

1 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt IV (Biel, Solothurn, Basel)

Depois de Neuchatel, segui para Biel/Bienne, que tal com Basel/Bâle, são cidades onde existem duas línguas oficiais, o alemão e o francês. Em Biel, uma cidade lindíssima com casas bonitas ao mesmo estilo das de Neuchatel, mas com um núcleo histórico bem mais pequeno. Tem 55 mil habitantes, e é um importante centro relojoeiro (Omega e Rolex). Temos um rio, o Bielersee que cruza a cidade. No centro, as fontes e as ruas estreitas. De destacar o edifício da Corporação dos Silvicultores (séc. XVI), com um torreão circular com uma cúpula em forma de bolbo. Este edifício fica na praça Ring, onde se situa também a Igreja de São Benedito (séc. XV), com os vitrais em estilo gótico tardio. A rathaus (câmara municipal) também é digna de se ver.
Fig 1 - Edifício da Corporação dos Silvicultores
Fig 2 - A Rathaus ao centro, com o Teatro Municipal à esquerda


De seguida segui para Solothurn, capital do cantão homónimo. É uma cidade pequena, com 16 mil habitantes, mas muito bonita pela arquitectura barroca. Foi fundada pelos Celtas e tornou-se a segunda cidade romana mais importante a norte dos alpes (a seguir a Trier, na actual Holanda). Permaneceu católica e a residência oficial dos embaixadores franceses na Suíça, o que fez com que os seus edifícios fossem de uuma beleza sem igual. Soleure (em francês) é uma cidade banhada pelo rio Aare. Como atracções, as pontes sobre o rio, as muralhas e fortificações (Riedholzschanze), a torre do relógio (Zytglogge), o edifício do antigo armazém do arsenal militar, hoje museu (Altes Zeughaus), além dos edifícios nas ruas estreitas do centro antigo e as fontes.
Fig 3- Museu do Arsenal Militar, em Solothurn
Fig 4- Gravura com as muralhas da cidade, em 1642

Para finalizar, segui para a grande cidade de Basel/ Bâle, Basileia em português. O nome vem do império romano (44 dC), onde já era um povoado, de nome Basília. Basel é a única cidade Suíça que tem um porto com ligação ao mar, visto que o reno torna-se navegável a partir da cidade até chegar ao mar do Norte, no porto de Roterdão. Basel é uma cidade cosmopolita, que faz fronteira com a França e a Alemanha. É um importante centro de comércio, indústria (relojoaria, farmacêuticas) e turismo. Tem 200 mil habitantes. Basel está dividida em duas partes: a parte a norte do rio reno e a parte sul, onde está o centro histórico. Muitas bicicletas logo a seguir à grande gare de Basel, carros, agitação. Coisas a reter: a Munster (a grande catedral gótica, do séc. XII), o Kunstmuseum (o museu de belas-artes) que é o mais importante da Suíça e um dos mais importantes da Europa. Basel é conhecida por ter uma bienal importantíssima, a Art Basel, um ícone da arte contemporânea. A "Girafa em Chamas", de Dali está neste museu. Rousseau, Klee, Gaugin, Rembrandt, Cézanne, Picasso, Giacometti, estão aqui. Além disso, sente-se a cultura por aqui, com mais de 30 museus e galerias de arte, teatros, bares, agitação cultural e turística. A Rathaus lindíssima, em tons vermelho (1504), as praças e fontes, as mansões na zona nobre são de apreciar. Apesar de tudo, é uma cidade fora do habitual na Suíça, como Zurique, em que a agitação faz-nos lembrar outros países que não a Suíça.

Fig 5 - A Spalentor, Porta gótica da cidade de Basel
Fig 6 - As casas no centro histórico de Basel
Fig 7 - A belíssima Rathaus