20 de dezembro de 2009

Viajar pela Suíça - pt. X (Glacier Express-St. Moritz a Zermatt)

Depois de St. Moritz, tomei o comboio turístico que passa por entre os Alpes, numa viagem que demorou 8 horas, sempre a subir e a descer devagar. Nas montanhas, estes comboios possuem a chamada via de cremalheira, que permite além da maior segurança e aderência aos carris, permitir que as subidas não se tornem tão penosas. Uma viagem turísitca por excelência, que vai desde os Alpes Réticos, passa pela região do Ticino, que faz fronteira com Itália (e onde se fala Italiano), passa por um conjunto de túneis e desfiladeiros - as passagens de S. Gotardo, e o conjunto das três passagens (Grimsel, Furka e Susten). A passagem de São Gotardo faz a ligação entre o Norte da Itália e o centro da Suíça (Lucerna e Zurique). Ergue-se a 2108 metros de altitude e esta passagem existe desde o séc. XIII, quando foi construída uma ponte sobre a ravina. Existe hoje o museu nacional de S. Gotardo, que assinala a construção desta passagem ao longo da história, bem como os costumes locais e a fauna e flora existente. Divide os cantões de Ticino (a Sul), com Uri (a Norte). A Capital do cantão de Uri é Altdorf, uma cidade mais a norte. As outras passagens, dividem também cantões. A Passagem de Grimsel separa o cantão de Berna (a Norte), com o de Valais (a Oeste), por onde vai seguir a linha de comboio. A passagem de Furka separa os cantões de Uri (a Norte) e o de Valais (a Oeste), passamos também dos Alpes Berneses (a Leste), para os Alpes Peninos (a Oeste). Por fim, a passagem de Susten separa os cantões de Uri (a Leste) e o de Berna (a Oeste). Todas estas passagens situam-se a mais de 2200 metros de altitude. Estamos quase no centro do país, numa região onde vários cantões se encontram. Depois de umas horas, passamos por entre estas passagens, sempre a grande altitude, no meio da alta montanha. Depois de um dia de céu limpo, dá-se um fenómeno impressionante. A caminho de Andermatt, já na descida, o céu fica rapidamente coberto de nuvens, que por fim, acabam por se transformar num nevoeiro intenso, em pleno verão. A alta montanha tem destas coisas! Andermatt é basicamente uma estância turística, em que as pistas de neve são a atracção principal. As caminhadas também. Como estava muito frio e humidade, segui rapidamente para Oeste, para entrarmos finalmente no cantão de Valais, destino final da minha viagem, mais concretamente em Sion, a capital do Cantão. De referir que não fui desta vez ao cantão do Ticino, onde a vida é muito diferente da maior parte da Suíça. Aqui fala-se italiano e as pessoas tem hábitos claramente mais latinos. Já tinha visitado noutra ocasião, mas refiro apenas as cidades principais, que devem ser visitadas: Bellinzona (a capital do cantão, com 18 000 habitantes), Locarno (uma bela cidade junto ao lago Maggiore, com 15 000 habitantes) e Lugano (a sul de Locarno e junto ao lago Lugano, com 26 000 habitantes). Todas possuem uma arquitectura de estilo italiano, bastante turísticas, cheias de glamour, com os lagos onde se pode tomar banho. São cidades muito mais amenas que o resto da Suíça, com clima mediterrânico. Muitos famosos passeiam-se por aqui, como George Clooney, que possui aqui uma mansão.
Deixando a vida social, ficamo-nos por agora com este apontamento breve ao Ticino, que a nossa viagem ainda vai a meio. Depois de Andermatt, o comboio vais descendo até altitudes mais baixas, sempre em paisagens rurais, junto aos rios Reno (na fase inicial) e Ródano (depois de Andermatt), com os chalets de madeira, as montanhas, os prados, o imenso verde. Ao fim de algum tempo, chegamos finalmente a Brig, uma cidade do cantão de Valais, com casas em pedra. É banhada pelo Ródano, e possui algumas pontes (daí o seu nome em alemão), mas o seu ex-líbris vai para as três torres quadradas do palácio Stockalper (um rico mercador que construiu um grande palácio renascentista e barroco, de 1658), lindíssimas e grandiosas, com cúpulas vermelhas a embelezar ainda mais a cidade. Brig tem 10 000 habitantes.
O comboio segue então para a viagem final de Brig (passando por Visp), até Zermatt. Zermatt é uma estância turística, valorizada porque fica defronte da montanha mais famosa da Suíça (e talvez da Europa), o Matterhorn (ou Monte Cervino, na parte italiana). O Matterhorn é a montanha mais representada em postais, em produtos Suíços, em especial o chocolate "Toblerone", conhecido por todos. O Matterhorn situa-se a 4478 metros de altitude! Separa a Suíça da Itália e é uma montanha difícil de se escalar, pois o seu pico é muito aguçado. Muitos alpinistas já faleceram ao tentar vencer este cume. Zermatt é optimo para os turistas menos afoitos no alpinismo, pois as vistas e as fotos a partir dali são soberbas! Zermatt é uma das capitais do Ski, quase o ano inteiro. Pode visitar-se o Museu Alpino, que retrata todas as façanhas e as tragédias em torno do Matterhorn, com ênfase para o feito de Edward Whiymper, o primeiro a escalar a montanha, em 1865. De Zermatt pode-se apanhar uma via ferroviária de cremalheira e um teleférico que se aproxima do Matterhorn. E aqui termina a viagem no famoso Glacier Express, que atravessa a Suíça de Leste a Oeste, sempre entre as montanhas e os glaciares. De Zermatt voltei para Visp e aí tomei o comboio expresso até Sion, em pouco mais de 30 minutos. Cheguei cansado mas feliz a casa, na zona oeste de Sion, já bem de noite, onde os familiares me aguardavam ansiosamente pelos relatos das aventuras desta grande viagem!
Fig 1- O Pico Bernina (2330 m), por onde passa o Glacier Express
Fig 2- Uma das pontes emblemáticas desta linha turística
Fig 3- A passagem de São Gotardo, perto de Andermatt
Fig 4- A pequena cidade de Andermatt rodeada de montanhas
Fig 5- A cidade de Brig, com as torres do palácio Stockalper
Fig 6- A vila de Zermatt com o Matterhorn ao fundo (o fim de linha do Glacier Express)
Fig 7 - A linha de cremalheira de Gornergrat, entre Zermatt e o pico Matterhorn