26 de julho de 2006

Busca, Boris, busca! (a 2ª parte)

Resumindo o que até aqui aconteceu:
Boris empreendeu uma viagem sem rumo certo e sem um propósito claramente definido. Depois de um desaguisado com um camionista de óculos escuros e dentes palitados até à exaustão, encontramo-lo agora numa estação de serviço.
Tenta arranjar boleia, mas sem o conseguir. E eis que começa a sentir fome. Repara então no movimento de carros e camiões ali perto, num descampado cercado por alguns eucaliptos. Foi ver. Era uma prostituta, vergada sob o peso de inúmeros clichés: vestuário assim para o minimalista, gestos nervosos, maquilhagem exagerada. Os seus seios eram difíceis de descrever: alguns diriam que eram pequenos e flácidos, outros que eram pequenos mas arrebitados. Eu cá alvitraria... bom, olhando atentamente, arriscaria dizer que são mais atentos ao mundo que desfalecidos, apesar de se encontrarem em parte ocultados por um top, de cor vermelha e impregnado de bondade. Os seus cabelos de tons arruivados estavam apanhados para trás: quem se chegasse suficientemente perto (e tal hipótese não será de desprezar) ouviria eventualmente os cabelos a gemer debatendo-se com a força exercida pelo elástico que os prendiam. Ah, e ela fumava. Boris acercou-se dela, pois estava sozinha.
- Que fazes por aqui? – perguntou. Uma pergunta estúpida como esta só poderia ter o propósito de meter conversa.
- Ritual de lo habitual- respondeu ela, fitando-o. – E tu, o que procuras?
- Empreendo uma jornada que me levará a conhecer-me plenamente e a plasmar-me com o universo; pelo menos assim espero.
- Olha lá, tu deves andar metido em cenas duras, não?
- Não te sigo o raciocínio...
- Quando comecei a fumar cavalito também tinha umas tiradas dessas, género filosofia de trazer por casa. Era bom quando me “batia”, conseguia pensar com tal clareza, como se conseguisse distanciar-me de mim própria, tinha uma percepção mais distanciada de mim mesma e do mundo. Mas isso já lá vai. Agora só tento aguentar-me tant bien que mal até ao próximo chuto.
- Não tomo drogas. Tento que a minha existência seja o mais desprendida possível das coisas mundanas.
Nesse momento, um carro azul-escuro aproximou-se lentamente deles, mas afastou-se pouco depois.
- Mas andas por aí aos caídos? Tens de saber fazer alguma coisa para te amanhares por aí!
- Sei esperar. Sei jejuar. Sei pensar.
Inconscientemente, apercebeu-se que tinha respondido exactamente como Siddhartha houvera feito no livro. Só que jejuar ainda não estava ao seu alcance, daí a fome que sentia. Esperar era fácil: bastava nada fazer e aguardar pelos acontecimentos, tinha tempo para isso. Pensar também não lhe era difícil: pois se não fazia ele outra coisa! Aliás, pensar era para ele o meio primordial de desenvolver o intelecto, de ascender espiritualmente ao estado superior que tanto almejava. Mas a fome, essa maldita fome que o assolava como um cão que nos segue para todo o lado com aquele olhar que inspira piedade a cada expiração, a fome já lhe toldava o raciocínio, e aos poucos até o andar se ressentia.

Entretanto a prostituta acendera um cigarro; o fumo afastava-se da ponta, voando em todas as direcções, dir-se-ia que enjoado pelo sabor do cigarro a arder e procurando afastar-se dele a todo o custo.
- Are you there? – perguntou ela.
- Estava a pensar... estou a sentir fome. Por acaso não me poderás dar de comer?
- Mas tu que gostas tanto de jejuar agora sais-te com essa? – Soltou uma risada tão abafada como o tempo. - Olha, já que não tomas drogas, a solução é snifar gasolina. Vais ali ao posto, cheiras gasolina (gasóleo também serve) e vais ver que mascaras a fome durante muito tempo.
- Vou fazer isso. Obrigado pelas tuas palavras. Vou retê-las na minha mente, bem como a tua imagem.
- Oh, que simpático da tua parte reteres-me! – disse ela entre o sarcasmo e a ironia, o que bem vistas as coisas não são assim duas coisas tão distintas como se possa supor. Foi sarcónica a rapariga, e assim se condensam as duas expressões numa só, simplificando a narração que não raras vezes se perde em devaneios algo insossos (como agora, por exemplo).
- Olha, antes de me ir embora... como te chamas?
- Doris – respondeu Doris (agora já a podemos tratar assim). – O meu nome é Doris!
- Curioso, eu sou o Boris! Bom, até sempre, Doris! Gostei de me ter cruzado contigo, ainda que não em sentido bíblico! – mal tendo acabado de proferir estas palavras, virou costas a Doris, ao descampado e aos eucaliptos e estugou o passo em direcção ao posto de combustíveis. E já não a ouviu dizer:
- Doris não é propriamente o meu nome verdadeiro... – disse, quase em surdina. Como Boris não a ouvira, Doris - chamemos-lhe então assim - manteve-se quieta por uns instantes, ensimesmada dirão alguns, até que o ruído do tráfego na estrada lhe despertou os sentidos.

O conselho de Doris-que-afinal-não-era-Doris-mas-Boris-não-o-sabia revelou-se bem útil. Cheirando gasolina, Boris saciou a fome e desenvolveu a arte de jejuar, ainda que por ínvios meios. Mais tarde um casal de caravanistas deu-lhe boleia até a um parque de campismo ali perto, junto a uma praia extensa ladeada por arbustos e pinheiros-anões. Boris, extasiado, decidiu que tinha encontrado o seu poiso, e por ali ficou. Num recanto abrigado dessa senhora malvada chamada Curiosidade Alheia construiu uma cabana onde passou a pernoitar. Durante o dia vagueava pela praia e pelas imediações do parque de campismo, e quando a capacidade de jejuar se afastava dele sem aviso prévio, dirigia-se às traseiras do restaurante do hotel – sim, porque também havia um hotel por perto, ainda não vos tinha dito, são muitas coisas ao mesmo tempo – dirigia-se às traseiras do restaurante, dizia, onde os empregados o presenteavam com as sobras das refeições do dia – e que bem sabiam a Boris estas mundanas iguarias! Claro que no final do lauto banquete se tentava autodisciplinar, “Não se deve ceder tão amiúde às sensações do mundo” e outros ditos que tais, o que o ajudava a sentir-se mais e mais comprometido com a sua nova existência.
Passava a maior parte do tempo vagueando pela praia despojado das suas vestes, pois ali a prática do naturismo era tolerada nos locais mais afastados da entrada principal do areal. Os nudistas perguntavam aos “têxteis”: “Desculpe, posso tirar aqui a roupa? O vestuário oprime, sabe...” ao que estes respondiam: “Claro, por quem é, eu tolero isso!” e era este o código de conduta que regia a dita praia, onde até às gaivotas eram mais libertárias que as de outras praias.
Assim decorreram várias semanas. Boris gostava de demorar-se a falar com quem encontrava nas suas deambulações, até que os seus interlocutores lhe recordavam polidamente que tinham outros compromissos e dele se despediam com amizade e alívio. Agradava-lhe principalmente falar com jovens, no parque de campismo (vestido, porque “à vontade não é à vontadinha”) sobre o seu modo de vida e os conceitos que lhe eram inerentes. Alguns dos seus ouvintes ficavam fascinados a ouvi-lo durante uns minutos, outros mostravam-se cépticos, outros ainda reagiam de modo brusco às suas tentativas de entabular conversa (digo-o desta maneira de modo a manter o tom suave desta epopeia, chamemos-lhe assim com um pouco de exagero – não muito, não se deve exagerar ao exagerar!)

E assim se sucediam os dias...

24 de julho de 2006

Que faço eu aqui...

... agora que a Tasca da Cultura acabou?

Para quem não sabe, o "Tasca" foi... é! o meu blogue de referência. Desde que o Zeca Campos me enviou por e-mail um post do "Tasca" que não fiz outra coisa senão visitar o blogue e depois comentar, comentar, comentar... que gozo me deu lê-lo, que gozo foi comentá-lo. Isto meses antes de surgir a Pernilla.

Trocámos e-mails recentemente e vim a saber que também por ali se lia atentamente este blogue. E que também o Vareta Funda - sobretudo os posts do Vareta - outra das minhas "referências" (leia-se blogues que venero e que valem a pena ler, perdendo horas a ler o arquivo, coisa que quase ninguém faz, "não há tempo, venha o próximo blogue igual a todos os anteriores").

Salvo as diferenças de cada um destes três blogues (Tasca, VFunda, MPernilla) julgo que o que nos aproxima é a ideia expressa por Manuel João Vieira, numa curta entrevista à "Visão":

"... desistimos (Ena Pá 2000) de fazer qualquer coisa que possa ser considerada normal. Não há futuro na normalidade. A realidade é uma alucinação colectiva e nós queremos dar o nosso contributo para reintegrar as pessoas na realidade verdadeira da alma. Seja lá o q isso for."

Há semanas o "Tasca" deixou de ter comentários. Tinha andado a salivar, confesso, para que regressassem. Já vos disse que comentar no "Tasca" foi pure fun? Pois bem, acabou-se o "Tasca" e desta vez parece ser a sério.

Que dizer? Espero que o "homem da tasca" se mantenha assim, continuando a vaguear pelo mundo sem abandonar a tal "dimensão paralela" que tanta falta nos faz para nos podermos rir de tudo, inclusivamente de nós próprios. E já agora, numa de "chantagem emocional" barata, perguntar ao "OBS" se é mesmo isso que quer fazer ("é mesmo isso que queres fazer?"), e dizer ao Vareta que não siga pelo mesmo caminho ("não sigas pelo mesmo caminho!")

Fuck! O "Tasca" acabou.

Mais uma da Vanessa

Vanessa Fernandes conquistou mais uma vitória na Taça do Mundo de Triatlo. Maria Pernilla endossa os mais esfusiantes parabéns à atleta, filha de Venceslau Fernandes (antigo ciclista) e de Maria Albertina.

O Eremita Circunspecto

Particular existência do mal
Malignas cogitações na periferia
dos olhares transviados

Coágulos insuspeitos, miudezas
da carne e do espírito
Opíparas bocas sedentas de ambição

Nascem as mais vetustas leis
as perversas criaturas do pensar
incoerente e funesto

Marcas a distância dos afectos
não te dás a esses ditirâmbicos seres
preferes a modorra da solidão

Demarcas-te da multidão
soçobras nas praças públicas
inundadas de suor operário

Perdes a noção do espaço
o tempo está a galopar ferozmente
nas tuas costas, avança sobre ti

Corrres em direcção ao mar
à serra, à gruta, tanto faz.
Tornas-te um eremita circunspecto

Só o teu corpo, a tua solidão
os teus vícios interiores
a tua paranóia individual
contam para o breve
silêncio do universo

Deixas-te ficar
choras, ris, vives sujo
e apaixonado
Foste vítima dos
teus devaneios de amor

Amaste tanto que a sociedade
te via como um ladrão de corações
um ingénuo e infantil
brincalhão dos afectos

Por isso renunciaste a tudo
deixaste que o tempo se
afeiçoasse às tuas costas
Pensaste demais
quando tudo à tua volta
era de menos

Partiste, em direcção ao mar,
à serra, à gruta, tanto faz.
És o eremita velho, cansado
mas que ainda tem nos olhos
a felicidade de sonhar acordado!

Superartista (I was here and nobody noticed)

Momento 1
Língua Morta, Bruno e Zeca
LM – Acho que devíamos colar MUPI`s nos adros das igrejas. Há sempre casamentos e missas…
B e Z – MUPI yeah yeah yeah!
Momento 2
Paula C. atende o telefone:
- Fala do jornal ploploplot pot. Queria saber se é possível dar-me o contacto do vocalista Fausto.
Momento 3
- De quem é a música que estamos a ouvir?
P. José – É a Rasha. (pausa) Assim soa a voz da Rasha.
Momento 4
Língua Morta, José C. e músico no banco da frente da carrinha de José C. Língua Morta ocupa o pouco confortável lugar do meio.
José C. – O modelo desta carrinha tem muita saída em Angola.
LM – Porquê?
José C. – O lugar do meio é ideal para quem não tem a perna esquerda.
Momento 5
Língua Morta janta com músicos. Fala-se em castelhano.
Músico 1 – Como aprendeste a falar espanhol?
LM – Com os filmes para adultos. Em Portugal são exibidos dobrados em espanhol.
Músicos – Ah, bom! E conheces uma actriz porno italiana muito famosa?
LM – A Cicciolina?
Músico 2 – Não, essa já não é actriz! É outra, mas não me lembro do nome…
Momento 6
Língua Morta janta com outros músicos. Fala-se também em castelhano.
Rosa M. – Portugal é um rectângulo que parece uma cara de perfil. E costumo dizer que a Galiza é o chapéu de Portugal.
Músico – E o chapéu da Galiza é a Irlanda.
LM – Sendo assim, o chapéu voou para longe levado pelo vento.
(…)
Músico – Estás a suar…
LM – É, este polvo fez-me suar.

O Navegador Narcisista

Infelizmente,
na gratuita
névoa oceânica
o poeta partiu

E os acasos e mudanças
do tenebroso vento
fizeram o navegador
ainda mais solitário

Compreendeu um dia
que o mar faz-se de partilhas,
de abraços e muita serenidade
oculta num mar revolto

Sem essa vulnerabilidade
o poeta cai, o navegador
é naufrago, a bruxa sempre adivinha
o que nos vai na alma

Em rotas circulares
o aventureiro navegador
perde-se, ensimesma-se com o seu próprio rosto
vai à bolina com o seu narcisístico olhar

E encalha, gratuitamente
fica na modorra das cálidas
águas superficiais.

17 de julho de 2006

Sinfonia para Ti

Prelúdio. Eterno.
Vaga-lumes no deserto

A poeira das estradas
assenta-me no caminho

Início. Fuga modal.
Precipícios sem fim

O atolar dos sentimentos
nas urbanas paixões

Primeiro andamento. Adágio.
Marulhar de silêncios

Perspicaz lembrança
dos corpos conspurcados

Segundo andamento. Allegro.
Agitação interior

No devaneio dos limites
da augusta sapiência

Terceiro andamento. Vivace.
Perigosa sedução

Espreito na orla do bosque
para a nudez juvenil

Término. Majestoso.
Cópula consentida

O sangue, o suor e
as lágrimas da despedida

Ocaso. Andante.
Sozinho nas dunas.

O Mar, onde me afogo
lentamente com saudade

14 de julho de 2006

A busca de Boris - 1ª parte

Foi depois de terminar a leitura de “Siddhartha – um poema indiano” que um sentimento de vaga inquietação perpassou a mente de Boris. Sentiu que precisava de mudar de vida, deixar a casa onde sempre vivera e tentar encontrar o significado da sua existência através da percepção da plenitude do Universo. Isto foi o que pensou, apesar de não saber a certo no que consistia esse impulso. Tentou reflectir: não era feliz, mas não era infeliz. Não era rebelde, nem conformado. Para mais, o seu raciocínio também não o deixava alongar-se muito em tais cogitações.

Falou primeiro com o pai. Entrou no escritório sem bater à porta e ficou de pé, com um sorriso vago, até que o pai se apercebeu da sua presença, voltando o olhar na sua direcção.

- Tomei a resolução de empreender uma jornada em busca do conhecimento de mim próprio, do meu Eu pleno.

- Muito bem – assentiu o pai, falando pausadamente. - E quanto tempo prevês que te tomará tal jornada?

- O tempo que for necessário para que possa perceber o universo com um olhar de criança.

- Que quer isso dizer?

- Quero ver as coisas sem as julgar. Quero fruir tudo o que me rodeia e sentir que tudo faz parte do mundo, tudo tem o seu papel, como as crianças que brincam com tudo o que lhes apetece e atribuem a cada objecto um papel sem pensarem porque o fazem. Lembras-te do filme do Wenders? “Quando a criança era criança, ainda não sabia que era criança”. Algo me impele a sair por aí, para me libertar dos condicionalismos mundanos que me turvam a percepção das coisas.

“Mas turvam como?” - ia perguntar o pai. Contudo, não chegou a verbalizar tais dizeres; antes anuiu com a cabeça, e voltou a debruçar-se sobre o jornal.

Depois Boris foi despedir-se da mãe. Esta despedida foi mais breve.

- Vou sair de casa por uns tempos, mãe. Vou viajar sem rumo, em busca da felicidade de contemplar o mundo com olhos de criança.

Habituada às ausências mais ou menos prolongadas do filho, a mãe respondeu apressadamente:

- Vai lá, então. Tenho de terminar de arrumar estes dossiês.

- Agradeço-vos, meus pais, por me terem tornado no jovem cordato, inquiridor e insatisfeito na busca da verdade que hoje posso afirmar ser. Mas é precisamente essa demanda pela plenitude do meu Eu que me leva a deixar a vossa presença.

- Tudo bem, já te disse que podes ir. Vai telefonando de vez em quando, não faças como das outras vezes.

- A jornada será longa, não regressarei enquanto não tiver a certeza de me sentir parte....

- Podes ir, já disse! E cala-te antes que comece a espumar da boca!

Saiu sem levar sequer a mochila de campismo. Queria estar livre, o mais possível despojado das coisas que para ele representavam o mundo supérfluo, libertar-se do jugo do materialismo. E tais pensamentos provocaram-lhe um sorriso. Decidiu pôr-se à boleia junto à saída da via rápida. Meia hora depois lá surgiu um camião que parou lentamente junto dele. “Boa!” – pensou. “Os camionistas devem gostar de conversar, passam horas, dias, sozinhos ao volante.”

- Para onde vai? – perguntou o motorista, debruçando-se sobre a janela do lado oposto.

- Ainda não sei ao certo – respondeu.

- Bom, então entre! – disse o camionista, após alguns momentos de silêncio.

Assim fez o jovem, e o camião pôs-se em marcha. A conversa não tardou.

- Olha lá, andas a passear ao acaso ou aconteceu-te alguma coisa que não me contaste?

- Vou em busca do sublime. Pretendo alcançar a simbiose entre o meu Eu e o mundo.

- Tu deves é ter estado a fumar um charrito, não? Confessa! Comigo estás à vontade, também fumei alguns na tropa...

- Preciso de estar completamente puro, a salvo de tudo o que se situa na esfera do mundano. Só assim me poderei encontrar comigo mesmo.

- Então estás a fazer uma viagem espiritual, ou coisa que o valha, certo? Eu também me ponho muitas vezes a pensar em tudo e mais alguma coisa, enquanto calcorreio as estradas da Europa toda. E acho, – não sei o que pensas disto, são apenas coisas que me passam pela cabeça – quer-me parecer, dizia, que somos todos como a água dos rios, seguindo o nosso caminho ao longo da vida; não sei se somos guiados por alguém ou se andamos à deriva, mas é assim que entendo as coisas.

- Pois é precisamente isso que almejo! – entusiasmou-se o jovem, voltando-se para o motorista. – Uma osmose com o mundo inteiro! Esponjar-me em tudo o que me circunda! Olhar tudo sem ajuizar, sentir apenas!

- Isso para mim é um pouco difícil de perceber, rapaz.

- Experimentar tudo! Não renegar as sensações! Eu, você, este camião, a estrada, a paisagem, tudo faz parte da máquina que é o Universo!

- Alto aí, jovem! Parece que começo a perceber o que realmente pretendes!

- Ainda bem que partilha dos meus pensamentos...

- Nada disso, pá! Com esse galreamento todo... tu já vinhas com ela fisgada! Mas olha que não sou burro nenhum!

- Agora sou eu quem não compreende...

- Pois sim! A fazer-se de novas! ´tá bem abelha! Olha, vamos fazer uma coisa, antes que me chateie a sério: a conversa acaba aqui, e na próxima área de serviço levantas daqui o rabo e vais tentar enganar outro papalvo!

- Estes tipos não têm mesmo vergonha! – rosnou entredentes, enquanto revirava os olhos por trás das redondas lentes dos óculos escuros.

Dito e feito, o nosso viajante foi deixado, sem uma palavra, na área de serviço onde o camionista parou para jantar. Mas a história de Boris não poderia terminar neste ponto... a sua jornada mal começara.

(continua)

a preguiça é quem mais ordena

13 de julho de 2006

Um Desconhecido Sonho

Um sonho vagaroso
melancólica atracção dos sentidos
O tempo pára, as nuvens correm,
devagar

O silêncio inunda o quarto,
tu és a existência velada
o luzidio corpo
numa mente brilhante

Levantas-te num impulso criador
pintas todas as paredes do teu quarto
Sorris, ao olhar para a obra-prima feita de girassóis,
muito calor para aquecer a alma resfriada

Saíste de casa e nunca mais olhaste para trás
A tua vida tinha um novo sentido
agora... em frente, rumo ao desconhecido!

12 de julho de 2006

O inconveniente II

O celibatário dirigiu-se à enlutada para lhe apresentar as condolências:
- Cara senhora, os meus pesam-me.

O inconveniente

O ourives avarento apresentou as condolências à viúva:
- Cara senhora, os meus cêntimos.

7 de julho de 2006

A Letrada, Libidinosa, Lívida, Luxuriante e Louca Letra L

Olá amigos. Hoje venho divulgar uma série que há algum tempo começou na 2 da RTP, que eu já devia ter divulgado, mas o pouco tempo, e o esquecimento às vezes, me têm feito adiar tão importante boa nova.A série "a letra l" que passa de 2ª a 6ª à meia-noite e meia no referido canal, é espectacular, pois mostra as vidas, os amores e desamores, os encantos de muitas e bonitas mulheres...lésbicas. A série é tão real, bem feita, que evita os clichés, a espectacularidade balofa por um nível intelectual, que nos faz pensar, sorrir, viver com aquelas personagens. A ver desde já, para tirar alguns macaquinhos na cabeça, àquelas almas bem-pensantes que pululam por aí nas nossas praças (de toiros ou não)!Divirtam-se e vejam com olhos atentos.

4 de julho de 2006

Mitos Eternos

Paisagens petulantes
Promíscuas reservas ecológicas
do olhar

Síndromas da saciedade,
oníricas expressões encantatórias
dos devaneios do viandante

Mergulhas na água salgada
do mar
morto o desafio de te encontrar
na ubiquidade das paragens

Segregas sons de um dionisíaco
torvelinho de cidades por começar
acabas agora a paleta de cores
na inebriante Atenas poluída

Socorres-te do alfa beta
procurando o ómega que há-de vir
mapeias a circulação do tráfego
inusitado em torpor constante

Vislumbras a Acrópole dos teus sonhos
Divagas na contra-luz dos propiléus
E esfusiante de alegria e cansaço
reencontras-te com a memória,
com os odores da matéria-prima
invisível a teus olhos

O teatro, essa invenção dos deuses
ofereceu-te Talma nas suas mais sincréticas
colinas, desde Epidauro a Delfos

Soerges-te perante o sol impiedoso
que te queima a pele e a vitalidade
orgânica dos teus tendões, qual
Aquilles temperamental

Fitas os monumentos horas a fio
como Ariadne no labirinto de Creta
tentando salvar Teseu das laboriosas
intenções de Zeus

Deixei a mitologia penetrar o meu
doce sangue naquela tarde
ensolarada e festiva

Só o passsado se regenerava
nas asas da Fénix
ao percorrer tão semelhantes
e orogénicos passos
rumo aos heróis nunca esquecidos

Junto às pedras, imóvel
deixei o cansaço perder-me
no ritual, na dança incandescente

Dei asas aos sentidos
e com Eolo voei com
a interminável imaginação
dos grandes deuses

3 de julho de 2006

Pernilla festivilla

O Tom de Festa - Festival de Músicas do Mundo da aproxima-se!
Cliquem na imagem e conheçam a programação. É na ACERT, em Tondela.

Para mais detalhes cliquem aqui.
Juntem-se à festa!