4 de julho de 2006

Mitos Eternos

Paisagens petulantes
Promíscuas reservas ecológicas
do olhar

Síndromas da saciedade,
oníricas expressões encantatórias
dos devaneios do viandante

Mergulhas na água salgada
do mar
morto o desafio de te encontrar
na ubiquidade das paragens

Segregas sons de um dionisíaco
torvelinho de cidades por começar
acabas agora a paleta de cores
na inebriante Atenas poluída

Socorres-te do alfa beta
procurando o ómega que há-de vir
mapeias a circulação do tráfego
inusitado em torpor constante

Vislumbras a Acrópole dos teus sonhos
Divagas na contra-luz dos propiléus
E esfusiante de alegria e cansaço
reencontras-te com a memória,
com os odores da matéria-prima
invisível a teus olhos

O teatro, essa invenção dos deuses
ofereceu-te Talma nas suas mais sincréticas
colinas, desde Epidauro a Delfos

Soerges-te perante o sol impiedoso
que te queima a pele e a vitalidade
orgânica dos teus tendões, qual
Aquilles temperamental

Fitas os monumentos horas a fio
como Ariadne no labirinto de Creta
tentando salvar Teseu das laboriosas
intenções de Zeus

Deixei a mitologia penetrar o meu
doce sangue naquela tarde
ensolarada e festiva

Só o passsado se regenerava
nas asas da Fénix
ao percorrer tão semelhantes
e orogénicos passos
rumo aos heróis nunca esquecidos

Junto às pedras, imóvel
deixei o cansaço perder-me
no ritual, na dança incandescente

Dei asas aos sentidos
e com Eolo voei com
a interminável imaginação
dos grandes deuses