Carta de Amarear
Descias a 31 de Janeiro rumo a São Bento quando te vi. E dizias mal da vida, das chuvas
ácidas e das ruas inclinadas demais para os teus sapatos. Só consegui que parasses com
um beijo demorado na tua boca, agora nossa boca de afectos partihados. Disse-te: Bom dia!
Sem mais delongas, arrastaste-me até à gare dos azulejos demasiadamente azuis e brancos
que não pude deixar de pensar no imenso céu que saía dos teus olhos. Era a tua vez de
responder à minha pergunta inicial, feita saliva em demasia. Com um fugaz: -Obrigado!
Sempre que te vejo, és a calma no meu mar revolto, o sol nos meus olhos, uma arma contra
a monotonia dolente dos dias. E foste embora. O comboio tinha de partir. Sem reagir, fixei
o teu gesto final, um braço estendido no ar, agitando com carinho a saudade que se espraiava
no grande átrio da gare. -Até um dia destes, disse para comigo. Encontramo-nos numa rua
qualquer, num dia fixo, numa praça da liberdade saudando abril com cravos, numa rua 1º
de Maio, de cabelos ao vento nesse maduro mês de Zeca Afonso, numa 24 de Julho qualquer
com o suor dos nossos corpos, num bar perto, numa praça 5 de outubro, celebrando a outonal
república em beijos e abraços sem fim, sempre em viagem, sempre em busca de um novo
olhar, uma desejável vitória dos sentidos, novas bocas ao acaso por alimentar, dor festiva
de tanta paixão nos poros solitários de um vagabundo em criação nas profundezas do amor.
ácidas e das ruas inclinadas demais para os teus sapatos. Só consegui que parasses com
um beijo demorado na tua boca, agora nossa boca de afectos partihados. Disse-te: Bom dia!
Sem mais delongas, arrastaste-me até à gare dos azulejos demasiadamente azuis e brancos
que não pude deixar de pensar no imenso céu que saía dos teus olhos. Era a tua vez de
responder à minha pergunta inicial, feita saliva em demasia. Com um fugaz: -Obrigado!
Sempre que te vejo, és a calma no meu mar revolto, o sol nos meus olhos, uma arma contra
a monotonia dolente dos dias. E foste embora. O comboio tinha de partir. Sem reagir, fixei
o teu gesto final, um braço estendido no ar, agitando com carinho a saudade que se espraiava
no grande átrio da gare. -Até um dia destes, disse para comigo. Encontramo-nos numa rua
qualquer, num dia fixo, numa praça da liberdade saudando abril com cravos, numa rua 1º
de Maio, de cabelos ao vento nesse maduro mês de Zeca Afonso, numa 24 de Julho qualquer
com o suor dos nossos corpos, num bar perto, numa praça 5 de outubro, celebrando a outonal
república em beijos e abraços sem fim, sempre em viagem, sempre em busca de um novo
olhar, uma desejável vitória dos sentidos, novas bocas ao acaso por alimentar, dor festiva
de tanta paixão nos poros solitários de um vagabundo em criação nas profundezas do amor.