26 de setembro de 2011

Carta Só

Das estórias que mais me comovem, são aquelas em que inusitadamente, encontro pedaços de felicidade por aí. Como grãos de areia na imensa praia ao nosso dispor. Como saborear um pouco de canela em pó no meu arroz-doce da saudade.
Amor, tenho-o aos molhos, como a salsa. Nessa sopa dos afectos, além dos abraços e dos beijos, a comunhão. Partilha de emoções, de dúvidas e desejos. Um dia ainda me apaixono por um espelho quebrado. Mas até lá, nuvens na minha face ruborizada. De tão afoito que o meu corpo é, no meio do palco da comunicação.
São estórias confusas, dir-me-ás tu, são palavras difíceis na surdina dos vocábulos agrestes, indagarás tu, na ausência de perfil em que te encontras. Desdenho acordos ortográficos, pois fazem-me sentir estúpido no estiolar dos meus sonhos de criança. Quero tratar o bem por tu. Quando eu era velhinho, batia às portas de casa à espera de um doce, sim, porque sempre fui muito guloso. Dizia: "Ó tia, dá bolinho?" E a senhora, ou dava-nos um doce, ou então dinheiro. Sempre preferi algo palpável, que pudesse ingerir no imediato. A gulodice anciã tem destas coisas.
Mas um dia, serei um neófito e descobrirei todas estas palavras difíceis no dicionário da memória. Aprenderei a amar com sentido, sem perambular nas vicissitudes do ciúme e do ódio, do horror e da morte, da pulsão eloquente e mordaz. Um dia hei-de testar-te, pegar na placa de Petri e fazer um esfregaço. Agitar o tubo de ensaio dos teus olhos na praia salgada da felicidade. Depois disso, percorrer o mundo, a pé, ao pé dos limites do tempo. Bater recordes de apneia no pulmão efémero da viagem. Trilhar a má-sorte na enseada dos sonhos. Quando regredir para miúdo, quero só para mim uma gota do elixir da infernal gerontologia. Acabo por ficar só...ssegado, na minha pequenez existencial.

25 de setembro de 2011

Escrita Permanente

Há sempre um tempo para o descanso, para a pausa dos desejos.
Pelo contrário, os sentidos foram chamados a responder mais e
mais, na diatribe das imagens, dos cheiros e dos lugares.

Senti o hálito da morte, no pranto acérrimo do teu olhar.
Morte num hiato, obuses e palavras a metralhar o ódio.
Destila-se a angústia em escombros sem fim, no vale fértil.

Nas serras, por outro lado, o fresco e o perambular
nas sombras da fantasia. É calma a noite no afago
de amor com que me estranhas. Nas entranhas
do teu corpo, o sexo em doses regulares.

Destaco em papel autocolante as parangonas da saudade
Os carros perambulam em matrículas estrangeiras e
eu semicerro os olhos à saloiice afrancesada

Nesta oralidade abundante, há outrossim uma
difusão acelerada de lugares-comuns, na
aldeia mais incomum de existência humana

São víveres nos lugarejos mais acidentais
da memória humana. Decididamente, este
não é o tempo para a escrita permanente.