Verde Gaio
de tanto correr em vão e acreditar que é possível mudar o mundo. Mas
com esta melodia suave, abrando o ritmo do mar. Permito-me agora ter
tempo para ler as notícias do dia e depois, um longo livro que ando para
ler há anos. Entretanto, o corpo também pede alimento, que o intelecto
cansa-se de tanto porvir. Neste pedaço de chão em que me encontro, fito
o cheio luar num silêncio entusiasmante. Naquele violino em pranto, as
palmas dos fãs acalmam-se e apreciam a paisagem dolente da melancolia.
Depois os saltos, a explosão dos afectos e dos sorrisos, o acordeão a gingar
no ar e no crepúsculo da vida. Sob as luzes e as músicas feéricas, a paz, um
outro ritmo por encontrar. Só posso deixar-me enlevar pela suavidade de
um canto na casuística noite das palavras rebuscadas no dicionário mais
poeirento cá de casa. Felizmente que só se ouvem os instrumentos mais
diáfanos e sem vozes, posso concentrar-me na poesia do olhar e nos
murmúrios do vento Suão. Transcrever o texto das horas breves em que
afundado no solstício do mar, naveguei nos horizontes da mais bela solidão.