O Meu Amor não tem Fim
E sem saber porquê, vi-me na encruzilhada do teu rosto.
Repeti as mesmas frases vezes sem conta, porque a
professora mo tinha pedido. Deixar o calão dos dias
inseguros e prender-me à filologia das regras da boa
etiqueta do amor. Mas desisti de tudo isso, preferi
a sonâmbula aura da vagabundagem dos sonhos e
das matérias vis e pueris. Respiguei no lixo palavras
tóxicas e olhares nauseabundos que conspurcavam
todo o ar envolvente. Submeti-me ao silêncio e à
tão desejada e excitante solidão, esperma doce
e quente da luxúria prenhe das palavras.
Divaguei nesses dias pela tua casa, em busca de um gesto.
O teu corpo virando a esquina em surdina, um passo
rápido ao atravessar a passadeira, um pentear de cabelos,
um menear em volta da tua carteira, mas nada, escuridão.
Ia para casa cansado, agitado de não te ver, mas com
a esperança defronte do meu espelho quebrado. Um
dia destes tenho de arranjar coragem para comprar
um novo, mas que me permita ver o teu rosto, em
vez do meu, carcomido e gasto, velho de tanto ter
a ilusão de amar-te. Por hoje, escrevo num velho
caderno, a mesma frase que a professora me pedira.
Escrever sem erros, sem rasurar o passado e sem
imaginar o futuro. Escrever agora, cem vezes, ou
as mais que forem necessárias:
- O meu amor vê-se na distância em que te olho,
nos dias não-ditos, não sonhados. O meu amor
vê-se no sangue aberto a escorrer na calçada.
O meu amor vê-se na alma entregue ao mar.
O meu amor não tem fim, mas esta prosa, sim!
Repeti as mesmas frases vezes sem conta, porque a
professora mo tinha pedido. Deixar o calão dos dias
inseguros e prender-me à filologia das regras da boa
etiqueta do amor. Mas desisti de tudo isso, preferi
a sonâmbula aura da vagabundagem dos sonhos e
das matérias vis e pueris. Respiguei no lixo palavras
tóxicas e olhares nauseabundos que conspurcavam
todo o ar envolvente. Submeti-me ao silêncio e à
tão desejada e excitante solidão, esperma doce
e quente da luxúria prenhe das palavras.
Divaguei nesses dias pela tua casa, em busca de um gesto.
O teu corpo virando a esquina em surdina, um passo
rápido ao atravessar a passadeira, um pentear de cabelos,
um menear em volta da tua carteira, mas nada, escuridão.
Ia para casa cansado, agitado de não te ver, mas com
a esperança defronte do meu espelho quebrado. Um
dia destes tenho de arranjar coragem para comprar
um novo, mas que me permita ver o teu rosto, em
vez do meu, carcomido e gasto, velho de tanto ter
a ilusão de amar-te. Por hoje, escrevo num velho
caderno, a mesma frase que a professora me pedira.
Escrever sem erros, sem rasurar o passado e sem
imaginar o futuro. Escrever agora, cem vezes, ou
as mais que forem necessárias:
- O meu amor vê-se na distância em que te olho,
nos dias não-ditos, não sonhados. O meu amor
vê-se no sangue aberto a escorrer na calçada.
O meu amor vê-se na alma entregue ao mar.
O meu amor não tem fim, mas esta prosa, sim!