11 de maio de 2015

Deambulações Suíças 2014 - Dia I

Imagem 1 - Muro dos Reformadores, Genebra
Foi desta! Após uns anos de espera, aventurei-me ao que me faltava da Suíça para desbravar. Ainda ficou muito, é claro, mas pelo menos os principais lugares já foram descobertos, vistos, sentidos, cheirados. Andei no meio de gente, no meio das montanhas sem vivalma em redor, muita montanha, chuva copiosa, flocos de neve na manhã do primeiro dia de Setembro de 2014. E outras aventuras em modo solitário. Mas comecemos pelo princípio!
 
Lá se fez a viagem bem cedo de Lisboa para Genève, aquela cidade protestante onde professaram os grandes pensadores da reforma, como João Calvino, Guillaume Farel, João Knox (que era escocês) e Théodore de Bèze, o primeiro reitor da Academia de Genève, uma universidade protestante, criada em 1559 por estes quatro reformadores. Há um monumento gigantesco no Parc des Bastions, (um grande e belo jardim público) que foi criado no Séc. XX, em 1909, que se chama "O Muro da Reforma" com estes 4 cavalheiros. Além destes, destacar o grande filósofo Jean-jacques Rousseau, nascido em Genebra.


Imagem 2 -Os 3 Cantões que deram origem à Conf. Helvética









Genebra deve ser visitada por ter esse fluir citadino de uma cidade internacional, pois a França e a Alemanha ficam ali bem perto, há muita circulação de pessoas, bens, viaturas, dinheiros. Genebra é a sede dos organismos internacionais, cerca de 200 ligados à diplomacia mundial, sede europeia das Nações Unidas (ONU), da Cruz Vermelha Internacional, do CERN - Centro Europeu de Pesquisa Nuclear. Tudo isto se encontra no Palácio das Nações, com as bandeiras de todos os países no átrio principal. Não deixar de visitar o centro histórico, na margem Sul do Lago Léman (ou Lac Genève), com as casas antigas, as lojas de bairro muito chiques e caras, as igrejas e o Museu de Arte e História, tudo isto num ambiente do Século XVI, belo, onde se nota a influência Protestante, com as casas coloridas, as fontes com imagens pitorescas, os desenhos nas casas, nas tabuletas dos restaurantes e do comércio local, das guildas e corporações medievais. Respira-se história, respira-se cultura (onde acontecem diariamente eventos de todo o género, da música clássica ao rock, do cinema ao teatro, da dança às exposições).

Imagem 3 - Comboio Bernina Express . Património UNESCO
Embora já tivesse estado em Genebra, quis voltar e ver com mais calma. Também tomei banho finalmente no lago Léman, com muita gente a nadar por aquelas águas cristalinas e puras e nada frias, pelo menos para mim. Isto tudo a 27 de Agosto, dia da chegada à Confederação Helvética. Por falar nisso, comemoram-se em 2015 os 200 anos da entrada do Cantão de Genebra à Confederação. Volto a explicar, para quem ainda não sabe, que a Suíça é uma junção de estados confederados, que são os chamados Cantões. Existem 26 cantões na Suíça, em que os três primeiros que se juntaram (Schwyz, Uri e Unterwalden) no Prado de Rütli, a 1 de Agosto de 1291, em que juraram defender-se dos Habsburgos que mandavam naquela região. Foram estes três que assinaram o pacto de aliança mútua e deram origem à Confederação Helvética. Ainda hoje, o 1º de Agosto é o Dia Nacional da Suíça, onde se comemora a criação deste país. O cantão de Schwyz deu origem ao nome do país, Schweiz (Suíça). Não esquecer que nesta região e na maior parte do território se fala o alemão. Depois vem o Francês, depois o italiano na região mais a Sul, chamada Ticino e nas regiões montanhosas junto à Áustria e Liechtenstein, fala-se a minoritária lingua Romanche, uma mistura entre italiano e francês, pois vem do latim e por isso um português consegue entender muitas palavras. Concluindo este pedaço de história, de referir que a bandeira do cantão de Schwyz já era desde 1291, uma bandeira vermelha com uma pequena cruz branca do lado direito, que veio dar origem à bandeira nacional suíça. 
Posto isto, avancei finalmente para as minhas deambulações a sério, por locais que ainda não tinha passado nem pernoitado ou que já conhecia, mas mal. Para viajar pela Suíça, o comboio é o melhor meio, pois leva-te a todo o lado, sem atrasos, com ligações sempre rápidas e nunca esperas mais de 20 a 30 minutos por um comboio, excepto nas regiões mais isoladas, em que por vezes a ligação só é feita de hora a hora, mas com muita tranquilidade. Afinal estou a viajar para saborear o tempo e um outro país!
Com um passe suíço, pago por 8 dias, pude viajar em todos os comboios, autocarros e barcos nos lagos, subir alguns teleféricos históricos, visitar muitos museus gratuitamente. Outro meio é a bicicleta, que na Suíça é bastante utilizada, claro está. Depois, as caminhadas e passeios a pé, muita gente os faz, especialmente os mais velhos, pessoas reformadas. Um casal de mais de 80 anos veio comigo num desses comboios, tinham vindo das Montanhas do Oberland Bernense (a região interior e rural do Cantão de Berna, que é a Capital da Suíça, para quem não saiba), achei fantástico o espírito e pus-me a magicar se isso não tem tudo a ver com o início desta escrita: o facto de ter sido uma cidade influenciada pela reforma protestante, que alterou mentalidades, que criou academias e a vontade de conhecimento e cultura. É por ver estas coisas que acho que o catolicismo apostólico romano tem sido a fonte de muito atraso cultural, social, político e de mentalidades, claro está. Portanto, explora-se minuciosamente os locais, as montanhas a pé, sendo que para me deslocar e dar uma volta inteira à Suíça em 8 dias, só seria possível de comboio. Portanto, a caminho! Até já e boas viagens!