20 de fevereiro de 2014

Intensidez

Havia algo em ti que me emocionava.
Algo de grandioso. Um não sei quê
de diferença para as outras. Um
estatuto, só teu. Sem peneiras,
sem vaidades, apenas solidão.

Um mundo muito melancólico
- e tão luminoso! Encantei-me
logo desde o primeiro café.
A tua voz era decidida, grave,
como eu gosto, sem maneirismos
que me irritam profundamente.

Não tens certeza de nada, especialmente
do futuro. E ainda bem. Menos ansiedades
vives. Do passado também não tens
grandes memórias ou recordações.
Vives aqui, agora e dás-te por feliz
com isso. Sonhos, tens-nos às carradas!
Por isso continuas a andar sem pressa.

Não sei se ainda é tempo para te dizer,
mas as framboesas estão aí e quero
oferecer-te todas e colocá-las na tua
boca deliciosa. Uma a uma, languidamente,
sem passado, sem futuro, sem pressa.

Construindo contigo um silvestre aroma
delicodoce, sensível, profundo como
a terra dos teus olhos, vibrando com
a frugal intensidez dos teus braços.