7 de julho de 2011

Poema Insalubre em Condomínio Fechado

Tome-se um espaço vazio. Incorpore-se nele o silêncio.
Abasteça-se de combustível para exaurir o seu corpo
de besta ensimesmada. Que arrebente em mil pedaços
na escória do buraco negro em que se meteu eficazmente.

Agradeça aos deuses por viver só e com uma casa de luxo
num nono andar com vista sobre o betão. Carregou-se de
carros, motos, iates e um jacuzzi particular para os seus amantes.
É uma besta quadrada e leviana. A sua obesidade é inversamente
proporcional à sua inteligência. Diz que é feliz, porque tem uma
choruda conta bancária. Mas tem varizes nas pernas e já não sabe
a sensação de andar a pé nas ruas apinhadas de gente. Aliás, não
sabe o que são as pessoas comuns, com quanto sobrevivem.

Vós sois uma baba para mim, por muitas gravatas que use sobre a
sua nulidade. Vós, venerável senhor das mãos conspurcadas, não
passais de mero lixo a ficar com as migalhas dos outros. Vós sois
um infeliz. Vós mereceis este poema. Para dizer ao mundo que
existiu, mas nunca soube olhar nos olhos de alguém, nunca soube
o que era o amor. E sem amor, sois um zero, uma nulidade absorvente
desta multiplicação de seres imundos e rastejantes no vazio silencioso
da modernidade. Aqui jaz então, um ser digno de todo o esquecimento.