9 de julho de 2011

Corpo em Adiantado Estado de Composição

Sabes o cansaço do meu trabalho?
Estou derreado e já não tenho forças para sair
como todas as outras pessoas, tomar um copo,
divertir-me um pouco.
Suo, uso o meu corpo, a minha voz, a minha mente
até ao limite do impossível. E nunca desisto, não
posso fazer uma pausa, como tu, como vós.
Se estás a criar, a repetir, a condensar, vais parar?
Podes perder aqueles cinco minutos em que descobres
um novo sentido na coreografia, na dança, no texto,
na voz. Por isso, não podes perder a concentração.

E depois de tudo isso, aí sim: parar. Para pensar, reflectir,
discutir o melhor rumo a tomar. Ah, parece que falta aqui
a inspiração e a outra palavra que todos gostam de usar,
o talento. É uma palavra que me soa tão vazia, oca de
tanto se procurar um eco, que é puro paroxismo.

Não posso estar no lugar dos outros, na beleza dos outros.
Resta-me uma cama e a minha fealdade. No entanto,
amanhã será um novo dia e aí poderei recomeçar de novo.
No desgaste rápido do meu corpo e dos meus sentidos.
Ou descansar finalmente, na areia molhada da inquietação.