Floresta de Bamako
Coleccionei postais de Bamako, ali frente ao rio Níger
Deambulei por Badalabougou e fui recolhendo as
imagens que me faltavam. Tudo isto fora concebido
num sonho estival, numa noite de solitários cansaços.
Foi neste Mali que ouvi as músicas mais extraordinárias
da minha vida. Comecei por ouvir Ali Farka Touré, mas
depois apresentaram-me mais, o Traoré, o Koité e o
grande Salif Keita. Mas o Mali tem tanto para dar-se.
Nesse sonho reparei na nítida fímbria de verde ao longo
de quilómetros a perder de vista. Não sei se seriam
muito variadas, mas discerni acácias, tamarindos,
baobabs ou embondeiros. Mas lá do alto, sentado
com os locais, vislumbrei todo este mato imenso,
e a maneira calma como todos deixavam que o
dia escorresse lentamente. Disseram-me depois,
que Mali significa bosque de árvores de fruto.
Mas lá ao longe, no interior da floresta, sentia-se
a guerra. Não com metralhadoras, mas com o
cheiro a medo e a perseguições étnicas. Foi
numa dessas que de repente me vejo rodeado,
protegido por uma facção de jovens adolescentes.
Não sei se eles pensavam que eu era jornalista ou
repórter, sei que me trataram bem e mostraram-me
aquele dia-a-dia caótico e tenso. Lá fui percorrendo
os caminhos, por entre as árvores, sempre atento ao
perigo, que poderia espreitar do alto de uma delas.
E no meio de uma dessas, um tiro silencioso e num ápice
cai uma pessoa de uma dessas árvores. Mas com vida,
apenas entregando-se ao inimigo. Sem violência, é
sequestrado pelos outros e mais nada soube dele.
Mas o sorriso de calma e conhecimento do meu guia
é que me fizeram estremecer. Tanta paz e sapiência
no meio da floresta. Era como apanhar crocodilos
no rio. Mas o medo começou a asfixiar-me com
cada vez mais uma floresta escura e claustrofóbica.
De repente, um esquadrão inimigo ataca ao de longe.
Enquanto o meu guia e muitos outros combatem, eu fujo
para trás, com algumas mulheres e crianças, expectante.
Parece que nos vão cercar, mas por fim, estamos todos
a salvo. Os outros foram repelidos para trás e tudo
volta à normalidade. Mas eu, após alguma acalmia,
acabo por me despedir do guia e ser conduzido
por crianças para fora da floresta. Sem eles, estaria
certamente perdido naquele labirinto de árvores.
Já com o sol como guia, estou de novo noutro mundo,
na calma idílica de Bamako, a olhar o rio e a coleccionar
postais, com a mesma suave brisa de há pouco tempo atrás.
Bebo um chá para retemperar ideias e deito-me finalmente,
nos escombros dos meus sonhos mirabolantes.
Fui feliz naquela enseada de guerra e paz
ao som diáfano da floresta do sonho.
Deambulei por Badalabougou e fui recolhendo as
imagens que me faltavam. Tudo isto fora concebido
num sonho estival, numa noite de solitários cansaços.
Foi neste Mali que ouvi as músicas mais extraordinárias
da minha vida. Comecei por ouvir Ali Farka Touré, mas
depois apresentaram-me mais, o Traoré, o Koité e o
grande Salif Keita. Mas o Mali tem tanto para dar-se.
Nesse sonho reparei na nítida fímbria de verde ao longo
de quilómetros a perder de vista. Não sei se seriam
muito variadas, mas discerni acácias, tamarindos,
baobabs ou embondeiros. Mas lá do alto, sentado
com os locais, vislumbrei todo este mato imenso,
e a maneira calma como todos deixavam que o
dia escorresse lentamente. Disseram-me depois,
que Mali significa bosque de árvores de fruto.
Mas lá ao longe, no interior da floresta, sentia-se
a guerra. Não com metralhadoras, mas com o
cheiro a medo e a perseguições étnicas. Foi
numa dessas que de repente me vejo rodeado,
protegido por uma facção de jovens adolescentes.
Não sei se eles pensavam que eu era jornalista ou
repórter, sei que me trataram bem e mostraram-me
aquele dia-a-dia caótico e tenso. Lá fui percorrendo
os caminhos, por entre as árvores, sempre atento ao
perigo, que poderia espreitar do alto de uma delas.
E no meio de uma dessas, um tiro silencioso e num ápice
cai uma pessoa de uma dessas árvores. Mas com vida,
apenas entregando-se ao inimigo. Sem violência, é
sequestrado pelos outros e mais nada soube dele.
Mas o sorriso de calma e conhecimento do meu guia
é que me fizeram estremecer. Tanta paz e sapiência
no meio da floresta. Era como apanhar crocodilos
no rio. Mas o medo começou a asfixiar-me com
cada vez mais uma floresta escura e claustrofóbica.
De repente, um esquadrão inimigo ataca ao de longe.
Enquanto o meu guia e muitos outros combatem, eu fujo
para trás, com algumas mulheres e crianças, expectante.
Parece que nos vão cercar, mas por fim, estamos todos
a salvo. Os outros foram repelidos para trás e tudo
volta à normalidade. Mas eu, após alguma acalmia,
acabo por me despedir do guia e ser conduzido
por crianças para fora da floresta. Sem eles, estaria
certamente perdido naquele labirinto de árvores.
Já com o sol como guia, estou de novo noutro mundo,
na calma idílica de Bamako, a olhar o rio e a coleccionar
postais, com a mesma suave brisa de há pouco tempo atrás.
Bebo um chá para retemperar ideias e deito-me finalmente,
nos escombros dos meus sonhos mirabolantes.
Fui feliz naquela enseada de guerra e paz
ao som diáfano da floresta do sonho.
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