21 de março de 2011

Três Tempos

Hoje queria escrever-te coisas tão bonitas como o tempo
mas não consigo
não sou capaz

Sou falho de inteligência e de amor. Faltam-me os verbos
na demanda do mundo sensível e atroz ao mesmo tempo

Hoje queria dizer-te o quanto te amo, mas duvido que
seja assim tão simples de escrever num papel rasurado
pelos dias inquietos a palavra aérea da fantasia.

Ontem queria explicar-te ao pormenor a ciência dos
corpos e dos mares profundos. Na mais abissal das
entranhas do sentimento. Mas a lua escolheu-te
para navegares nas crateras da felicidade.

Amanhã será tarde de mais, porque morri de vergonha
pelas palavras ditas. Escancarei a boca para o teu coração
e fiquei parado no sinal vermelho do teu afecto

Amanhã é sempre longe e eu tão perto de vestir o hábito
do monstro que me ensina a quanto menos se disser, melhor
E assim, cravo espinhos nas minhas encrespadas mãos
pecadoras pelo ofício de te querer. E socorro-me em
última instância de um trago amargo que me consome
as lágrimas no paraíso dos amantes etéreos

Por agora, o beneplácito leviano do astro-rei, que
me faz desejar um sorriso numa noite estranha
Já me despi de toda a sujidade dos homens

É tempo de recomeçar na orla do idílico momento:
Futuro feito de presente carregado de passado