10 de março de 2011

Elegia Curta

E se a minha boca fica seca de tanto calar?
Se me desfiz na saudade dos vivos e agora
parto contigo na volúpia da morte física,
resta-me a verborreia e sem saliva, dobrar
as tormentas do meu pranto solitário?

Porque me deixas sempre com perguntas,
vida? No recanto mais húmido e isolado,
perscruto a minha voz atormentada, já
gasta no desalinho das horas consumidas
na porosidade dos corpos condenados.

Mas grito ainda, na tua hora solene e baça,
as canções de marear, na tua brandura.
Agora, que partiste para longe, vem,
devagarinho, para a minha beira.
No estertor do deserto, a roufenha voz
dos destemidos, a suportar o estio da
angústia e da dor, em rumorejantes
caleidoscópios de certezas. O amor
persegue a doença ávida de carinho.

Resta-nos somente as respostas a dar
em cada bifurcação dolorosa da vida.
Na alegria das imagens felizes, a certeza
de nunca me esquecer do teu sorriso.