30 de janeiro de 2011

A Utopia

Na mesa, os livros e as utopias.
No quarto dormente, o lume brando
afugenta o frio exterior.

Estou só, na medida do possível.
Posso e quero. Mas só
faço o que quero.

Escreve-se pouco na cama dos amantes insurrectos. Macero a agonia em limões sem fim.
Na acidez das palavras, o gosto doce da saudade. Rio-me dos esconjuros da infâmia.

Nas horas mortas, a minha finitude. Um soez, à espera de ti, miséria. Nas marionetas
da vida, a minha torpe inquietude. Quero a combustão do mundo.
E os livros ainda por queimar no meu leito desabrido.

Tudo em redor está num caótico frémito de esperança. As calças sobre a camisola
e no espelho quebrado, livros em ascensão vertical. Um dia começo a ler para
ser inteligente. Ou pelo menos, eloquente.
Por agora, apenas louco, neste quente quarto. O aquecedor irradia dióxido de carbono.
À falta de arma, tenho a inalação tóxica mais certa do que a vida.

Penduro os ouvidos na chapelaria mais distante. Do dislate se faz a minha prosa
porosa. Com rugas fartas na agonia do momento. Do presente se faz o sal na
pálpebra carcomida. Se eu fizesse sentido, seria sinaleiro das minhas acções.

Por isso, perambulo. Construo grumos na sopa mais anquilosante e fria.
Mas ponho hortelã nos silêncios e orégãos nos sentidos.
Já produzi sonhos feitos de manjericão e outras sopas mais saborosas.
Um dia ofereço-te as receitas para a minha solidão.
Até lá, pego n' A Utopia e atiro-o à fogueira das vaidades.

O crepitar da vida em prantos sem fim.
Quero o que não posso.
Mas só, faço o que quero.

1 Comments:

Blogger a saber usou da palavra

presente antes do agora para meu contentamento em achar o antes e o presente e o invejado futuro da vida presente.obrigada

31 janeiro, 2011 22:59  

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