30 de dezembro de 2010

Os Limites do Mundo

Percebes agora o quão sensíveis são os limites do mundo?
A ribeira desagua no enorme rio dessa viagem intrépida
aos sentidos caudalosos do sonho. Deixei-me arrastar na
corrente dos afectos e sucumbi perante a barragem dos
homens sem amor. Que importa a energia gerada se não
há luz nos vossos corações? No entanto, as comportas
sempre podem abrir para as cheias da paixão humana.

E o silêncio com que me respondeste aos perigos da fogueira?
A festa era dos rapazes e não querias andar por aí a cantar
de galo. Pegaste na gaita-de-foles e obrigaste-me a dançar
nos contratempos da morte. O copo estava cheio e o meu
sangue escorreu pelo planalto altivo. Lá ao longe, os homens
cofiam as barbas no prazer das pedras que pisam. Os
pauliteiros já cirandam em poses ameaçadoras, mas tudo
não passa de uma encenação ritual e viril. Tu captas todo
este feérico espectáculo na tua câmara digital. São os teus
dedos que ora gravam memórias, ora deitam por terra
todas as fantasias que absorvo do teu corpo enviesado.

De tudo o que te disse, só ligaste ao carrossel diabólico
da telúrica geomorfologia da terra insone e isolada.
Tudo o mais foi desvario e evasão nas preces aflitas
com que te fitei e disse mansamente nas arribas:
Percebes agora o quão sensíveis são os limites do mundo?

2 Comments:

Blogger a saber usou da palavra

boa continuação em 2011. {}

31 dezembro, 2010 22:23  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Comentário bom! 2011, é claro!

03 janeiro, 2011 23:48  

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