Velejando com os Poetas no Horizonte Infinito

Tantos dias sem escrever sobre as vicissitudes do mundo. Do mundo poético
assaz estranho e sensível. É um odor na face embriagada do desejo que me
atiro para a frente no dilúvio das palavras. Mas por hoje, a alma enxuta de
imagens na pictórica sensação de abandono. Eram As Mãos e os Frutos, dizia
Eugénio de Andrade, mas Ruy Belo andou por Aquele Grande Rio Eufrates
e eu quis ter comigo Herberto Hélder, nas faldas da sua ilha da Madeira.
Persigo agora Luís Pacheco, com os Mão Morta, por Braga, a Idolátrica. Vou
atrás do Libertino, que passeia pela cidade dos arcebispos, O seu esplendor.

E agora Mário Cesariny, o Virgem-Negra, com Cruzeiro Seixas, a surrealizar
por aí, nas mais perfeitas imagens que pude ver. Depois, Mário Viegas, a
dizê-las, a brincar com todas as palavras que há no mundo. E Al Berto?, que
do seu forte de Sines, nos desnudou a vida inteira naquele Horto de Incêndio.
Mas por mais que queira velejar acompanhado, é sozinho que me encontro,
no alto-mar da minha imaginação selvagem e impassível, no vagar mais etéreo
que me posso conceder, com lágrimas e suspiros no meu corpo enevoado de
dúvidas e contradições. Deixar-me levar até ao fim do mundo, no horizonte
da poética possível. Vamos em frente, cerrando os dentes na malvasia, ó Capitão!