19 de setembro de 2010

Sem Perdão

Perdi o controlo. Na escada mais íngreme da loucura deixei-me arrastar rumo ao
finito campo onde o solo é a minha morada. Desci à terra dos errantes e dos fiéis
funâmbulos da pequenez. Estatelei-me ao comprido na sageza dos actos simples.
Errei e claudico nas ruas amargurantes sem ti, lua feérica. Perambulo sem sentido
enquanto não tiver esperança no olhar. Da demência das palavras gordas de luz
e euforia, fica-me a latejar a abundância de estultícia no meu rosto pejado de fealdade.

Falhei em toda a linha do horizonte. Sem retorno esta vida dos silêncios. A casa ficou
abafada de tanta energia gasta na minha mediocridade. O mundo da provocação é tão
cruel e vingativo. Acabo sempre por sucumbir e ficar preso nas suas armadilhas mais
banais. Falta-me o tino e o tacto para acordar de vez da letargia da infâmia que me
corrompe os sentidos mais secretos. Há tanto amor para dar, mas o que se solta é
sempre o oposto, numa inverosímil e farsante vida. É neste paradoxo que caminho
para o topo das escadas, mas acabo invariavelmente e sem glória por cair de novo.

Para quando a aprendizagem e o crescimento? Para quando a morte ou o castigo
divino, para desaparecer toda a maldade do mundo? Por agora, olhos férteis de
lágrimas e suspiros, inquieta alma no sopé dos afectos, corpo em carne viva no
monte mais desabrigado e solitário possível, esconjuro à minha alma adoentada e
em esboroar contínuo para o pó do esquecimento. Da vida feliz e sossegada não reza
esta história, feita de um ingénuo e tonto canto à chuva na fraga mais escura e
plúmbea possível, prisão em surdina dos seres que habitam no mais frágil de mim.