4 de junho de 2010

Dor Oxigenada

Hoje dói-me a dolente enseada dos sonhos na curva lombar dos sorrisos.
A imanência dos sonhos é revelada na folha perene da saudade. O ocaso
anuncia o términus de maturação das amoras silvestres, rios de desejo,
esfera nacarada dos olhares transviados, sumo a escorrer-te pelas maçãs
do rosto seráfico. Na barragem que conduzia as águas ao pomar, muitas
levadas transcreviam a erosão do solo argiloso da tua morada. Depois,
regavas abundantemente a figueira dócil e majestosa, qual Imperatriz
Japonesa. Nos origamis da tua vida, há pedaços de avião espalhados
na cinza dos dias inquietos, metamorfoses e borboletas a pairar sobre
o barrocal olorante. Nesta dor de vertigem em que te vi, cruzei as
maleitas em sinapses inigualáveis, despertares sensuais em planícies
sem fim e um turbilhão vindo dessa levada de amor e fúria, redemoinho
incessante nos corpos frágeis dos arbustos sazonais em demanda
universal. As catarses nas cascatas do inferno são morticínios em surdina
no amplexo circunstancial das horas do porvir em borbulhares sem fim.
Por fim, a dor oxigenada nas cefaleias dos invisíveis prazeres circulares.