6 de junho de 2010

Anjo Branco

Um simples desenho. Uma face carcomida de dor. Os olhos sibilantes da noite.
Nada disto parece fácil, mas basta juntar as peças e resumir o girar do mundo.

Na sala de trabalho, um tufo negro de sapiência e serenidade. Há anjos na terra
das grandes gôndolas verde-mar. No céu branco dos silêncios, um sorriso jaz.

Corroo a roda dentada do presente, macero o açúcar na sala dos espelhos côncavos
e digiro a solidão em sombras anquilosantes. Começa a leitura a ficar difícil. É hora
de por travão às escutas e às esperas. Queria uma rota mais fácil para escrever.

Se começou com as mãos, não tem de findar na audácia das palavras. Na ternura
de um gesto, há personagens a criar com bocas de infindáveis formas e expressões.

Agora sim, a palavra certa: expressar a intenção delicodoce dos sonhos, das marés.
Foi um anjo branco quem me pediu para embarcar na viagem mais quente dos sentidos.