1 de maio de 2010

A Missiva do Tempo

É manhã. Na cidade dos silêncios e esperas, a carta.
Abri-a devagar, sem pressas. Um perfumado cheiro
a rosmaninho. O teu corpo em deriva mental. Procuro
na confusão das ideias que me expressas, um sinal.
Apenas um rasto de sangue na memória. Vidas passadas
no desalinho da escrita. Há greves e operários, há lutas
no denodo de uma longa espera. O fumo, os corpos marcados
pela exaustão e a perseguição sempre presente. Há que
correr pela berma da estrada e fugir nas raias da oportunidade.

Foi há 36 anos. Sumiste-te daqui. Fizeste a escolha acertada.
E eu fiquei só, nas noites ruidosas da dúvida. Mandaste-me a
missiva dos amores desfeitos. O tempo muda e o delírio do
metrónomo é meu confidente sagaz. Reli hoje, a missiva que
me corroeu os dias na ampulheta dos sonhos. Numa tarde de
espectros, percorri as ruas deambulando nas bebedeiras
vermelhas dos outros. No meu desamparo, a aldeia, em que
fiz a redenção e a cura. Por ora, tudo está claro, nesta noite
íntima, ao sabor das estrelas mergulhadas no luar perene.

2 Comments:

Blogger a saber usou da palavra

esperei(o) por mais. faz-me bem ler o que escreves. {}

09 maio, 2010 17:48  
Blogger Sobolas usou da palavra

Sinais dos tempos!...que mudam

12 maio, 2010 18:07  

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