1 de fevereiro de 2010

Leitura dos Manuais

Nesta redoma doirada da vida, navego em círculos concêntricos, qual umbigo desabrigado
nas ventanias do presente. Muita rotina e publicidade ofuscam-me a memória dos dias.
Estou farto, mesmo farto dos habituais ciclos da vida. Apetece-me uma necrose larvar
no sossego dos afagos distantes. Existem deusas incompreendidas, mas ao mesmo tempo
amadas na bitola estreita da única via possível: da utopia e dos idílicos manjares filosóficos
ao fim da noite. Numa pedra fria, o meu aconchego, livros onde recolher a minha impressão
digital que me marca um passado cheio de futuros por descobrir. Farto das fantasias pueris
da sociedade, enredada na espectacularidade da vida. Palavra longânime e abstrusa, mas
fidelíssima. Sim, sei que gosto de empregar palavras difíceis e caras, para procurarem no
dicionário, para pesquisarem e sentirem-se mais inteligentes. Porque sou feito de uma
massa de moldar difícil, pensando na comunicação e na pedagogia, atento aos abraços do
mundo em circunvoluções intermináveis. Sinto-me infame perante a perícia da vida.

Como uma estória circular, sempre a vida e a morte. O horror dos corpos naufragados,
o ludibrio das palavras na fonética por inventar. Entre o campo semiótico e o filosófico
há muitas portagens por passar e avançar. Sem talões nem outras complicações, resfolego
entre a epistemologia e a ética, depois o estoicismo de Epicteto. Encaro a fenomenologia
como uma hermenêutica clara entre mim e os objectos que me rodeiam, como este mapa,
ancorado no cais das palavras iconoclastas. Na beatitude esbelta do pensamento, discorro
serenamente nos píncaros existenciais e sintácticos da vida, perambulo no eclectismo e nas
ortografias sem acordos possíveis com este futuro espúrio. Resta-me a pedra, já quente de
tanta leitura, tanto filosofar exegético à volta deste pequeno mundo da introspecção.

1 Comments:

Blogger a saber usou da palavra

«Sim, sei que gosto de empregar palavras difíceis e caras, para procurarem no
dicionário, para pesquisarem e sentirem-se mais inteligentes. » Mas sem nunca forçar o que é genuíno de ser compreendido.Gosto de palavras novas que não forcem a palavra simples. A saber dos meus direitos.

02 fevereiro, 2010 20:44  

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