13 de agosto de 2009

Arte de Bem Correr a Toda a Sola

Num tronco de madeira a água corria por aí abaixo. Como levadas.
Depois o moinho girava a mó para outras aventuras. Fabricámos
o pão dos amores na velha casa com telhado de colmo. Como partimos!

Depois desse monstruoso tempo das rodas e das tenções, ancorámos
no sumidouro das nuvens. Réstia de esperança no teu olhar embriagado
e um suco adolescente na memória furtiva dos sonhos. Como fabricámos!

Aurora boreal e uma ninfeta em decúbito dorsal, plúmbeo o chão no meu
pé-poema, frescos os ares da dança rupestre nos teus olhos. Homenagem
à Serra acólita no desbravar das paisagens siderais. Como corremos!

A toda a sola partimos no avanço do caminho inquieto. Veredas, fragas e
penedos. Brenhas, penhascos e penhas. Sendas, montes e vales. Música
para os meus ouvidos. Derrapo nas falésias da gramática chã. Como lemos!

Corações piegas, chamaste-nos tu. Não me inquietei, asas para que vos quero
e parti rumo à Calcedónia. O Gerês por horizonte imutável, fímbria ajaezada
da mais sublime preciosidade. Além, as estrelas são a nossa casa! Como falámos!

Caim matou Abel por este ser o mais talentoso dos irmãos. E também a bonomia
das suas acções. Verbo do agitar a corrente mais espaventosa das dúvidas. Em
Pitões das Júnias o pão de centeio no verão e as Neves de inverno. Como dormimos!

Entre as brandas e as inverneiras há rotas de transumância imperdíveis. O teu fio
de escrita sublinha a presença dos bichos e das gentes. Nada mais difícil do que
ser simples. "O que de mim espero é arte para diluir-me no eterno". Como vivemos!

(Entre aspas está uma frase de Abel Neves, a quem dedico esta prosa)

1 Comments:

Blogger a saber usou da palavra

aguardando o fim do período de férias :()

01 setembro, 2009 23:58  

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