9 de junho de 2009

O Bolso

Gosto de andar por aí, com a mão no bolso, num misto de descontracção
e desafio irónico à vida agitada de quem sai a correr dos transportes públicos
de uma qualquer cidade sobrelotada. Olho para as minhas calças de ganga.
Têm o desenho perfeito para esconder as minhas alvas e frias mãos. Lá dentro,
tenho um mundo inteiro para dez dedos com o frenesim da descoberta. Ficam
assim, às apalpadelas ao tecido suave e um pouco sujo do bolso. Lá, existe areia
dos dias de praia com um livro na mão, o cotão dos dias seguidos sem pôr a lavar
a calça, já surrada de tantas cadeiras, bancos, escadas, rochas, camas. À volta deste
bolso, um mundo feito de indústria. Os rebites do pequeno bolso, onde pode caber
uma moeda meio esquecida; um isqueiro, caso fumasse; ou um amuleto qualquer,
se acreditasse neles. No bolso grande, reina a maioria. Numa área maior, mais artifícios
posso colocar. Desde o passe que almeja socializar com a transeunte do autocarro ou a
vizinha do metro, o telemóvel que fica quente e mais silencioso neste bolso, um cartão
multibanco, leve e pronto a gastar, uma nota, um papel, uma concha, tanta coisa pode
caber neste meu bolso. Mas o que mais gosto é chegar ao fim do dia e encostar-me a
uma conversa com as mãos meio descobertas, à espera de comunicarem. E quando
chega a sua vez, elas libertam-se e são demasiadamente expressivas. Depois do calor
comunicativo é hora de recolher, reflectir e por fim, descansar nessa concha suave,
silenciosa e perfeita que é um bolso. Esquerdo ou direito, lateral, traseiro. Um bolso.
Uma muralha perfeita para os dias em que as minhas mãos são um castelo de emoções.

2 Comments:

Blogger a saber usou da palavra

da primeira vez que li lembrei-me de fernando pesssoa. do seu tempo talvez por uma baixa coimbrã pensando numa determinada pessoa...

13 junho, 2009 20:28  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Da baixa Coimbrã retenho em 2003 a grande agitação com a capital da cultura. Eu estive por lá. O café Santa Cruz, lindíssimo e a Igreja ao lado, com o nosso D.Afonso Henriques.
Não conheci bem todas as personagens
que deambulam pela baixa, mas recordo
as livrarias (almedina), alguns bares (piano bar e outros), o comércio local (as sapatarias, a padaria naquela esconsa rua) e alguns restaurantes (Zé? dos Ossos- muito bom).
Já tenho saudades de Coimbra!
Este verão devo ir aí passear e ver alguma coisa da Escola da Noite, agora no teatro da Cerca.
Um beijinho para Coimbra!

13 junho, 2009 21:54  

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