19 de junho de 2009

Dissidência

E agora, que apareceste de surdina? No hemisfério esquerdo da noite, um
olhar, a memória afilada no infinito. Há um lado oculto que é teu, mas desfazes
tudo com os teus sorrisos e a vitalidade de uma criança bem inteligente.

És a criação, mesmo não sendo a do mundo, basta que ergas as cruzes no
altar da inquietação. Depois, sombras e nevoeiros, uma carta de despedida
e a comédia à la tarte. Depois da opípara filosofia dos termos e das conquistas,
partes rumo à Galateia, musa maior do mar. Sempre com vontade de amar!

Desta vez, há espaço para os conluios e as pausas, o mesmo é dizer as
afinidades selectivas de um mar salgado na profundeza da bruma. Mais que
discreta é a ausência de marés na melopeia infinita de um sonho mascavado.

Doçuras à parte, procuro os idiomas mais singulares na esfera restrita de
um caminho pejado de paixão. Pouco mais resta que a morte, nas divisas
ensanguentadas do poder atroz e missionário. São posições que o poder
defende, no âmbito mais persistente dos eventos de fim-de-tarde, à sombra.

Resta-me agradecer as palavras dirigidas, não a mim, mas a todos aqueles
que passaram por cima de mim, na ânsia desenfreada do sucesso a qualquer preço.
Entre os tostões da calçada e os milhões na parada, prefiro a flor, fina e delgada
do desejo nauseabundo. Sem esgotos nem saneamento básico para deslindar
os perfumes do tédio. Socorro-me agora da bússola avariada dos dias do futuro.

Depois do silêncio sacrossanto, a morte lenta em esgar febril. Na sinfonia suave
de um beijo em lá menor, ainda acrescento uma variação enigmática na melopeia.
Por ora é um bequadro no terceiro andamento de um verso, uma sílaba vivace
num andante sustenido. Párias audazes, fitas multicolores e a seiva a crescer.

Falo-vos do medo, a sedução do abismo na orla inaudível da razão. Licores e
promessas, eternas pedras que moem os ventos ao desafio. Tudo isto podia
fazer sentido, se a vida fosse humanamente uma dissidência dos sentidos.

1 Comments:

Blogger O Micróbio II usou da palavra

Da minha parte não há dissidências... só existem convergências com todo este texto... :-)

19 junho, 2009 09:24  

Enviar um comentário

<< Home