20 de maio de 2009

Foi Longo o Silêncio

Foi longo o silêncio. Demasiadamente longa esta toalha que estendi às emoções.
Agora percorro todos os transportes públicos numa ufana e triste memória.
Acho que te vi. Saías do teatro, tal como eu. Encontrei-te de novo no metro,
na Praça de Espanha. Infelizmente, eu ía para a Baixa e tu para outro percurso.
Sei lá se para o Zoológico, se para o lógico Alto dos Moinhos ou o ilógico Colégio
Militar barra luz. Bem que eu precisava da tua luz, da tua presença. Uma palavra,
uma só palavra e eu seria o teu alfabeto de idílicas memórias. Porque me fecho
na concha do meu sofrer, na minha ingratidão incomunicável? Sou o perdedor
nato das vivências e dos sorrisos. Agora sucumbo nesta falésia prenhe de silêncio.

O rumor das vozes em demasia, a surdina dos bravos soldados da Prússia. No
hospício em que me encontro, há paixões imensas nos olhares ensanguentados
da guerra. Quente guerra na gruta ascensional da moral. No tractor de Müller,
vi restos de corpos inclinados para o céu. Fuligem espalhada na aragem das
colinas. Volto de novo o olhar a Lisboa, cidade enferma de vozes que me sacodem
a pele, que me eriçam as rugosidades e partem violentamente para uma nova
estação, um novo transporte que me apazigue a escrita. Agora estou bem, sinto-me
a marchar ao vento no sanatório desabrigado e vazio. Em vão procuro de novo
a órbita estelar do teu corpo, minha mão transfigurada dos açoites, carne viva
sem cor, olho-te à distância, anseio-te e perco a cabeça, desisto! Silêncio, silêncio!

1 Comments:

Blogger a saber usou da palavra

(quero ser) sempre bem vindo ao meu(teu) canteiro. {}

21 maio, 2009 20:23  

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