17 de março de 2009

Cafés Para Que Vos Quero!

João, era assim que se chamava (um nome perfeitamente vulgar, como Pedro, ou Paulo, ou José)
João estava no café, palitando os dentes enquanto eu passava. Vendo o jogo de futebol, no café.

Detesto cafés. Especialmente estes que me têm calhado na rifa geográfica. Na minha terra não
há cafés dignos desse nome. Ponto. A exclamação fica para depois. Sem reticências no caminho.

Desde miúdo que tenho visto esta gente (ou direi gentalha, para parecer mais arrogante?),
sempre nestes locais, que para mim são mal frequentados. Interrogação macilenta para pensar.


João, que podia ser um Zé ninguém ou um Paulinho da Bola, talvez um Pedro dos Pneus, digo,
João, que estava no café a olhar o trânsito, a palitar os dentes à vista desarmada, a sorver a
cerveja que parece água (não digo o nome porque a terra é lindíssima, com praias de evasão,
em águas nunca de antes navegadas), resignado da vida, no pedestal luminoso que é o café,
pairando nas nuvens do deserto da existência banal. É triste, mas verdade. Quero fugir de
todos os cafés onde a rotina se faz diariamente, a rotina é um modo de vida, um café bebido
é uma rápida rotina que se esgota num travo amargo, isto para os puristas da rotina. Os mais
desajeitados adoçam a existência em pacotes sem fim. Está à vista a chávena do desalento:
- Não quero café, quero chá, infusão, erva medicinal, qualquer coisa menos o nada. O vácuo.

Ou então, as rotinas que percorro são as mais infelizes. Cinzentos na neblina que nos consome
de fome. Talvez que outros matizes coloridos e mais brilhantes mostrem-me outros cafés de
sonho. De cheirar e pedir por mais!... Um chá, no deserto das ruas da minha inquietação.