21 de fevereiro de 2009

A Guita Azul

Leonardo segurava a guita. Azul forte era a sua cor, naquela guita sintética.
Tinha os olhos da mesma cor e Leonardo sabia de cor os queixumes da serra.

Foram asas para que vos quero! Paisagens idílicas de um Gerês ainda virgem.
Entre São João do Campo e o Rio Homem, muita virilidade fica por aqui a
desaguar por entre o leito e a neve. Depois Montalegre, Pitões das Júnias e
mais além Tourém. Tudo forte, tudo acre e castanho. Menos a guita. Azul.
Amarrada ao tronco da videira. Leonardo aperta o seu segredo contra a guita.

No regresso a casa, há o avô Augusto que o espera com a sachola nas mãos
e uma botelha de tinto para refrescar a goela branda da velhice. Só a mãe de
Leonardo se impacienta, com o bacalhau já pronto e as maçãs assadas com um
pau de canela e mel de urze. Teresa Maria de seu nome e a boca inflada de
palavras repreensivas: Vem cá madraço! Por onde estiveste tu estas horas?

Leonardo nem deu pelo tempo escorrer na ampulheta dos sentidos despertos.
Só se lembrava do seu primeiro segredo na vida! E da brilhante guita. Azul.