11 de dezembro de 2008

100 anos de Manoel de Oliveira

Mais importante que falar, é ver a sua "obra". Oliveira é o decano dos realizadores, no mundo. E ainda está activo! A comemorar 100 anos com cinema: está em rodagem do seu próximo filme "Singularidades de uma Rapariga Loira". Eu gosto de Oliveira. Com Oliveira aprendi a gostar ainda mais do meu país, a apreciar a cultura singular que temos, os artistas, as paisagens, o teatro. E claro, a definição de um Cinema Português que não cede perante as imagens e ideias feitas de uma indústria do cinema. Para Oliveira o cinema é puro teatro, é palavra (e utopia). Devemos ceder à fácil tentação de catalogar os seus filmes como longos, maçudos, parados. Pelo contrário, há uma vitalidade e uma ironia assaz surpreendentes em Oliveira. Há obras maiores e outras menores, claro. Há obras que aprecio menos. Mas acima de tudo, fui ao cinema ver os seus filmes, possuo alguns dos seus filmes. Aí, posso finalmente expor-me perante as suas mensagens e a minha recepção crítica. E, na maior parte das vezes, sou surpreendido, sou alertado para uma outra visão das coisas que não tinha antes, com tudo isto, fico mais sensível para as coisas do mundo, em suma, para a efémera vida dos homens. De uma vida que é afinal e apenas: Teatro! Diz Manoel de Oliveira sempre irónico: "A vida não existe! O que existe de facto é o teatro. Porque a vida escapa-se-nos a todo o instante, o momento de agora é já perdido, e portanto o que nos resta da vida é o teatro". Simples e lúcido, como sempre! A ver, a rever, a descobrir a "obra" de Oliveira desde já, sempre!
Filmografia essencial de Oliveira, na minha modesta visão:
1931 - Douro, Faina Fluvial
1942 - Aniki-Bobó
1956 - O Pintor e a Cidade
1963 - Acto da Primavera
1964 - A Caça
1972 - O Passado e o Presente
1974 - Benilde ou a Virgem Mãe
1979 - Amor de Perdição
1981 - Francisca
1985 - Le Soulier de Satin
1992 - O Dia do Desespero
1993 - Vale Abraão
1994 - A Caixa
1998- Inquietude
2000 - Palavra e Utopia
2001 - Porto da Minha Infância
2002 - O Princípio da Incerteza
Está feita a minha escolha. "Vou para casa" ver um filme de Oliveira!

4 Comments:

Blogger ao saber dos dias usou da palavra

discordo de ti. M DE O é por demais passivo numa amostragem real.mas gosto de te ver escrever sobre outras realidades. até...

11 dezembro, 2008 00:11  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

É a tua opinião. Apetecia-me responder, mas não o faço porque não vamos chegar a consenso algum.
A pergunta que te faço é se viste suficientes obras do Oliveira, ou isso acontece em meia dúzia de obras, que por acaso viste?
Pode parecer muito, mas meia dúzia é pouco. Ele tem mais de 50 obras e devemos fazer um balanço justo
a todas as épocas, não só à contemporaneidade, onde de facto, existem obras menores.

11 dezembro, 2008 13:12  
Blogger ao saber dos dias usou da palavra

de facto não tirei a prova dos três. mas dos dois sempre me parece um realizador cópia de livros e nada mais a acrescentar de que uma dócil pseudo-portugália.

11 dezembro, 2008 22:36  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Não sei a que te referes quanto a uma pseudo-portugália.
Filmes como A Caça, O Acto da Primavera, Aniki-bobó, são neo-realistas, com uma componente subversiva assaz grande.
Nos tempos actuais, há uma ligação forte à literatura (do Eça, Camilo, Agustina, Régio), que nos fala de temas talvez demasiado clássicos, mas deveras actuais.
Vês filmes como Palavra e Utopia, Cristóvão Colombo, Vou para Casa e não encontras nada desse pseudo-classicismo-portugálico. Eu pelo menos não encontro. Encontro derivas e visões num tempo diferente da vida comum (da vida rápida, em que nem os olhares se cruzam na rua), num teatro da vida, em suma, Oliveira é o Slow-food do cinema é o slow-cinema, para degustar devagar e saborear a vida noutro ritmo. Cinema para pensar e reflectir essa mesma portugalidade.

12 dezembro, 2008 17:11  

Enviar um comentário

<< Home