19 de novembro de 2008

28

Preciso de palavras para matar a fome. Morre-me na língua a esperança do passado. Socorro-me das memória para alimentar bocas sem futuro. Cai-me uma sílaba ensanguentada aos pés. Sem saúde, percorro os inúmeros becos de Lisboa, deambulando pelas calçadas, entre a Graça e o Desterro. O meu sonho seria alcançar a Glória sem elevadores como muletas para o meu andar de pássaro livre. Agora que deslizo por Alfama, retenho uma voz que me lembra de São Vicente como padroeiro da cidade de Ulisses. Olissipónia, assim me encontraste numa deriva Ocidental, sem abraços, sem filhos, sem rugas. Era o teu dilecto amante, entre colinas e edifícios calcários. Na minha diletante busca, emocionei-me com a arte suprema do passeio pedestre. Depois do cansaço, sorvi com prazer o descanso num elétrico chamado Prazeres. Vinte e oito paragens de extasiar, vinte e oito minutos em surdina, vinte e oito hipóteses de dizer o quanto eu preciso de ti para alimentar-me de vida!

1 Comments:

Blogger ao saber dos dias usou da palavra

bom o 28 mas ainda melhor o 29 que é leão. bfds

22 novembro, 2008 21:31  

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