Uma Sociedade Asséptica!
Pois é. Vivemos cada vez mais numa sociedade asséptica! Onde os miúdos já não podem brincar nas ruas, por causa dos ladrões, pedófilos e o Vale Azevedo! Mas em casa também já não podem brincar, devido ao chumbo nos brinquedos, ao alumínio nas águas, aos pesticidas no leite, à floribella!!!
Por outro lado, as ruas também estão cada vez mais assépticas, graças à União Europeia, senão vejamos:
- As mercearias já não podem ser feitas de madeira!!!, as prateleiras têm de ser incolores, inodoras, não podem criar bolores, não ter moscas a pousar sobre elas. O mesmo se passa com as colheres de pau, que foram banidas de todos os estabelecimentos hoteleiros e de restauração. O mesmo se passa com o nosso passado:
- Qualquer edifício que esteja a ficar rasurado, velho, é deitado abaixo, mesmo que tenha 500 anos de vida! O que interessa é construir novos mamarrachos, coisas coloridas para alegrar o povo (estilo fontes luminosas), que ao fim de uma dezena de anos (se tanto), estão cheios de fissuras, a necessitar de obras urgentes, ou então... o camartelo!
Posto isto, leva-me à reflexão sobre esta sociedade em que a Educação e a Cultura vão-se esvaindo por esse estreito rio da necessidade. Sem Educação aos novos e velhos do que temos de preservar, conservar, mimar, respeitar e respirar, vamos construindo um país atrasado, apesar da aparente vitalidade que dá a velocidade stresssante das cidades e das decisões. Tudo é feito rapidamente, sem pensar muito a fundo nas questões e assim, vamos tropeçando na azáfama de um quotidiano insosso, sem uma marca forte que nos cative, emocione, que perdure.
Isto tem tudo a ver também com a forma como não respeitamos as gerações mais velhas, que construíram para nós (mesmo que nem sempre da melhor forma), mas esse desrespeito pelo passado, pelo que foi fecundo e vital é deitado borda fora para o campo do esquecimento, da morte lenta e sofrida, de um esvaziar de corpo e emoção. E um corpo sem emoção é desprovido de vida! A forma como não cuidamos do nosso passado nas artes, na arquitectura, na educação, na saúde, nas memórias, nas velhas profissões, são sintomas que geram um sinal que as coisas não estão bem e que é preciso agir, sermos actores da mudança (de mentalidades, de sinergias) em suma, dar sinais de vida!
5 Comments:
Que queres? Atribuía-se ao famoso Cardeal Cerejeira a afirmação: "abençoada ignorância que faz o povo humilde".
Quero mudança de atitudes e não essa posição passiva, esse escárnio que emanas do "que queres?". Eu quero agir e mudar, não o mundo, mas o mundo que me rodeia, aquele que eu e tu podes influenciar, com os teus, a família, os amigos, no trabalho, na escola. Isto para mim não é brincadeira!
Mudar e melhorar cabe a todos nós, às nossas atitudes, à nossa seriedade intelectual, à nossa vontade! De humildade e de ignorância já temos todos um pouco!
Há que atalhar novos caminhos, para não serem trilhados sempre pelos mesmos!!!
Deixai que as árvores repousem em húmus. Humildade a mais é pior que míldio.
"A forma como não cuidamos do nosso passado nas artes, na arquitectura, na educação, na saúde, nas memórias, nas velhas profissões, são sintomas que geram um sinal que as coisas não estão bem e que é preciso agir, sermos actores da mudança (de mentalidades, de sinergias) em suma, dar sinais de vida!"
A forma como "não cuidamos do nosso passado" é, no actual contexto, uma forma de promover a ignorância, de limitar as referências, o sentido crítico. É isso que dificulta a acção que tu queres, eu quero, alguns querem... Mas, nada de ilusões: são muitos mais os que não querem, nem acreditam que isso seja possível. "Humildade a mais" que "é pior que míldio"? Penso que hoje, não é disso que se trata. Hoje, o cidadão não confia no governante, nem lhe reconhece qualquer autoridade. Também não sente o medo, que provocava a "humildade" do tempo do Cerejeira. Simplesmente, não confia em ninguém e não sabe como aumentar a sua intervenção directa. Isto leva ao desespero, que está muito longe de motivar qualquer acção.
PS: Já reparaste que a História saiu completamente do discurso político? Atenção: não ignoro que a História também pode servir para manipular, como acontecia nos discursos dos dirigentes do Estado Novo.
Completamente verdade, numa época em que o nível dos políticos, deputados e outros que detêm poderes aqui e acolá, o nível cultural, intelectual, decresceu abruptamente.
Veja-se há 30 anos atrás quem compunha a assembleia da república e hoje!
Tens toda a razão!
Quanto a não confiarmos uns nos outros, tem a ver com essa educação que tivemos para o individualismo, o sucesso a todo o custo, a competição.
Por isso, procuro sempre um colectivo, de pensantes, de seres diferentes, um colectivo que comunique e possa agir.
Isto tem tudo a ver com uma entrevista que li do João Brites, d'O Bando, que falou sobre isso. Ele era pintor e estava isolado na Bélgica. Após o 25 abril, sentiu que se estava a perder, estando sozinho. Por isso regressou ao país e procurou um colectivo de gente que pensava diferente e queria mudar um pouco o mundo à volta deles. Criaram assim a Companhia de teatro O Bando. Hoje grande referência, pelo menos para mim!
Eu procuro esses colectivos também, pois unidos lutamos contra esses medos, esses individualismos, essas desconfianças.
Por isso sou do teatro, da poesia, da arte em geral, onde me sinto bem e encontro outras pessoas que me compreendem, respeitam, colaboram num colectivo onde podemos mudar alguma coisa, por ínfima que possa parecer e que quase ninguém saiba dela. O grande problema é que vivemos na sociedadde da imagem e, se não apareces na TV, não és ninguém para a maioria da população.
Assim vai a vida!
à luta, à luta! (este entusiasmo deve de ser por causa da Festa do Avante!).
Infelizmente, não posso ir!
Estou no meu Porto desabrigado!
Obrigado!
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