12 de setembro de 2007

Falando com o Douro Internacional...

Douro és um mistério que não reconheces a tua verdadeira imagem.
O teu leito reflecte sensualidade – olhos brilhantes, boca ávida, olhar provocante.
Entregas-te a cada passo à natureza envolvente, abraçando-a ferozmente.
E todo esse desejo que recalcas no teu íntimo transforma-se em sensações de liberdade, descoberta, aventura e fascínio.
Tens domínio de tudo – aves, peixes, mamíferos, répteis, xisto, granito, vales, montes, cultivos, giestas, gentes...
Ao navegar nas tuas águas sente-se a perfeição artística das mãos de Deus, que te criaram e desenharam originando uma simbiose única e harmoniosa entre terra, ar água e fogo.
Rio Douro: És Deus. És Sol. És Vida. És energia. Omnipotente, Omnipresente e Omnisciente. Absoluto. Mas ... Humilde. Reconheces o teu valor mas chegas a envergonhares-te disso.
Não tens prepotência, arrogância, altivez e narcisismo. Não. Aperreias tudo isso.
És um halo selvagem com gestos bruscos e desordenados que acolhem com sensibilidade, bondade, gratidão e emoção toda a vida que se manifesta ao teu redor.
Ao deslizar na tua magnificência, estamos nós, comuns dos mortais, condenados a olharmos dois países onde impera o mais enigmático dos sentimentos - O Amor- não fosses tu, rio Douro, o livro onde reina a memória histórica que atiça a nossa curiosidade.
Um corpo de mulher escondido que se vai despindo, acariciando e saboreando com intensidade e desejo... Momento a momento... Devagar, sem pressas.
Esse amor que anda misturado com o ódio, a raiva, o desapego. Esse amor que causou guerras, batalhas, lutas, traições, sangue, morte... Esse amor vincou a fronteira natural que és Tu, Douro. Originaste o corte, a ruptura, os limites, a separação.
Mas... Estiveste sempre presente como união. União por vezes não assumida, oculta, tímida. Mas estiveste sempre a marcar a junção de Portugal e Espanha como sendo entrelaçadas com um nó gigante de lodão, impossível de quebrar.
Duas mãos que se ajudam, se apoiam se agarram com garra.
Gosto de ver-te a abrires-te para o todo da natureza, enfeitando-te de amendoeiras, oliveiras, pomares, vinhas...
Não foste feito para o requinte, o chique, a vaidade, a ostentação. Foste feito para o agreste, o selvagem, o inacessível, para o povo, o trabalho duro, a fome, a pobreza...
Todo o teu corpo desprende- se numa bela energia, uma impaciência, uma avidez de viver. Jurei então comigo que tenho mesmo de desvendar o teu mistério e quebrar a tua resistência, desse por onde desse.
Nunca fui muito dotada para seduzir quem me resistisse... Mas não vou desistir desta luta. Porque tenho a certeza que vale a pena. Vai ser sempre uma nova descoberta de muito valor.
A atmosfera que respiro em ti, Douro, fascina-me e perturba-me.
Nos ares, a liberdade e imponência das variadas aves emociona- me...
Tens um ar de magnífico felino digno de ser capturado. Sei que nunca te vou conseguir domar. Tenho que o aceitar. Eu é que te invadi sem pedir licença.
Se há instantes em que fico “assustada”, existem momentos que me falas com uma voz doce e envolvente. Contas-me as tuas viagens, as tuas lendas, as tuas crenças, os teus segredos... É emocionante ver-te, Douro, por vezes tão entregue e tão abandonado.
É impossível não focar sobre ti um olhar maravilhado.
- Douro: Posso nunca te conhecer mas agradeço-te por me quereres conhecer.
É uma Honra. Fui Abençoada.
Por Isabel Maria Sapage Frade, in Revista Freyxeno, Agosto de 2007

3 Comments:

Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Um texto de uma enorme sensibilidade por quem vive e vibra com o Douro, esse rio de tormentosos afectos.
Descubram este belo texto da
Isabel Frade, minha amiga recente, aquando das minhas viagens da mente por terras do Douro Internacional.
A Saber: a Isabel é de Freixo de Espada à Cinta, trabalha no Pelouro do Turismo da Edilidade Duriense (Capital do Manuelino que devemos visitar sempre com urgência), sendo Licenciada em História, se me não engano. Numa visita pelo Concelho, podem sempre descobrir o sorriso carinhoso, a inteligência e o conhecimento daquelas terras como poucos o poderão fazer.
Leiam este texto, descubram Freixo e conheçam a Isabel! Ela lá estará para vos receber de braços abertos!

11 setembro, 2007 17:46  
Blogger Aladdin Sane usou da palavra

Que belo texto! Sai uma Pernillada para a Isabel Frade! O Vale do Douro é de facto terra encantada, e a Terra Quente Trasmontana um enclave - geograficamente falando - que seduz quem por lá passa e é uma mais-valia para os autóctones. (Parece um discurso de presidente da junta, mas é bom termos no nosso país regiões belíssimas como aquela.) Shame on me que nunca estive em Freixo - de barca D`Alva sigo para Moncorvo. Mas da próxima não escapa...

12 setembro, 2007 16:01  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

Achas que poderia convidar a Isabel para ser nossa colaboradora?
É que temos de cumprir com as metas Europeias, tendo uma percentagem de colaboaração feminina, as chamadas quotas!
Ou será cotas?
Cota-me a tua opinião, Ariel!
(qual é o slogan do detergente Ariel? - Ariel limpa tudo até o papel? - Ariel um detergente fiel?
- O Manel compra Ariel?)

13 setembro, 2007 18:21  

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