26 de junho de 2007

Carta Breve

No torvelinho da saudade
a mala-posta dos teus anseios
suave carta a deambular
nas faldas agrestes da Serra Azul

Entre vales e frechas, vislumbras
o falcão peregrino, grifos e uma cegonha
preta, raridade por estas bandas

Desceste da estrada luzidia
e amparaste-te naquele menir
prova do teu passado, da tua
servil mágoa da humanidade

Abriste a sacola, puxaste do pão
de encontro ao teu peito, cortaste-o
em fatias e socorreste-te do teu queijo,
infantil memória curada nas mãos dos teus avós

Saciaste a fome de vida no naco salgado e supremo
Beberricaste da garrafa fresca e de odor evasivo
Retomaste o percurso do olhar transfigurado

Rota que puxa pela tua memória,
preenche os cinzentos da tua dúvida
e chega cansado e lesto na madrugada
virgem, sedenta de novidades

Do outro lado da escuta, o anseio húmido
por uma missiva breve, mas autêntica.
Abres o sobrescrito, retiras a carta, lês:
- Olá amor! Arranjei uma amante!

3 Comments:

Blogger Afectos usou da palavra

Isso é coisa que se faça! Deixar um amor por uma amante? ;)Este teu poema fez-me recordar a minha avó e por sua vez a minha mãe. Gostei de ler e lembrar. Não estava à espera é do final ;)(sic)

27 junho, 2007 14:10  
Blogger Trilby usou da palavra

Gostei muito deste teu poema/fotografia.

27 junho, 2007 14:16  
Blogger odeusdamaquina usou da palavra

gosto de finais surpreendentes!
Até a mim me surpreendeu!
Agora isso não significa necessariamente que ele deixe o seu amor. Apenas está informando que tem uma amante.
Qual a reacção?
Talvez numa resposta a esta missiva! Que resposta dar?
não perca os próximos fotopoemas embalados em carta timbrada!

27 junho, 2007 17:10  

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