18 de outubro de 2006

Teatro, Espectáculo, Vida!

Espectacular, de espectáculo, de espectare, de esperar algo. A construção multiforme de algo criativo, esperar sempre criar coisas novas. Um cachecol de ideias, de utopias. Pijamas de sonho, noites de chuva intensa. Keats, Yeats, Beats, a Beat Generation, Pela estrada Fora rumo ao desconhecido. criar é isto, é arriscar deixar o sangue no asfalto. E a experiência, o que se leu, o que se viu, o que se vive intensamente diariamente. Mão Morta, pelo sangue no asfalto, criação multiforme, isto é o que ando a estudar: Kantor, tadeusz Kantor, Dramaturgo e encenador polaco. O construtivismo de Kantor e Meyerhold, as marionetas humanas, a super-marioneta de Gordon Craig, a luz e os cenários de Adolphe Appia, tudo isto passa por nós nesta escola, é-nos ensinado. O resto vem nos livros, nas bibliotecas, é preciso ir à procura, trabalhar, investigar, suar. O Talento???? Por si só, o talento dá-nos 2, 3 anos de euforia, deslumbramento. Só perdura na arte quem trabalha afincadamente, sua abundantemente, chora compulsivamente quando tem de ser, ama desbragadamente o seu trabalho. Arte? Só como ponto de chegada, não como postulado inicial, "eu faço arte, sou um génio!" Tretas! Tão enganados andam muitos televisionáveis, actores do momento, do efémero social. Não sabem o trabalho que dá o teatro, não sabem aquilo que ainda não sabem (e talvez nunca o saberão). Não é um porte altivo que fala. É alguém que quer alertar para quem não sabe, quem nunca pensou ou nunca se apercebeu das nossas dúvidas, dificuldades, e muito trabalho, evolução, numa profissão em que recomeça-se sempre do zero a cada dia, a cada nova produção.Não me falem em carreira: Carreiras têm os autocarros! Como disse Raúl Solnado: "O Actor é o operário da arte". De resto, teatro, música, poesia, é apenas desejo de expressão, de comunicação intensa, de olhares trocados, de um sorriso, de um abraço.Porque nós somos feitos de carne e osso, não somos máquinas, não somos a Máquina Hamlet de Heiner Müller, precisamos do amor, do calor, do frio do espectador, daquele que espera, não de um modo passivo, mas daquele que espera ver-se reconhecido, encontrado neste mundo e nesta sociedade. Afinal, pergunta sacramental: Que andamos nós cá a fazer? Que sentido faz isto tudo. Que sentido faço eu? Farei sentido? Terei sentido? Que sentidos uso para viver? O olhar, disse alguém, "O olhar é o mais intelectual dos sentidos". Porque é com eles que podemos abraçar o mundo! A opsis, é para aquilo que trabalha o teatro, a observação do espectador, aquilo que ele vê, ouve, cheira, toca, saboreia, tudo para a sua vontade de descoberta, aprendizagem, conhecimento. Teatro feito para ver actores, para os actores se verem a si mesmos, não presta, lixo! Teatro é colectivo, teatro é inclusão, é revolução, é partilha, é memória, é história, são estórias de vida, morte, amor, pecado, renúncia, dor, solidão, em suma, é vida!
Chega!