10 de maio de 2006

Promiscuidade

Qual é a tua, de dizeres que
o que eu traço aqui
são apenas tormentos pessoais,
dores e sangue, quando no fundo,
a arte poética é conseguir ser
o melhor fingidor no pior dos mundos!

Por isso meu caro, não te deslumbres
com as promíscuas palavras, que se tocam
umas às outras, que se riscam, rasgam e reescrevem,
que dizem amor ou dor com a mesma exactidão
da matemática do olhar.

As penumbras, os passados, a toalha atirada ao chão,
não é derrota, é o suor de não ter conseguido superar
desta vez, sabendo que para a próxima estamos cá, e vivos,
plenos de força exuberante e demoníaca.

sim, porque as palavras é o que nós quisermos fazer delas num dado momento.
hoje apetece-me um sol fresco, para contrariar a canícula dos corpos ausentes.
amanhã quero um sol fogoso, para me aproximar daquela crueldade presente
dos invernos da nossa vida.
tudo uma questão de estações, de estados de vida, numa vida circular, minimal,
mas que se pretende criativa, diferente, inovadora, porque queremos mudar,
não o mundo, mas o espaço á nossa volta, nós próprios, num processo de evolução
contínua. traçamos novas rotas, embora saibamos que há um rumo determinado.
não, não falo de destino. o destino é dos loucos, é dos trágicos. o destino está em Édipo, em Medeia, em Hamlet, em Macbeth. o destino pertence aos grandes homens, que posssuem em si a ambiguidade, o claro-escuro de uma pintura expressionista.

não, e sim, numa sempiterna,numa sempre e eterna rudeza, crueza do desafio, no fastio
estafado de uma língua exigente e presente, viva, aberta, cheia de amor, de faustosidade, de grandiloquência divina.

a promiscuidade de não separar as águas, os homens, as religiões.
somos todos da mesma massa podre, telúrica, mutável. daí as nossas diferenças e contradições. promiscuidade dos corpos vazios.
na mais penetrante imagem sexual, pornográfica, no sexo mais puro e duro, há corpo com matéria, com suor, com desejo. aí, nunca há promiscuidade.
o corpo sem emoção é promíscuo, é falível, desfaz-se depressa.
fim de cita a acção. fim das cidades sem acção! fim da acção sem cidades, sem homens, sem cabeças melancólicas, melodiosas, cinemáticas, melómanas.
o fim é o princípio do mundo!

5 Comments:

Blogger Zeca Campos usou da palavra

assim sou eu!

O texto está excelente.

10 maio, 2006 19:35  
Blogger Zeca Campos usou da palavra

Mas palavras nós temos quando estamos eufóricos ou amargos. Porque a banalidade dos dias são passados banais e eles mesmo dias sem excitação.

No buraco é delicado ter a força para mover o mundo à passagem. È querer lutar e não ter força para pensar. É ter no engano a falácia da vida.

10 maio, 2006 19:46  
Blogger Bel usou da palavra

O Texto achei excelente e confesso que tambem gstei do comentario. O destino somos nós qu etraçamos mas é sempre uma desculpa imaginar que pode ser traçado por outro

10 maio, 2006 21:18  
Anonymous Anónimo usou da palavra

é tão difícil equilibrarmo-nos no nosso mundo, nos nossos mundos. porquê a dúvida, a tormenta interior?
Simplesmente porque pensamos, porque questionamos, porque sentimos intensíssimamente a vida, como uma segunda pele colada bem perto de nós.
a dor de pensar, de duvidar é bem mais difícil que não se questionar, não duvidar, que só traz paz, calma, ilusão aparente de que está tudo bem.
se calhar, fazemos parte daquelas pessoas que não têm ilusões, apenas abrem bem os olhos para o que acontece à nossa volta. talvez seja uma negritude da alma.
sinto-me tão embaraçado com esses comentários acerca do que escrevo, porque nunca é minha intenção serem reconhecidos, estilo umbiguistas, de dizer qualquer coisa só pra me fazer notado. sou um pobre e humilde cidadão que tem a lata de pensar! e de escrever consoante os seus impulsos. escrevo de uma assentada, sem correcções, apenas são pulsões.
e, sempre que posso e me derem oportunidade, continuarei a inundar os céus com tamanho atrevimento!

10 maio, 2006 23:53  
Blogger Bel usou da palavra

POis espero que continues

16 maio, 2006 22:57  

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