15 de maio de 2006

Elogio da Gramática

Como ficam as palavras depois da mutação?
da mudança de paradigma, do olhar?
Como se socorrem os ouvidos da melopeia interminável,
dos gestos escondidos, das paixões etéreas?
Como deixar-se perder nos meandros dos paraísos
inomináveis dos corpos ausentes?

Que nova esperança tendes, em que propícios climas
tentais vós asseverar-vos da razão?
Há já muitos dias que vos avistam menos, vós que
éreis garboso e selvagem, andando nos corcéis ociosos
e nas lúgubres paragens do infinito.

Como ficam os humanos após a mutilação?
da ausência de dor, de sentimento?
Como se aliviam os gestos do movimento finito,
dos olfactos perenes, dos genocídios terrestres?
Como não fazer esquecer no cerne das guerras
nominais, os cadáveres presentes?

Que velho desespero abraças, em que crudelíssimos mares
desistis vós da aurora da emoção?
Há poucos instantes que seríeis o mais inocente dos heróis,
o único recusado dos louvores celestes, navegando no burilar
dengoso e ofuscante das gramáticas poéticas.

3 Comments:

Blogger vareta usou da palavra

Já vos tinha dito que gosto do vosso blog? Não?

Então, pronto: gosto do vosso blog. Isto vale o que vale, mas há quem ganhe fortunas a constatar o óbvio.

16 maio, 2006 05:13  
Blogger Bel usou da palavra

Eu não sei se os poemas são originais teus mas são muito bons!
As palavras tem um grande poder mas nunca nos devem magoar

16 maio, 2006 22:54  
Anonymous Anónimo usou da palavra

Nunca, amiga! A mim, só as pessoas podem magoar, ou outros seres vivos, ou então ser atropelado, espetar-me contra a mesa, a cadeira, isso sim, magoa imenso. As palavras, nunca! As palavras pra mim são amor, são paixão, são carne, são música.
E sim sempre originais, senão, diria sempre o nome do autor, por respeito, por dever, por serem deles e ser os seus pensamentos, e não os meus.
Gracias, siñorita!

17 maio, 2006 01:06  

Enviar um comentário

<< Home