O Teatro de Guerrilha
"Antes de mais nada necessitamos de viver"- Antonin Artaud
"A arte, é por essência heresia" - Sartre dixit - Só uma margem de relativa heterodoxia poderá permitir que a rua seja palco de um teatro que se assuma como um constante repensar da vida, efectuado no espaço de todos os dias, diante de um público sem nome, passageiro, movediço, mas vivo. O teatro de rua há-de motivar uma releitura da vida quotidiana, actuando no interior dela, com o fim de agir sobre ela. A rua torna-se deste modo o espaço de um teatro intrinsecamente revolucionário no palco da vida real.
E aí está uma arma, talvez a mais eficaz (e por isso também a mais temida), para uma revolução cultural permanente.
O seu papel mais importante é o de suprimir a distância entre a arte e a vida. Objectivo que já o happening perseguia quando, em lugar de representar a realidade, pretendia produzir uma realidade.
Com a saída do happening para o exterior, a sua imersão na azáfama mutável do dia-a-dia citadino, a sua perfeita aderência à realidade, desemboca no event, que é uma acção rápida e explosiva no quadro do quotidiano: o teatro dissolve-se na rua, funde-se e confunde-se por completo com a vida.
Exemplos:
Uma chuva de notas abate-se sobre a Bolsa de NY, do alto da galeria reservada aos bolsistas, que jogavam com milhões de dólares, atiraram-se como carroceiros sobre as notas para arrebanharem uma ou duas. "Olhai, a América está louca!", gritava um jovem guedelhudo, autor deste event.
O event, como se vê, é um teatro de acção e uma estética da violência. A sua fórmula é: Happening + Política.Só que o event ajusta-se perfeitamente à realidade: o teatro brota do próprio quotidiano. Teatro e vida fazem um todo.
Nasce assim o "Teatro de Guerrilha", que chega a negar-se a si próprio, enquanto teatro, para se confundir com a realidade.
Exemplo:
Levar consigo, durante uma manifestação, pequenos sacos de plástico cheios de sangue que se derramam sobre a cabeça, no momento oportuno, quando a polícia carregar. A representação começa por se infiltrar na realidade, adere a ela: já não se trata de representar um acontecimento, mas de o criar. O sangue derramado pretendia revelar ao pacato cidadão a natureza repressiva do sistema policial. A violência torna-se paródia. A realidade transmuda-se em ilusão. Reaparece então, o teatro.
No Teatro de Guerrilha, a táctica é assim a da surpresa. A estética a do inesperado. O teatro invade a rua, a Bolsa, os Tribunais, o Parlamento, os transportes públicos, as Universidades, as conferências, em suma, onde se viva a sério- tudo, portanto, menos os teatros. Suprimem-se as distâncias entre a arte e a vida. O público é envolvido na representação.
Para quando estas acções na nossa sociedade, no nosso país, nas nossas vidas?
Já vamos com mais de 30 anos de atraso! É altura de agir!
De novo Artaud: "Eu não concebo um teatro separado da existência".
É este teatro que pode ser o futuro, que pode fazer com que haja de novo a comunhão, o ritual, entre a vida e a comunidade.
"A arte, é por essência heresia" - Sartre dixit - Só uma margem de relativa heterodoxia poderá permitir que a rua seja palco de um teatro que se assuma como um constante repensar da vida, efectuado no espaço de todos os dias, diante de um público sem nome, passageiro, movediço, mas vivo. O teatro de rua há-de motivar uma releitura da vida quotidiana, actuando no interior dela, com o fim de agir sobre ela. A rua torna-se deste modo o espaço de um teatro intrinsecamente revolucionário no palco da vida real.
E aí está uma arma, talvez a mais eficaz (e por isso também a mais temida), para uma revolução cultural permanente.
O seu papel mais importante é o de suprimir a distância entre a arte e a vida. Objectivo que já o happening perseguia quando, em lugar de representar a realidade, pretendia produzir uma realidade.
Com a saída do happening para o exterior, a sua imersão na azáfama mutável do dia-a-dia citadino, a sua perfeita aderência à realidade, desemboca no event, que é uma acção rápida e explosiva no quadro do quotidiano: o teatro dissolve-se na rua, funde-se e confunde-se por completo com a vida.
Exemplos:
Uma chuva de notas abate-se sobre a Bolsa de NY, do alto da galeria reservada aos bolsistas, que jogavam com milhões de dólares, atiraram-se como carroceiros sobre as notas para arrebanharem uma ou duas. "Olhai, a América está louca!", gritava um jovem guedelhudo, autor deste event.
O event, como se vê, é um teatro de acção e uma estética da violência. A sua fórmula é: Happening + Política.Só que o event ajusta-se perfeitamente à realidade: o teatro brota do próprio quotidiano. Teatro e vida fazem um todo.
Nasce assim o "Teatro de Guerrilha", que chega a negar-se a si próprio, enquanto teatro, para se confundir com a realidade.
Exemplo:
Levar consigo, durante uma manifestação, pequenos sacos de plástico cheios de sangue que se derramam sobre a cabeça, no momento oportuno, quando a polícia carregar. A representação começa por se infiltrar na realidade, adere a ela: já não se trata de representar um acontecimento, mas de o criar. O sangue derramado pretendia revelar ao pacato cidadão a natureza repressiva do sistema policial. A violência torna-se paródia. A realidade transmuda-se em ilusão. Reaparece então, o teatro.
No Teatro de Guerrilha, a táctica é assim a da surpresa. A estética a do inesperado. O teatro invade a rua, a Bolsa, os Tribunais, o Parlamento, os transportes públicos, as Universidades, as conferências, em suma, onde se viva a sério- tudo, portanto, menos os teatros. Suprimem-se as distâncias entre a arte e a vida. O público é envolvido na representação.
Para quando estas acções na nossa sociedade, no nosso país, nas nossas vidas?
Já vamos com mais de 30 anos de atraso! É altura de agir!
De novo Artaud: "Eu não concebo um teatro separado da existência".
É este teatro que pode ser o futuro, que pode fazer com que haja de novo a comunhão, o ritual, entre a vida e a comunidade.
2 Comments:
Trouxeste à cena palavras que ajudam a perpetuar a importância do Teatro... :-)
(Eh, micróbio, voltaste a pernillar!)
Este post levanta muitas questões tão pertinentes, tão pertinentes... que adormeci a pensar nelas de um modo quase compulsivo (OK, não apenas nelas lolol – lollipop, non-stop, hoje não tomei o xarope!)
Foi dito que o teatro de rua decorre perante um público sem nome, passageiro, anónimo, e que tem uma acção sobre este e sobre o quotidiano. Mas, esta acção reveste-se de um carácter intangível, dificilmente perceptível e “não mensurável” – afinal, depende do modo como a performance (em sentido lato) é apreendida por cada um dos que a ela assistem e do feedback que obtém. Regendo-se por uma “estética de violência”, despertará sensações antagónicas, pretendendo gerar toda uma panóplia de reacções, excepto a indiferença do público ocasional.
Há ainda a questão da mediatização deste género de intervenção artística. O seu carácter de espontaneidade, a sua curtíssima duração, atrairá ou dissuadirá os mass media de lhes dar cobertura, logo maior visibilidade? No caso de ser gravada em suporte vídeo, estaremos perante um objecto artístico já distinto da representação inicial, editado (alvo de manipulação – desvirtuado?) tornando-se temporal e espacialmente compartimentado. Em última análise, o event “institucionaliza-se”, no sentido pejorativo do termo.
Outro aspecto: deverá o event ser o mais possível improvisado? Ou inserir-se-á num processo que se inicia com a criação (conceito artístico, “objectivo” – com ou sem aspas?)
O event relaciona-se com o teatro na medida em que, como é referido, a violência se torna representação da violência. Cito: “Nasce assim o "Teatro de Guerrilha", que chega a negar-se a si próprio, enquanto teatro, para se confundir com a realidade”. Será então um “teatro instantâneo”, por oposição ao teatro “convencional”, com todos os seus rituais e conjugação de acções e técnicas, de actores, dramaturgos, encenadores, técnicos... ressurge outra vez a improvisação, desta vez por oposição à criação teatral dita convencional.
“Nada está na moda até a “Elle” dizer que está.”. Resgatei este slogan pois serve para indagar: o que poderá ser considerado event, logo o que poderá ser considerado arte? A quem reconhecer a propriedade de afirmar que estamos perante um objecto artístico, ainda que efémero, e não perante um acto isolado perpetrado por um qualquer “cidadão-comum-com-ou-sem-aspirações-de-qualquer-tipo”?
Poderá cada um de nós criar isoladamente um event?
Por exemplo, poderiam posts como este:
http://tascadacultura.blogspot.com/2006/02/trasladao-da-irm-lcia-i-want-to.html
ou este:
http://tascadacultura.blogspot.com/2006/02/marilyn-maom-depois-da-pop-art-buuum.html
ser considerados um event ou apenas um acto isolado? O móbil "político" está lá... e o público? É "invisível" mas está lá! (quanto mais não fosse, houve comentários aos posts)
ou será a internet um meio demasiado "não-convencional"?
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