Oportunismo?
Confesso que há uns tempos que estava "com ela fisgada". E hoje vi a notícia que me impeliu a republicar um texto que postei na "moribunda" Cabala Involuntária sobre Fátima Felgueiras. Por isso, não a acusem de oportunismo por ter organizado uma peregrinação a Fátima, o nosso "altar da fé". Oportunista sou eu, que aproveitei este fait divers (ou fight divers , como diria um outro) para, num gesto de vileza sem precedentes, voltar a impingir este texto, à guisa de homenagem a uma certa noção de portugalidade.
(Alterei entretanto um pequeno-grande-pormenor, considerando um comentário de o-microbio)
Fátima parte 2 (ou a eternização da falácia)
Em 1917 o poder eclesiástico "convenceu" as massas iletradas de Portugal de que Nossa Senhora tinha "aparecido" a 3 pastorinhos numa aldeola perto de Fátima. Provavelmente influenciadas por estes acontecimentos, e ao abrigo de uma fé inabalável que a partir daí se disseminou, milhares de mães decidiram atribuir o nome Fátima aos seus rebentos.
E uma dessas crianças tornou-se num dos maiores cromos num país onde tal adjectivo assenta que nem uma luva a tanta gente... Pois bem, numa coincidência quase bíblica, Fátima Felgueiras tornou-se presidente da Câmara da cidade com o mesmo nome... Mas estas divinas coincidências não a impediram de ser acusada de desviar fundos públicos para o seu próprio saco, azul-da-cor-do-céu comme il faut. Foi descoberta pelos infiéis e fugiu para o Rio de Janeiro, para poder contemplar a estátua do seu adorado Cristo Rei. Para desabafar os seus anseios recorreu amiúde (sem trocadilhos s.f.f.) a um tal Padre Frederico. Mas não ficou só. Um numeroso e acéfalo séquito por cá ficou, a salivar pelo regresso da sua mais-que-tudo...
Mas FF não poderia voltar, pois seria imediatamente detida... As eleições autárquicas aproximavam-se, e a perspectiva de perder aquele trono, seu por direito, aterrorizava-os... Que fazer? Até que alguém se lembrou de completar a frase "A justiça é cega". E ficou assim: "Em Portugal, a justiça é cega perante os crimes dos poderosos" (excepto o Vale e Azevedo e poucos mais). E tudo aconteceu de acordo com os desígnios de Fátima. Desembarcou, foi detida, mas uma providencial juíza logo ordenou a libertação de tão insigne criatura, cujo porte a tornaria declaradamente indigna de povoar a cadeia de Tires. Pois Fátima, que é de Felgueiras, sentiu que o seu povo clamava por ela, qual Messias dos tempos actuais, e recandidatou-se desde logo ao cargo que lhe pertence!
Os media ficaram embevecidos por tão aclamado regresso e desde logo lhe consagraram toda a sua atenção. Fátima entrou então para a Galeria Dourada dos Santos Populares, juntando-se a Isaltino, Avelino, Valentim. E assim aconteceu. Há de novo uma Fátima entre nós, para delírio da turba imensa que é este Portugal cada vez mais tresloucado. Ah, agora ficamos à espera de uma ida de Fátima ao gigantesco hipermercado da fé nacional - Fátima, pois então! - agradecer as graças concedidas por este povinho de brandos costumes...
8 Comments:
POis eu acho que ela tem mesmo que rumar a Fatima e agradecer a santa burrice daqueles que a acompanham
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Boa e velha Cabala Involuntária.
Enfim tudo na vida tem um prencipio e um fim.
Não se tratava da influência política propriamente dita, mas sim da influência exercida sobre a população, a nível de valores e "crendices", sobretudo. Mas, de facto, a Maçonaria era a instituição dominante na época. É que esta língua que vos escreve está morta e muitos destes neurónios já lá vão... Dou o braço a torcer (e só não o faço literalmente porque o "endireita" amanhã tem o consultório fechado).
Agradeço-te a frontalidade , mesmo estando de perfil na foto! (e terei sido eu a escrever isto? - pergunto-me) De qualquer modo, poder-se-á dizer que a "paranormalidade" das "aparições de Fátima" serviu para incrementar a influência da igreja católica no nosso país... Sim, não, eventualmente?
Sem princípios nem pruridos, e com fins bem nebulosos, eu cá continuo a preferir a "Fátima Radical", o nome que os Mão Morta acabaram por não dar ao álbum que acabou por ser editado sob o nome "Vénus em Chamas".
Sarcástico e caústico este artigo. Com excepção do primeiro parágrafo, pelas razões já aduzidas pelo micróbio, este artigo está excelente.
Continuem assim.
No Vareta gostamos de Pernillas. E de Fátima, onde há uma boa pastelaria cujo o nome não alcanço e bons restaurantes como a Tia Alice ou o Manuel das Matas. De Felgueiras sabemos pouco. Da sua lídima edil, menos ainda, aparte o pormenor de somenos de ser Fiero a laca que lhe segura o cabelame.
Meus amigos, uma coisa é certa:
- A minha avó, que nasceu em 1896 a viveu 105 anos (até 2001), contava-me a estória de Fátima e ela disse-me, porque estava viva nessa altura, ao contrário de todos nós, que fora um logro, toda essa encenação da Cova da Iria, numa terra pobre, deserta, necessitada de um "empreendimento" para animar as polulações locais. Depois é o que se vê! O Poder de barro é enorme, e quem tem um olho nesta terra é Bispo, ou Edil!
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