16 de dezembro de 2005

Ele é o Rei, ele é que é o Rei!



Por mais voltas que se dêem, uma coisa é certa: não há alimento mais português que o bacalhau. E quem não pensar assim que atire a primeira posta...

O português adora o bacalhau porque ele simboliza todas as nossas conquistas passadas, presentes e futuras. Atentem na posta da figura acima. Apresenta a forma de um “V”, que o português logo associa a um sentimento de triunfo sobre a adversidade, seja esta a falta de dinheiro a meio do mês ou ficar sem bateria no telemóvel durante uma conversa importantíssima com a amante. Portanto, o bacalhau é um símbolo do triunfo da inigualável gesta lusa.

O bacalhau também revela o espírito contraditório dos portugueses, diria mesmo a sua rebeldia face ao poder instituído (vulgo establishment). Senão vejamos: não se devem congelar alimentos depois de descongelados. É uma regra que temos de acatar, mas com o bacalhau estas imposições na nutrição são subvertidas. Então não é que o bacalhau, depois de um intensivo processo de seca, é posto de molho antes de ser cozinhado?
Não será isto o direito ao contraditório?

Quando tinha oito anos, a minha mãe mandou-me ir à despensa buscar uma posta de bacalhau. Uma ideia logo me perpassou a mente: a posta parecia um papagaio de papel! Fui em direcção à rua e logo arranjei um comprido cordel e duas canas com que fiz uma cruz para segurar o bacalhau.

Lancei-o ao ar mas ele não voou como os outros papagaios de papel. Voltei a tentar, lancei-o vezes sem conta até que, num acesso de raiva, atirei a posta ao chão e pisei-a furiosa e repetidamente, vociferando: “Não prestas, não voas, és inútil!” – tal era a minha raiva. Raiva essa que dez minutos depois tinha sido transferida para a minha mãe, que ao dar comigo me deixou o rabo a arder.

Curioso, agora que o menciono, a senhora que me traz os comprimidos a meio da tarde tem uns cabelos parecidos com os da minha mãe...

1 Comments:

Blogger Zeca Campos usou da palavra

ehehehe
o texto está cool.
Mas olha eu já não como bacalhau à muito tempo e agora não sei se o sabereu saboreado da próxima vez que tiver oportunidade.
Mas é a vida.
eheheeh

20 dezembro, 2005 03:56  

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