12 de abril de 2014

Gostas de Pedras e eu de Palavras

Gostas de pedras e eu de palavras.
Mesmo quando elas ressoam na
minha dolorosa cabeça que pensa.

Encontro-me agora soterrado na
diatribe exegética do amor em
estado fóssil de observação

e na orografia do teu olhar
encontro cumes íngremes
e vulcões ainda activos

ainda fumega a delicadeza
no teu olhar inquieto, a íris
recorta a paisagem com
a brandura dos sonhos
em que te metes e ainda
me pedes que faça o relato
fiel de todos os teus passos.

Gostaria das palavras, se fossem fáceis
mas as palavras são difíceis, meu amor
e falta tanto tempo para chegar ao cume,
onde se avista a paisagem da tua vida

Por agora, decifro no magma do teu sorriso
um desejo incandescente de percorrer a
cratera das dúvidas e dissipar as nuvens
pesadas do passado, chuva ácida na pele

No meu livro de horas, perscrutava sobre
as badanas dos silêncio e da morte em
goles suaves, para não afogar o encanto
do meu romance. O herói principal corria
desabridamente nas veredas do amor.

E eu, deixava-o deambular como um louco,
deixava que a personagem me tomasse e
passasse a ter vida própria, mais estimulante
e real que a minha. A caneta está a ficar sem
tinta e sinto que ainda tinha tanto para dizer.

Talvez no próximo capítulo fale do mar
e das rotas do vento, das enseadas de sonho
e dos cabos que recortam a costa arenosa.
Mas no preto desta tinta, já tenho de rasurar
várias vezes as palavras, que por isso ficam
gastas e grossas de tanto pisar nelas.

Fica-me a vontade...
oh! Acabou de vez a tinta!