11 de setembro de 2012

Um Só Nome

Acabou de se publicar
em caracteres Garamond
a biografia de um condenado

Fora condenado à vida
no silêncio das palavras
inquietas, em Garamond

Num papel couché de 80 gramas
liquefaz-se a existência da vida míope

andamos todos a brincar com o mundo
e a morte - sempre ela em meu redor -
para nos consignar à solidão do parágrafo.

Obra terminada. Fica agora no prelo
à espera de capa, ilustração, e um nome:
Um só nome para o título. Do autor

não reza a história. Na lombada, a tua
mão doce, que acaricia o futuro. Um
livro feito com palavras imperfeitas.

10 de setembro de 2012

Aqui Jazz

No meio dos escombros do teu olhar
a sinfonia maculada da morte. Finíssimos
espectros da medusa insalubre e sonsa.

Caíste de borco e em silêncio na praceta
dos fiéis defuntos. A tua solidariedade com
os pobres sempre foi nauseabunda.

Fiquei atónito perante as pétalas arrancadas
e atiradas para o charco plúmbeo dos
teus olhos. Fizeste-a bonita ao deixares
os papéis do IRS por preencher. Agora
o fisco, que vela por nós, vai condenar-te
ao inferno dos sempre revoltados e oprimidos.

Aqui jazz uma melopeia breve, cinco minutos
de piano, bateria e baixo. O teu sorriso, agora
esfacelado num esgar de dor e ciúme.

Por cima da urna, os votos de boas frestas.