26 de março de 2012

Mensagem do Dia Mundial do Teatro 2012 por John Malkovich

"Sinto-me honrado por ter sido convidado pelo Instituto Internacional de Teatro (ITI), órgão da UNESCO, para escrever esta mensagem, na comemoração do 50º aniversário do Dia Mundial do Teatro. Vou tecer os meus breves comentários aos meus companheiros trabalhadores de teatro, colegas e camaradas:

- Que a vossa arte seja atraente e original. 
- Que ela seja profunda, comovente, contemplativa e única. 
- Que ela nos possa ajudar a reflectir sobre a questão do que significa hoje o ser humano, e como essa reflexão pode ser acompanhada com o coração, a sinceridade, a franqueza e a graça. 
- Que possam superar a adversidade, a censura, a pobreza e o niilismo, como muitos de vós certamente terão de o fazer. 
- Que sejam abençoados com o talento e o rigor para nos ensinar sobre o bater do coração em toda a sua complexidade, e a humildade e curiosidade para fazer o trabalho das vossas vidas. 
E que o melhor de vós - para cada um será o melhor de si, e mesmo assim só nos momentos mais raros e mais breves - ter sucesso na hora de pensar a mais básica das perguntas: "Como é que vamos viver?" 
 Merda!!!

John Malkovich

(adaptação minha, a partir de uma tradução brasileira)

11 de março de 2012

Quadras Soltas

Uma súbita dor cava na mental exigência de se ser
ficar tolhido na casa de Inverno do luto de te ter
uma agonia assaz profícua no cerebelo da memória
prender as amarras do meu cais no teu barco ancorado

Andar de peito erguido e braço ao vento, levantado
para as musculaturas daquilo em que acreditamos
e exasperados pela noctívaga estação dos sentimentos
arrastamos a perfídia na saliva infinita das preces ruidosas

Ficar dorido no chão depois das botas cardadas
pisarem toda a aventura do acreditar em nós
ilusões imperfeitas, mas puras na raiva à solta
pelas pedras da calçada suja, cuspida e sangrada

E por lá ficamos, exangues, a estancar a solidão
sem remorso nem dúvidas do percurso traçado
mas inquietos pois é hora de levantar de novo
e soerguermo-nos na rua larga da esperança

Abraças-me e de seguida dás-me um beijo
prenhe de sangue, suor e sal. Um juramento
de irmãos na melodia agora doce do futuro.
Caminhamos agora sem rumo, silêncio afora.

7 de março de 2012

Ave-do-Paraíso

Como um pássaro que de mansinho voa
ela vai para os braços de Morfeu, em
Helénicos sonhos e amores gentis

E aos poucos, nesse vale de memórias,
espraia-se na hidrólise da matéria que
a abraça em novelos ondulantes

Como beija-flor, periquito, pombinho
delicado e doce, que chilreia no
meu ouvido uma música de encanto

ela esvoaça a inteligência sensorial
nos trajectos circulares da arte
e regista em imagens os delírios

E deixo-me embalar na toada
discreta e serena desta ave
sensível e mais-que-perfeita

no pretérito verbal da paixão
pela escrita imutável e fiel
no mais sereno silêncio.